Monday, December 29, 2008

Avoid!

Gomorra é uma bela porcaria, típico exemplo de produto "custom made". No sentido europeu da coisa: tudo é uma sucessão de takes longos, cortes abruptos, silêncios e muito sono. Ao contrário do que diz a publicidade oficial, a película é um Fernando Meirelles atrasado seis anos - e com sotaque napolitano.

Provavelmente, seus amigos "desligados" vão achar a produção sensacional. Desacretide-os: evite o filme e o livro.

>> 21st Century Life; Sam Sparro; OiFM (Stream)
>> As Cortes Constitucionais; Louis Favereu; Landy Editora

Saturday, December 27, 2008

Ai de ti, Copacabana


Surfando pela rede, encontrei essa foto de uma casa na Rua Saint Roman, em Copacabana, tirada em 1938. Anterior à degradação carioca, a foto seria impossível nos dias atuais. Explico-me.

A Saint Roman conecta os bairros de Copacabana e Ipanema, subindo pela Sá Ferreira. O endereço teria tudo para se manter aprazível, mas a realidade é diferente. A rua Saint Roman tornou-se a subida para o Morro do Cantagalo, na parte de Copa, e para o morro do Pavão, no lado ipanemense – onde uma imensa favela tomou conta dos dois morros.

A família da foto morava no numero 52. Informações imprecisas dão conta de que esta casa – e mais duas ou três – foram doadas a uma instituição de caridade da região. O motivo seria obter abatimento no Imposto de Renda e, assim, tentar auferir alguma vantagem em relação aos imóveis degradados. Curiosamente, são casas imensas, ultra confortáveis. Uma delas, inclusive, ostenta uma imponente lareira na sala de visitas que, por sua vez, é toda revestida com mármore importado.

Por óbvio, as casas perderam todo o valor e, hoje, seus proprietários simplesmente não conseguem sequer vendê-las. O mais incrível de tudo é que os casarões continuam por lá, imponentes e depreciados em meio ao fuzuê de vans, camelôs, lixo e a violência do tráfico carioca. Constantemente, ocorre falta de luz devido aos gatos elétricos e também por causa dos tiros dados nos transformadores a fim de os traficantes fugirem da polícia. Nas janelas e paredes dos casarões, as marcas de balas atestam a triste realidade de uma cidade abandonada.

>> Don't Let Go; Pacha Massive; OiFM (Stream)
>> Gomorra; Roberto Saviano; Bertrand Brasil

Friday, December 26, 2008

Awesoments


A incrível tabela periódica dos "impressionamentos". Exceto por um ou outro detalhe, tendo a concordar com as opções.

>> Coming Home Baby; Michael Bublé; OiFM (stream)
>> Gomorra; Roberto Saviano; Bertrand Brasil

Wednesday, December 24, 2008

2009



A meteorologia informa que, para os próximos sete dias, deve chover como sói. Deve chover nas viradas dos dias 24 e 31. Deve chover a semana toda. Chuvosos os feriados e a última semana do ano, portanto.

Uma chuva insistente e constante, dona de um bom cheiro de terra molhada. Sobre o assunto, Nicolás Barres, piloto de Villegagnon, escreveu na década de 1550, acerca do Brasil: “por aqui, chove no fim da tarde, mas no resto do dia faz o melhor tempo do mundo”. Apesar da chuva, os bons dias do verão brasileiro são um espetáculo impagável.

Aliados ao clima do final de ano, enchem de bom humor e de esperança. Dado ser o fim do ano, os dias tornam-se melhores – mesmo com chuva. Por algum motivo que me escapa, fico sempre de bom humor nessas épocas.

Hoje - véspera do Natal – nossa família deve celebrar com uma bela ceia. Cá em BSB, já que não viajamos, haverá luzes em nossa árvore. Não à toa, a data marca o (re)nascimento de muitas coisas e o Natal é uma festa nossa. Comemoramos, na verdade, nossas próprias alegrias e reflexões.

Desse modo, aprochegue-se dos seus e festeje. Que a vida seja boa e generosa com todos nós ao longo do ano; e que as tristezas inevitáveis sejam amenizadas por grandes alegrias e pequenas delicadezas. Que "Saúde!" seja mais do que um brinde, e que as contas fechem no fim do mês - não custa imaginar o sonho do dinheiro de sobra.

Para além da crise deste final de ano, há coisas a celebrar. Apesar de tudo, o Natal de 2008 não é muito diverso do primeiro Natal: no ano zero, vivia-se, também, uma crise de graves proporções – tão grande a ponto de o Rei mandar matar os pequeninos. Ainda assim, com toda a dificuldade, houve Natal. Portanto, celebremos a nossa existência. O mais importante é saber quão boa é a sensação de recomeçar.

Feliz Natal e Bom Ano Novo aos prezados. Que o ano nos seja doce e que tenhamos nossos nomes reescritos no livro da vida.

>>Warning Sign; Coldplay; A Rush of Blood to the Head
>> Brasil - A História Contada por Quem Viu; Jorge Caldeira (org.); Mameluco

Sunday, December 14, 2008

Os Outros: AI-5

"(DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL)
(À COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA)
Senhor Presidente:

Dando cumprimento ao despacho proferido pelo Sr. Ministro Relator nos autos da representação nº 786, do Sr. Procurador da República, venho solicitar, por intermédio de V. Exa., o pronunciamento dessa Câmara sobre se concede licença para que o Deputado Márcio Moreira Alves responda ao processo de que tratam os artigo 151 da Constituição e seu parágrafo único."
O Supremo Tribunal Federal solicita à Câmara dos Deputados licença para processar o deputado Marcio Moreira Alves, em 1968. Recrudescia a ditadura.

>> Strange Overtones; David Byrne & Brian Eno; Everything That Happens Will Happen Today
>> O Segundo Mundo; Parag Khanna; Intrínseca

Tuesday, December 09, 2008

Consolidare

Um curso de pós-graduação em Processo Legislativo tem me feito pensar bastante sobre as leis pátrias. Uma das idéias que mais me despertou interesse foi a consolidação legislativa brasileira. Aparentemente simples, o processo não é dos mais fáceis de digerir.

A Constituição de 1988, ao tratar sobre o processo legislativo, determinou a edição de uma lei complementar que dispusesse sobre “a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis”. A fim de cumprir tal determinação, o Congresso Nacional aprovou a Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, ditando as normas gerais e estabelecendo padrões para alcançar o objetivo proposto no Texto Magno.

A partir da entrada em vigor da Lei Complementar citada, desencadeou-se um processo objetivando a consolidação das leis brasileiras. Inicialmente, colaborou para tal fim a Subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República e dos Ministérios. Em momento posterior, o Congresso Nacional passou também a atuar nessa mesma tarefa. Para tanto, foi instituído, por exemplo, o Grupo de Trabalho de Consolidação das Leis (GTCL) na Câmara dos Deputados.

De forma genérica, o GTCL busca consolidar normas com objetivos idênticos, análogos ou conexos, a fim de eliminar eventuais divergências ou repetições, e, desse modo, conferir unidade e coerência ao corpo legislativo brasileiro. Aparentemente simples, o trabalho detém relevante importância para o país.

Ao contrário do que pensa o senso comum, a legislação pátria é de enorme importância para o desenvolvimento nacional. Nesse sentido, quanto mais inacessíveis forem as leis nacionais, maior será a dificuldade de entendimento legal/institucional no Brasil. Portanto, o objetivo precípuo do trabalho de consolidação é exatamente modernizar o conjunto das leis nacionais e, assim, possibilitar uma uniformidade ainda não alcançada pela tessitura social brasileira. País moderno e em desenvolvimento, o Brasil não deve estar submetido a uma quantidade exagerada de leis.

Sobre esse tema, dados os muitos vícios decorrentes da grande quantidade de leis, algumas merecem especial destaque. Por exemplo, oriunda do regime militar, a lei 4.494, de 1964, reguladora da locação de prédios urbanos, trazia uma norma de interesse no mínimo excêntrico. Hoje revogada, a Lei dispunha, em seu artigo 38, o seguinte texto:

“Art. 38 – O fator K, referido no art. 25 é expresso pela fórmula:
K = _____C_____
120 – D
cujos termos C e D foram definidos no mesmo art. 25”

Exemplo ainda mais desconfortante, na seção I do Diário Oficial de sexta-feira, 29 de janeiro de 1999, pode-se ler o texto da Lei nº 9.783, datada da véspera, que “dispõe sobre a contribuição para o custeio da Previdência Social dos servidores públicos ativos e inativos e dos pensionistas dos três Poderes da União e dá outras providências”. O art. 1º fixa essa contribuição em 11% e o art. 6º prescreve: “As contribuições previstas nesta lei serão exigidas a partir de 1º de maio de 1999 e, até tal data, fica mantida a contribuição de que trata a Lei nº 9.630, de 23 de abril de 1998”. E, a seguir, dispõe o art. 8o: “Revoga-se a Lei nº 9.630, de 23 de abril de 1998”. Conforme o texto, estabelece-se um desafio: cobrar uma contribuição que deixou de existir .

Em decorrência desses tipos de equívoco, surgiu a Lei Complementar 95/98 e, por conseqüência, a idéia da consolidação das leis. Conforme afirmado acima, tanto a Lei Complementar como o GTCL intentam erradicar as imprecisões e impedir o surgimento de novos erros.

Vale ressaltar, porém, que tais problemas não são especificamente brasileiros . A fim de corrigir a desordem jurídica em face da fragmentação do sistema legal, a experiência estrangeira tem contribuído na propositura de muitas fórmulas de reorganização e saneamento do corpo legislativo. Grosso modo, códigos e consolidações são os modelos básicos de arrumação.

O modelo da Inglaterra é particularmente interessante neste caso. País cujo direito é parcamente codificado, a Grã-Bretanha possui um dos mais bem acabados modelos de consolidação legislativa. A inglesa consolidation constitui fórmula de eliminar a pluralidade de textos legais, antigos e mal coordenados entre si, substituindo-os por um único texto sem, porém, introduzir alterações substanciais na legislação. Pode-se, por exemplo, alterar enunciados ou corrigir antinomias - sempre que o significado não se altere.

Por meio dessa experiência do direito comparado, em termos de técnica legislativa, nossa prática em consolidação legal ganhou grande importância. Especialmente quando considerado que a demanda contemporânea não mais perpassa pela grande quantidade de leis, mas sim pela produção de melhores leis.

Embora esse pareça ser um objetivo simples, a produção de boas leis é um dos maiores obstáculos à inclusão de um país na modernidade. Dessa forma, decorre daí a extrema relevância do trabalho de consolidação legislativa: reunir, racionalizar, modernizar e tornar acessível o conjunto de atos que conformam o ordenamento jurídico pátrio.

Acima de tudo, o Poder Legislativo deve buscar a simplificação da vida cotidiana. Por isso, como advertiu o jornalista Prudente de Moraes Neto, o Legislativo não pode “recomendar-se pelo número de projetos que elabore ou pela rapidez com que os produza” . Ao contrário, “às vezes, a maior virtude de um parlamento está precisamente no número de projetos que elimina ou que depura, que corrige ou que substituiu”. De tal recomendação, também emanam as atuação e necessidade da consolidação legislativa.

>> Colony; Joy Division; Closer
>> Deogratias; J. P. Stassen; First Second

Saturday, December 06, 2008

In Perpetuum

Indesculpável o esquecimento, fica o registro: ontem, em 5 de dezembro de 1891, morria o monarca Pedro II. No exílio parisiense, o Imperador faleceu sem nunca dizer uma palavra contra o Brasil.

>> Let's Impeach the President; Neil Young; Living With War
>> Deu no New York Times; Larry Roth; Objetiva

Monday, December 01, 2008

Capitulina

Você já deve ter lido as notícias, mas vou comentar mesmo assim. Ao que parece, a Globo está produzindo uma adaptação pós-moderna e ultra-caprichada do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis.

Segundo o falatório geral, a série será uma mistura de Hoje é Dia de Maria com Marie Antoinette, de Sofia Copolla. Ou seja, visual arrojado, com linguagem de teatro e trilha sonora contemporânea. Imperdível, portanto.

Logo abaixo, segue um teaser liberado pelos produtores do seriado. Para quem gosta do velho Machadão, parece ser um prato cheio.

Capitu teaser na íntegra high quality


>> Martha; Tom Waits; The Asylum Years
>> Deu no New York Times; Larry Rohter; Objetiva

Tuesday, November 18, 2008

???

Algo de realmente estranho acontecerá caso Barack Obama nomeie Hillary Clinton para a Secretaria de Estado: o Presidente eleito viverá o contra-sensso de ter ganho a eleição, mas perdido a presidência. Seria, literalmente, um tiro no pé.

>> Mysterious Ways; U2; The Best & The B-Sides Of 1990
>> Black Swan

Wednesday, November 12, 2008

Hora do Almoço


Esta semana, no site da Stratfor, os prezados analistas fazem uma afirmação interessante: chegou a hora de semear a safra no hemisfério sul... e o dinheiro sumiu. Ou seja, para “apimentar” os já terríveis cenários, há grande probabilidade de faltar comida no futuro próximo: a semeadura de novas safras é particularmente intensiva em capital e requer aos fazendeiros que obtenham grandes financiamentos para adquirir, por exemplo, fertilizantes e sementes. Sem dinheiro, não há plantação.

Além disso, o preço dos grãos permanece baixo neste mês, pressionado, sobretudo, pela crise global e pelos sinais de recessão que já começam a abater a demanda. O contexto piora quando se lembra que os baixos preços só não caem mais por causa de movimentos especulativos de compra e venda das commodities – atividade que não deve perdurar por muito tempo. Malgrado os preços ainda estejam acima daqueles praticados em 2006, deve-se considerar que, a se manter a queda, muitos fazendeiros serão seriamente prejudicados.

Para além de todos os problemas, os preços baixos são apenas um dos elementos negativos. Com os altos custos dos insumos, muitos fazendeiros estão vendo seus lucros –normalmente baixos – desaparecerem inteiramente. Nesse quadro, os fertilizantes são a maior dúvida: apesar da redução no preço do petróleo e seus derivados – e de haver previsão de queda no preço dos fertilizantes em 2009 – a cotação dos adubos ainda não caiu como se esperava. E, como dito anteriormente, a hora de plantar é agora, não no ano que vem.

O assunto fica ainda pior ao final do ciclo: sem conseguir plantar, os fazendeiros não terão o que colher; perdida a colheita, não há o que vender; sem a venda, o mundo fica privado de comida e os bancos perdem os empréstimos feitos aos fazendeiros. Chega-se, assim, a um dos paradoxos chestertonianos: não há dinheiro agora porque não haverá o que receber no ano que vem; não haverá o que receber em 2009 porque não há dinheiro agora. Bem-vindo ao século XXI.

Assim como tudo referente ao campo, a necessidade de crédito segue um ciclo sazonal. Tal ciclo torna-se um problema conforme o aperto creditício encontra a estação de semeadura no sul do planeta: sementes, fertilizantes, pesticidas, máquinas, tudo custa muito dinheiro.

Aqui no Brasil já são sentidos alguns sérios problemas em relação ao crédito agrícola, especialmente pelo fato de os empréstimos estarem encolhendo para o setor rural. Reduções financeiras levaram à queda nas vendas de fertilizantes e equipamentos. Em recente debate que assisti na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, industriais do setor de adubos afirmaram que a produção no campo, como um todo, deve sofrer intensa redução em 2009

Sobretudo, os danos sofridos pelos fazendeiros não devem parar por aí. Se as tendências forem mantidas, conforme falei acima, a estação de 2008/2009 pode ser marcada por reduções expressivas nas safras – um fator que contribuiria sobremaneira para a mais assustadora das previsões: uma nova rodada de aumento nos preços de alimentos, inserida no contexto de provável, e dura, recessão planetária.

Por certo, os governos têm seus estoques reguladores a fim de manter alguma paridade. Entretanto, por maiores que sejam tais armazéns, há limites temporais e espaciais para a manutenção de alimentos estocados. Ademais, a vida moderna pressiona em demasia o conjunto de fatores: hoje, urbanos que somos, praticamente não temos mais aquele tio da roça que traz leite, ovos, alguns legumes e carne toda semana. Compramos comida no Carrefour e pronto. Em um ambiente recessivo, sem emprego e sem comida... sabe-se lá como ficaríamos.

>> All I Need; Radiohead; In Rainbows
>> Zen And The Art Of Motorcycle Maintenance; Robert M. Pirsig; Library of Congress

Tuesday, November 11, 2008

There's No One As Irish As Barack Obama



>> All Over; Paula Toller; Só Nós
>> Zen And The Art Of Motorcycle Maintenance; Robert M. Pirsig; Library of Congress

Wednesday, November 05, 2008

Hail, Hail, Obama

Augusto dos Anjos - Vandalismo

"Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.

Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos ...

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!"
>> Tom Sawer; Rush; Exit... Stage Left
>> The Black Swan; Nassim Nicholas Taleb; Penguin

Monday, November 03, 2008

+ Shakespeare

"Life's but a walking shadow, a poor player
That struts and frets his hour upon the stage
And then is heard no more: it is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing."
William Shakespeare: Macbeth, Ato 5, cena 5.

>> Ilusión; Julieta Venegas & Marisa Monte; MTV Unplugged: Julieta Venegas (Live)
>> The Black Swan; Nassim Nicholas Taleb; Penguin

Friday, October 31, 2008

Gonzo Kitchen: Filé Pistache

Em um domingo modorrento, vá para as panelas e tente. Vale o esforço.

Ingredientes:
- Um belo punhado de pistaches
- Azeite (ou manteiga)
- Orégano
- Tomilho
- Bife (ou medalhão) de filé. Eu prefiro o medalhão, não muito grosso e um pouco mais alto do que o comum.
- Vinho tinto seco
- Arroz arbóreo (de risoto)
- Caldo de carne (daquele de cubos)
- Queijo Brie
- Funghi
- Alho (ou Arisco)

A crosta: descasque os pistaches (a qualidade dos grãos é fundamental), jogando-os em uma caneca grossa. Sove-os com um pilão de caipirinha até reduzir à tocos bem pequenos. Misture um tanto de orégano e tomilho. Uma colher de chá (bem cheia) de azeite. Misture bem.

O tempero do bife: temperei com Arisco (do potinho) e pimenta calabresa. Despeje um dedo de vinho tinto em um prato fundo e deixe a carne descansar enquanto você prepara o risoto.

Risoto negro: aqueça água. Dissolva o funghi na água fervente. Separe. Você vai fazer o arroz na água do funghi, adicionando os pedaços ao final do preparo do arroz. Sugiro alho picado, pimenta calabresa, vinho e azeite. Mexa até que o arroz absorva tudo. Ao final, se quiser uma liga a mais, adicione um pouco do Brie.

O bife: frite-o. Após frito, ponha sobre uma tábua e coloque uns 2mm ou 3mm da crosta. Volte-os para frigideira quente, deixe uns instantes e pronto (cuidado a crosta queima fácil)

Ponha tudo num prato e assovie “La Vie en Rose”.

>> Carolina On My Mind; James Taylor; The Bridge School Collection, Vol. 1 (Live)
>> Teoría General del Estado; R. Carré de Malberg; Fondo de Cultura Económica - México

Monday, October 27, 2008

Gardel

Conforme escrevi aqui, alguns posts atrás, a Argentina começou a tomar suas medidas em relação ao impacto da crise econômica no cone sul. Nas palavras do ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, foi deflagrada uma forte operação protecionista em Buenos Aires, naturalmente dirigida contra o Brasil. Infelizmente, não é boa a sensação de estar certo.

>> Lips Like Sugar; Echo & The Bunnymen; Echo & The Bunnymen
>> Teoría General del Estado; R. Carré de Malberg; Fondo de Cultura Económica - México

Friday, October 24, 2008

Os Outros: William Shakespeare

"This day is called the feast of Crispian:
He that outlives this day, and comes safe home,
Will stand a tip-toe when the day is named,
And rouse him at the name of Crispian.
He that shall live this day, and see old age,
Will yearly on the vigil feast his neighbours,
And say 'To-morrow is Saint Crispian:'
Then will he strip his sleeve and show his scars.
And say 'These wounds I had on Crispin's day.'
Old men forget: yet all shall be forgot,
But he'll remember with advantages
What feats he did that day: then shall our names.
Familiar in his mouth as household words
Harry the king, Bedford and Exeter,
Warwick and Talbot, Salisbury and Gloucester,
Be in their flowing cups freshly remember'd.
This story shall the good man teach his son;
And Crispin Crispian shall ne'er go by,
From this day to the ending of the world,
But we in it shall be remember'd;
We few, we happy few, we band of brothers;
For he to-day that sheds his blood with me
Shall be my brother; be he ne'er so vile,
This day shall gentle his condition:
And gentlemen in England now a-bed
Shall think themselves accursed they were not here,
And hold their manhoods cheap whiles any speaks
That fought with us upon Saint Crispin's day"
Henrique V, de William Shakespeare. Supostamente escrito em 1599, narra os eventos imediatamente anteriores e posteriores à Batalha de Agrincourt, na Guerra dos Cem Anos. Dispensa comentários.

>> April Skies; The Jesus and Mary Chain; Singles
>> Teoría General del Estado; R. Carré de Malberg; Fondo de Cultura Económica - México

Saturday, October 18, 2008

Stand By Me


Desde o começo da crise financeira, os investidores têm abandonado os mercados do Terceiro Mundo e procurado guarida no pretenso porto seguro representado pelos EUA. No caso do Brasil – que abriga o mais dinâmico centro financeiro da América sulina -, esse efeito tem causado graves conseqüências: a rápida desvalorização do Real frente ao Dólar é um dos exemplos.

Apesar de o verdadeiro impacto na economia brasileira ser ainda difícil de mensurar, analistas têm afirmado que o tamanho do buraco pode chegar a cerca de 28 bilhões de dólares. Em sua maior parte, esse numero deve-se a investidores que apostaram no Real e estão sangrando com a alta da moeda norte-americana. No médio prazo, o Brasil pode até se recuperar do problema, dadas as reservas petrolíferas recentemente descobertas e a grande diversificação da economia. O impacto regional dessa queda, no entanto, pode não desaparecer tão cedo – o que é de suma importância para a Argentina, um grande parceiro do Brasil.

Atualmente, a Argentina está atada a um taxa em torno de 3,2 Pesos argentinos para cada dólar. Assim, quanto maior a queda do Real frente à moeda estadunidense, maior a desvalorização de nossa moeda frente ao Peso. Embora essa mecânica seja positiva aos importadores argentinos, é grande o desastre junto aos importantes setores exportadores portenhos: o Brasil é responsável por 24% das exportações argentinas, e esses números representam algo perto de 13% do orçamento governamental.

Com o inesperado impacto do Peso em relação ao Real, nosso país terá de pagar muito mais pelas mesmas importações, praticamente inviabilizando o comércio Brasília-Buenos Aires. No outro lado da balança, o pais portenho – que vê sua participação mundial declinar após alguns anos de breve recuperação – encontra-se mal posicionado para absorver os impactos de exportações em queda.

A agricultura, nesse cenário, é o setor mais critico, no sentido de que o declinante mercado exterior tende a não encontrar saídas que compensem eventuais perdas. Dessa forma, tanto o comércio quanto a produção agrícolas poderiam retroceder – trazendo efeitos ainda mais devastadores ao combalido mercado argentino. Em um contexto de falta de alimentos, ainda que Buenos Aires opte por importar comida brasileira, a diferença cambial tornaria tal política sem efeito. Forçando, assim, assustadoras hipóteses de ausência de alimentos, queda nos lucros e risco de potenciais crises na economia como um todo. Conforme o antigo ditado popular: onde falta pão, há confusão.

Para além de todas essas dificuldades, à economia portenha facultaria tentar redirecionar-se em busca de novos parceiros. Entretanto, alterar relações comerciais não é algo que ocorra da noite para o dia – e a redução da economia global não iria ajudar no processo. Ademais, uma mudança de tamanha envergadura na pauta de exportações implicaria ampla base creditícia, elemento que a Argentina não detêm já a algum tempo.

Poder-se-ia, ainda, tentar ajustar o câmbio em favor de uma melhor relação com o Real. Todavia, tal política parece sobremaneira fadada à destruir os números governamentais. Basta, nesse caso, lembrar dos desastrosos impactos da manutenção do Peso valorizado frente ao Dólar no final do século passado.

Portanto, o que você faria se estivesse sentado dentro da Casa Rosada nesse momento? Na velha piada política, escrever a terceira carta parece ser o conselho mais sensato: são muito limitadas as opções do governo Kirchner, ao mesmo tempo em que o apoio popular parece tender à erosão tão logo uma crise se acirre.

No exemplo do Brasil, o resultado de todo esse cenário é ainda difícil de medir: os fundamentos econômicos brasileiros, apesar de tudo, são sólidos - malgrado alguns lamentos prenunciados pela crise financeira. Buenos Aires, por outro lado, pode estar diante de uma potencial desestabilização que, a meu ver, o governo populista “kirchneriano” não terá como suportar. Lamentavelmente, nada poderia ser mais próximo de um tango de Gardel.

>> Cemeteries of London; Coldplay; Viva La Vida
>> Música ...; André Midani; ...

Monday, October 13, 2008

A César o que é de César

Prezados, seguem abaixo links para três vídeos que exemplificam porque o Brasil será um país totalmente diferente em futuro próximo. Grosso modo, a tríade dos filmetes lida com o tema das lideranças evangélicas e, em conjunto, trata de uma recente briga ocorrida no meio.

Ao final dos filmes, percebe-se que a fé é o assunto menos discutido pelas ditas “lideranças”. Se você tiver paciência, poderá perceber que os maiores interesses dos grandes grupos religiosos da nação são tempo de TV, participação partidária e dinheiro.

Sobre esse assunto, a PUC do Rio de Janeiro lançou, recentemente, um primoroso estudo chamado “Atlas da Filiação Religiosa e Indicadores Sociais no Brasil”. Por meio de pesquisas sociais e antropológicas, os autores do livro determinam a intensidade, os caminhos e os resultados da penetração dos grupos não-católicos numa população que, no início do século XX, declarava-se 99% católica e hoje foi reduzida para cerca de 74%. Ao contrário do que parte de nossa oligarquia política pensa, o país mudou muito. Não necessariamente para melhor.

Filme 1 - Filme 2 - Filme 3

>> Viernes 3 Am; Paralamas do Sucesso; Hey Nana
>> Música, Ídolos e Poder: do Vinil ao Download; André Midani; Nova Fronteira

Wednesday, October 08, 2008

Ao Mar

"Não, não temos certeza se estaremos de volta às três, nem se haverá baleias e nem mesmo se voltaremos, se é que algum viajante retorna, isto aqui é o mar, ó pá, não temos certeza de nada"
Frase do capitão português que transportava a nobre Adriana Calcanhoto em recente viagem ao país lusitano. Recém lançadas, são promissoras as memórias autobiográficas da cantora.

>> Smells Like Teen Spirit; Nirvana; In Utero
>> Black Music; Arthur Dapieve; Objetiva

Atualização: você encontra um capítulo do livro aqui.

Sunday, October 05, 2008

Yes, Nós Temos Pingüins

No calor das eleições, você não deve ter percebido que nosso pais enviou um grupo de pingüins de volta para casa, tudo pago pela viúva. Isso mesmo, nos dias que correm, há um país de primeiro mundo abaixo do Equador.

A fim de provar meu argumento, segue a foto abaixo: a estética dos pesquisadores brasileiros - seus óculos e camisas - faz pensar que Venice Beach é um vilarejo Tupinambá. Bom viver por aqui: nunca antes na história desse país pingüins voaram de volta para casa às custas do governo.


O engraçado é que, ainda hoje, assistindo a uma reprise do Profissão Repórter, descobri o verdadeiro preço do serviço aéreo brasileiro. Um patrício garimpeiro – buscando voar dez minutos na selva amazônica – desembolsa algo em torno de R$ 400,00 em gramas de ouro. Pois é, dez minutos em um bisonho monomotor, sem seguro, pista de asfalto ou supervisão da ANAC custa o mesmo que planar Rio-Brasília sem escalas. E, o pior, essa situação não é exclusiva do amazonas.

Conforme muitos de vocês sabem, trabalho na Câmara dos Deputados. Por cá, cansei de ver pessoas que vêm para Brasília e não têm como voltar para casa. Em sua maior parte, esses indivíduos chegam aqui – pasmem – em busca de atendimento médico. Muitos advém das grandes capitais brasileiras e, geralmente, perambulam pelo planalto até conseguirem voltar para sua terra. Em muitos casos, os Deputados tentam ajudar e costumam contribuir do próprio bolso com a passagem dessas tristes almas. Infelizmente, o resultado é quase sempre inútil frente ao número dos que continuam chegando.

Ao mesmo tempo, o governo de pindorama remete uma trupe de pingüins – via primeira classe e com direito a superalimentação - de volta para casa. Não à toa, os prezados do Gizmodo sugerem a venda dessa inusitada aventura aos estúdios de Hollywood. Talvez, daqui a alguns anos, tenhamos um exemplar de Carmem Miranda a imitar o simpático Happy Feet. Nunca antes na história desse pais...

>> Pretty Persuasion; R.E.M.; Reckoning
>> Black Music; Arthur Dapieve; Objetiva

Saturday, October 04, 2008

Cassandras


Pois é, passou a semana e o mundo não acabou. Apesar de todas as previsões catastróficas e da torcida velada de muitos anti-americanos, os nobres Estados Unidos da America do Norte ainda não sucumbiram frente ao que se poderia chamar de “autofagia financeira”.

Obviamente, a indústria de crédito está com grandes problemas em todo o mundo. Entretanto, o capitalismo possui a estranha característica de resolver seus problemas por meio da aniquilação dos ineficientes: “destruição criativa”, “seleção natural”, “a mão invisível”, diriam uns e outros. Qualquer que seja o mecanismo, a mudança é sempre dolorosa, principalmente para aqueles que estão no olho do furacão. Nesse sentido, é interesse notar a maneira insensata/ingênua pela qual instituições ilibadas como a Merrill Lynch deixaram-se levar. Talvez por isso, ao final do processo, algo novo irá tomar o lugar de tais empresas.

De qualquer forma, o terremoto será grande. Muito dinheiro é perdido quando esse tipo de atividade ocorre, por exemplo, em setores como a indústria da computação: vidas são arruinadas e ex-bilionários passam a procurar emprego como digitadores, apenas para dizer o mínimo. Quando, no entanto, acontece o mesmo no setor financeiro, as preocupações são maiores e largamente conhecidas. Hoje, como todos sabem, o medo é que a crise creditícia se espalhe para a vida real.

Do meu ponto de vista, o mais relevante é saber se essas rachaduras irão desestabilizar as estruturas fundamentais dos Estados Unidos. Creio, sinceramente, que a resposta é negativa. Embora com algumas alterações aqui e ali, as coisas acima do Rio Grande devem manter-se pouco modificadas. De certa forma, o inicial veto da Câmara ilustra o que escrevo: apesar do tremendo atasqueiro, as nobres senhoras e senhores Deputados preferiram manter-se atadas a seus princípios, ao invés de chancelar - sem debate - um plano mais do que suspeito.

As cassandras poderão dizer: mané, os gringos estão mais do que lascados, basta olhar os números do desemprego, por exemplo. É verdade, diria eu, os dados são realmente altos. Todavia, apesar de o desemprego ter subido, os valores estão ainda muito distantes dos dramáticos números vistos no final da década de 70 e nos anos 80.

Por certo, a indústria financeira está com um enorme problema. Porém, o sistema financeiro – como um todo – não vive as mesmas dores que experimenta, por exemplo, um ex-empregado do Lehman. A meu ver, até agora, a crise é mais especulativa do que real. A conclusão é óbvia: muitas empresas de crédito estão com problema, mas o sistema propriamente dito está em dificuldade muito menor quando comparado com tais empresas. De minha parte, a luz vermelha acenderia caso o Sr. Paulson estivesse dizendo: acabou o brioche! Felizmente, não chegamos a tanto: há dinheiro da boa e velha viúva para sustentar alguns filhos malcriados.

As recessões e quebradeiras anteriores vieram e foram embora – e a vida seguiu seu curso. Malgrado as terríveis manchetes nos jornais, não há motivo para pensar que dessa vez será diferente. Pode-se odiar ser um empregado de alguma empresa em dificuldade atualmente, mas já enfrentamos coisas muito piores e perseveramos.

Era terrível ser um fabricante de mainframes em 1980, horrível possuir uma empresa de internet em 1999 e assustador estar na “rua da parede” hoje. Entretanto, tudo isso não é o mesmo que atestar o colapso da civilização como a conhecemos.

>> Wonder; Embrace; Radio Edit
>> Disgrace; J. M. Coetzee; Penguin

Thursday, October 02, 2008

Julius Augustus Caesar


A Economist montou uma página por meio da qual é possível votar no candidato a Presidente dos Estados Unidos. Na paródia, a votação é global e, por hora, vence o candidato Democrata - de lavada, diga-se. Conforme os números do site, McCain ganha apenas na Macedônia (sic).

Você mesmo, inclusive, pode deixar seu simpático votinho. Portanto, vá lá e vote. Afinal, sabe como é: quatro anos é muito tempo.

>> London Calling; The Clash; London Calling
>> Disgrace; J. M. Coetzee; Penguin

Tuesday, September 30, 2008

Fed For Sale

.dededddsdas

Aparentemente, mantidas as condições de temperatura e pressão, daqui a pouco alguém terá que bail out o Banco Central Americano. De modo inusitado, a instituição aparenta estar se tornando... ilíquida.

Portanto, segurem suas apostas senhores: ainda estamos na terça-feira. E o Presidente Bush vai falar daqui a pouco.

>> A Horse With No Name; America; Single
>> RICD; CD; CD

Monday, September 29, 2008

Os Outros: Drummond

"Elegia 1938

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan."

Ao que parece, o Congresso dos EUA disse para Wall Street: drop dead. Ainda é impossível medir extamente os desdobramentos dos eventos recentes. Entretanto, é possível que algo no mundo como o conhecemos deve ter deixado de existir na tarde de hoje.

Fico cá, com meus botões, pensando: e se Bin Laden e seus valorosos amigos resolvessem que é hora de outro ataque terrorista, aos moldes do 11/09? Dinamitar Manhattan, talvez...

>> When All's Well; Everything But The Girl; Best of ebtg
>> A Constituição Norte-Americana; Goldwin & Schambra; Forense Universitária

Sunday, September 28, 2008

XM25

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Faz pouco tempo, li na internet que o exército americano desenvolveu um novo lançador de granadas cujos explosivos disparam somente quando estão sobre o alvo. Por meio de um sofisticado sistema de controle sem fio, cada “bala” pode ser programada para explodir no momento cuja destruição seja mais eficaz. Desse modo, conforme atesta o fabricante da arma, os soldados poderiam abater inimigos através – ou em volta - de obstáculos.

Conforme o esquema abaixo, o sistema de disparo utiliza-se de scanner termal, mira laser, mira convencional, luz infra-vermelha e – ao que parece – um compasso. Tudo isso para medir exatamente a distância do alvo e, por meio de uma conexão sem fio, programar cada uma das granadas a fim de que explodam perto do objetivo.


Na opinião do exército, tal dispositivo infligiria máximo poder de destruição e mínimo risco colateral. Assim, por exemplo, se houver um atirador escondido em uma trincheira, o soldado pode programar as granadas para que explodam exatamente sobre o sniper.

Ao custo de vinte e cinco mil dólares por arma, mais $25 por cada granada “wi-fi”, o dispositivo despertou uma dúvida na minha cabeça: algo deve estar profundamente equivocado com um exército que arquiteta armas aos moldes das usadas por Tom “Magnun” Selleck naquele horroroso filme “Runaway”. Na película, o personagem de Selleck vivia atrás de umas arminhas que disparavam balas em função da análise de temperatura do alvo, atingindo somente esta pessoa específica.

Fico pensando, os generais americanos não devem ter aprendido nada sobre a guerra moderna. Até o soldado mais fedorento sabe que uma arma não confiável é a melhor passagem de volta para casa – o tag no pé e o caixão incluídos. Todo engenheiro, por sua vez, sabe que tanto mais complicado o design, maior as chances de falha do mecanismo, especialmente em novos produtos.

Não pode dar certo, portanto, uma arma que depende de tantos e tão sofisticados apetrechos - principalmente se considerarmos que estes irão funcionar em zonas altamente instáveis como áreas de conflito. Surge a piada, então: o US Army gasta $25.000,00 por cada arma e um maltrapilho terrorista afegão, munido de um simplório walkie talk Motorola, consegue fazer com que as tais granadas explodam sobre a cabeça dos próprios americanos.

>> Wake Up This Morning; A3; Sopranos Soundtrack
>> Disgrace; J. M. Coetzee; Penguin

Thursday, September 25, 2008

Paulson

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Jessica Hagy, no Indexed.

>> Ciranda Praieira; Lenine; Labiata
>> Processo Constitucional de Formação das Leis; Zé Afonso; Malheiros

Saturday, September 20, 2008

Os Outros: Fernando Pessoa


"Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.

Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.

Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo…

(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).

Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio."
>> Song to the Siren; This Mortal coil; It'll End in Tears
>> Direito Constitucional Esquematizado; Pedro Lenza; Saraiva

Thursday, September 18, 2008

Speedster 2

Os senhores Paulo e Gregório parecem ter retomado a ritmo diário de postagens. Ceteris paribus, algo deve ter melhorado.


>> All the Way Home; Bruce Springsteen; Devils & Dust
>> Técnica Legislativa; Kildare G. Carvalho; Del Rey

Wednesday, September 17, 2008

Speedster

Sugiro que a quantidade de posts publicados nos blogs do Greg e do Paul sirva como parâmetro para a intensidade da crise financeira. Conforme o medidor "feltrinômico", quanto maior a crise, menor a quantidade de mensagens veiculados pelo dois eminentes economistas. A coisa deve estar realmente feia por lá.

>> Rádio Câmara
>> Raciocínio Lógico; Ponto dos Concursos

Tuesday, September 16, 2008

Misunderestimated

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George W., conforme a visão do nobre Oliver Stone. O trailer promete um daqueles filmes aos quais você assiste no cinema, compra o DVD, vê novamente na HBO, revê trechos na Tela Quente e, talvez em 2018, comente quando passar na Sessão da Tarde.

>> Beethoven: Symphony #6 In F, Op. 68, "Pastoral" - 3. Allegro; Mark Ermler; Royal Philarmonic Orchestra; Beethoven: Symphony #6, Egmont Overture
>> Aspectos do Direito Constitucional Contemporâneo; Manoel Gonçalves Ferreira Filho; Saraiva

Sunday, September 14, 2008

Yankee Go Home!

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Subitamente, a América Latina tornou-se uma região muito interessante na política internacional. Tanto no âmbito doméstico quanto no geopolítico, temas importantes passaram a fazer parte da pauta regional.

É óbvio que os eventos atuais não são de todo novos. Todavia, o lugar comum é irresistível: em tempos de crise entre as grandes potências, assuntos locais tornam-se latentes em razão do “conflito” internacional. Dessa forma, as alterações na relação russo-estadunidense reverberaram em áreas antes esquecidas. Não poderia ser diferente na região sul-americana.

Nesse sentido, dentro do contexto de múltiplas e simultâneas mudanças ao redor do mundo, continuo acreditando que a América Latina merece especial atenção nos dias que correm. Faz muito tempo, perdemos o êxtase em termos de política internacional. Hoje, entretanto, o continente tornou-se área de fundamental importância para o planeta. Vamos por partes:

. Bolívia: o pais andino sinaliza estar próximo de uma guerra civil, com as potências regionais – particularmente o Brasil – desconfortáveis em relação aos eventos recentes. No tabuleiro boliviano, Morales parece sofre pressões com o objetivo de abafar o crescente antagonismo ao Tio Sam. Nesse imbróglio, o Brasil, infelizmente, é chamado a servir como “algodão entre cristais – uma função que não nos deveria ser própria. Os Russos, por sua vez, parecem manejar a crise em favor de criar contratempos momentâneos à Washington.

. Venezuela + Rússia: os dois países estão a aproximar-se. Apesar de as implicações militares serem triviais até agora, a chegada de um grande patrocinador energiza a megalomania do Presidente Hugo Chávez. Creio ser recomendável observar o comportamento das companhias estrangeiras na Venezuela e as opções de colaboração de longo prazo deste país.

. Colômbia: as Farcs sempre fizeram questão de manter laços com Cuba e com os Soviéticos. Os líderes revolucionários ainda vivos podem ter contatos ativos com esses dois países. Assim, creio ser sensato imaginar uma eventual colaboração vermelha aos revolucionários colombianos – talvez com o intuito de apenas “sacudir” a posição norte-americana no país do Presidente Uribe. A meu ver, tal participação russa dependerá de quanto os EUA estão dispostos a agir na região da antiga União Soviética.

. Rússia: o comportamento russo na América sulina, hoje reduzido, merece ser observado. Grosso modo, vale analisar a eventual retomada de antigas amizades com a parte irresponsável da esquerda latino-americana. Alguns setores ambiciosos podem render-se às generosidades alienígenas. Dessa forma, cumpre observar a Argentina, o Chile e o próprio Brasil – tradicionais grandes alvos nesse tipo de estratégia.

>> On A Tuesday In Amsterdam Long Ago; Counting Crows; Saturday Nights & Sunday Mornings
>> Visões do Brasil; Rubens Ricupero; Record

P.s.: foto do Josias

Thursday, September 11, 2008

September 11



>> These Days; R.E.M.; iTunes Originals
>> Do Contrato Social; Jean-Jacques Rousseau; Domínio Público

Monday, September 08, 2008

Xadrez

Conforme falei, alguns posts atrás, a Rússia começa a movimentar-se no tabuleiro.


>> Eu Não Quero Brigar; Frejat; Intimidade Entre Estranhos
>> Técnica Legislativa; Kildare Carvalho; DelRey

Saturday, September 06, 2008

Alvíssaras, Meu Capitão: Óleo à Vista*

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Os meios diplomáticos e políticos estiveram agitados esta semana: segundo o Ministro Edson Lobão, o Brasil rejeitou uma proposta iraniana para ingressar na OPEP. Como todos vocês sabem, nosso país tornou-se o mais recente maná energético do planeta. Entretanto, para efetivamente tornar-se um “top dog” petrolífero, o Brasil precisa de imensos investimentos em teconologia, além de grandes somas de dinheiro a fim de financiar a nova bacia do pré-sal. Ao que parece, uma eventual assossiação à OPEP tenderia a eliminar qualquer chance de que esse tipo de parceria em investimentos e teconologia aportasse em nossas águas.

O óleo pré-salino é de difícil extração, recomendando, portanto, elevadíssimos aportes tecnológicos. À guisa de exemplo, somente no que diz respeito à acessibildiade dos depósitos, as teconologias necessárias estão, ainda, na manjedoura.

Malgrado a Petrobrás seja, talvez, a estatal energética mais bem gerida do planeta, não poderia ela sozinha avançar em um projeto de tamanhas dimensões. A complexidade tecnológica e financeira da empreitada requer tanta colaboração quanto possível. Felizmente, a necesssidade dessas alianças parece ter clareado a cabeça iluminada de nossos dirigentes e, assim, tornando possivel a rejeição ao convite da OPEP.

A aceitação a um convite nos tradicionas termos do grupo iria atar o Brasil a dois compromissos essenciais: quotas limitadas de produção e regimes de preços fixos para a venda do óleo negro. Dado que o país sequer tem certeza do tamanho dos poços, haveria imenso risco de limitar nossa potencial produção em níveis muito abaixo dos desejados pela nação - apenas para que se atendesse aos desejos dos maiores produtores de petróleo do planeta.

Mas, o mais importante: ao comprometer-se com a OPEP, nosso “Poço do Visconde” estaria severamente subordinado ao regime de controle de preços opepiano. Fato que, em tese, poderia alijar-nos dos lucros das reservas. Tal característica é particularmente importante já que, apesar de a Petrobrás estar otimista em relação ao custo de extração por barril, os projetos certamente não serão baratos.

A decisão, portanto, parece ter sido acertada. Ponto para o governo e para a Petróleos Brasileiros S. A. De qualquer forma, o eventual ingresso na liga petrolìfera não está de todo descartado. Uma vez que o Brasil comece a vender petróleo em volumes confortáveis e globais, poderíamos nos juntar à OPEP no intiuto do benefício dos preços controlados – que hoje tanto nos desinteressam. Enfim, um jogo bastante realísito e de nosso maior proveito.

* A foto acima é produção própria. Foi capturada na Ponta da Areia, Niterói, em um entardercer de 2001. Nesse mesmo lugar, em meados do século XIX, o nobre Barão de Mauá produzia seus famosos barquinhos.

>> Don't Need The Sunshine; Catatonia; International Velvet
>> A Epopéia do Pensamento Ocidental; Richard Tarnas; Bertrand Brasil

Wednesday, September 03, 2008

Obamania


You understand that in this election, the greatest risk we can take is to try the same old politics with the same old players and expect a different result. You have shown what history teaches us – that at defining moments like this one, the change we need doesn’t come from Washington. Change comes to Washington. Change happens because the American people demand it – because they rise up and insist on new ideas and new leadership, a new politics for a new time.

Como “ghostwriter” eventual, gosto muito de acompanhar/ler discursos políticos. Nos últimos tempos, presenciar os pronunciamentos do candidato Democrata à Casa Branca, Barack Obama, tem sido um prazer.

Uma das técnicas que mais gosto de analisar é a que lida com a criação de conceitos novos a partir da remodelação de idéias antigas. Exemplifico: ao dizer que a mudança não vem de Washington, mas para Washington, o Senador simplesmente repetiu uma frase clássica da política estadunidense. A diferença é que, agora, de uma maneira, digamos... “pós”-moderna.

Em seu discurso inaugural, Kennedy disse a conhecida frase: “(...) ask not what your country can do for you -- ask what can you do for your country". Ao afirmar que a mudança vai para Washinton, Obama praticamente disse a mesma coisa, ou seja: você é responsável pela mudança que o país precisa.

A própria publicidade do candidato é voltada quase que totalmente a esse tipo de idéia “pré-concebida adaptada”. O processo é feito com tal maestria que Obama ultrapassou a barreira de Político/Senador/Candidato/Presidente e está tornando-se um ícone. Não sei se vocês perceberam, mas o pôster ostentado pelos militantes na convenção Democrata era esteticamente muito parecido com as “Marilyn Prints”, criadas por Andy Warhol na década de 1960.

O mais interessante é que, por meio de tal mecanismo, o interlocutor médio recebe as mensagens, percebe algo de agradável, mas – na maior parte das vezes – não consegue associá-la ao passado ou a algo dito por outra pessoa. Dessa forma, a proposta surge como elemento “inédito” e interessante, modernizando o político e, ao mesmo tempo, conectando-o a algo idílico e consolidado. É, a meu ver, uma excelente maneira de se fazer política, além de garantir um tipo positivo de publicidade. No final das contas, uma jogada de mestre.

Brasileiro que sou, ao final do discurso do Obama, cheguei a pensar: vou votar nele. O passaporte vencido e a Sarah Palin trouxeram-me de volta à realidade.

>> Into the Night (feat. Chad Kroeger); Santana; Into the Night
>> Poder Constitunte e Poder Popular; José Afonso da Silva; Malheiros

Monday, September 01, 2008

Os Outros: Vinicius de Moares

"Olhe Aqui, Mr. Buster...

Olhe aqui, Mr. Buster: está muito certo
Que o Sr. tenha um apartamento em Park Avenue e uma casa em Beverly Hills.
Está muito certo que em seu apartamento de Park Avenue
O Sr. tenha um caco de friso do Partenon, e no quintal de sua casa em Hollywood
Um poço de petróleo trabalhando de dia para lhe dar dinheiro e de noite para lhe dar insônia
Está muito certo que em ambas as residências
O Sr. tenha geladeiras gigantescas capazes de conservar o seu preconceito racial
Por muitos anos a vir, e vacuum-cleaners com mais chupo
Que um beijo de Marilyn Monroe, e máquinas de lavar
Capazes de apagar a mancha de seu desgosto de ter posto tanto dinheiro em vão na guerra da Coréia.
Está certo que em sua mesa as torradas saltem nervosamente de torradeiras automáticas
E suas portas se abram com célula fotelétrica. Está muito certo
Que o Sr. tenha cinema em casa para os meninos verem filmes de mocinho
Isto sem falar nos quatro aparelhos de televisão e na fabulosa hi-fi
Com alto-falantes espalhados por todos os andares, inclusive nos banheiros.
Está muito certo que a Sra. Buster seja citada uma vez por mês por Elsa Maxwell
E tenha dois psiquiatras: um em Nova York, outro em Los Angeles, para as duas "estações" do ano.
Está tudo muito certo, Mr. Buster – o Sr. ainda acabará governador do seu estado
E sem dúvida presidente de muitas companhias de petróleo, aço e consciências enlatadas.
Mas me diga uma coisa, Mr. Buster
Me diga sinceramente uma coisa, Mr. Buster:
O Sr. sabe lá o que é um choro de Pixinguinha?
O Sr. sabe lá o que é ter uma jabuticabeira no quintal?
O Sr. sabe lá o que é torcer pelo Botafogo?"
>> She Sells Sanctuary; The Cult; Love
>> Poder Constituinte e Poder Popular; José Afonso da Silva; Malheiros

Sunday, August 31, 2008

il pleut


São 00:56, 31 de agosto de 2008. Há o que comemorar: chove em BSB. Mantenho meus estudos e tudo corre bem.

>> The Day We Caught the Train; Ocean Coulor Scene; Moseley Shoals
>> Manual de Direito Constitucional; Jorge Miranda; Coimbra Editora

Saturday, August 30, 2008

The Guns of August

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Após observar brevemente os eventos no Cáucaso, creio que as lentes estarão voltadas para Washington ao longo desta semana. No meu entender, os Estados Unidos deixaram clara sua oposição às ações russas na Geórgia. Entretanto, entender o que os EUA pretendem não é tarefa muito simples – principalmente quando considerado o imbróglio em que se envolveu a região - com Irã, Rússia, EUA e muitos outros países enfrentando interesses mais do que conflitantes.

A meu ver, existem duas óbvias opções no que tange à Washington. A primeira seria inserir uma pequena unidade na Geórgia, talvez um batalhão, como símbolo de suporte ao presidente Mikhail Saakashvili. A outra seria levar uma esquadra para o Mar Negro. Por certo, ambas são idéias complicadíssimas: o batalhão criaria uma longa e desnecessária presença estadunidense na Geórgia – o que não é uma boa idéia; a esquadra, por seu turno, teria o efeito adicional de ajudar os ucranianos, mas seria efetiva apenas se a Casa Branca estiver preparada para usar a força em eventuais bloqueios ou ameaças – iniciativas perigosas e que certamente não teriam apoio da OTAN. Creio que, em algum momento, os Estados Unidos terão que repensar tais iniciativas e aceitar a real possibilidade de os russos venderem armas ao Irã (ou de os iranianos terem, finalmente, poder nuclear). Dessa forma, vale o aviso de “watch Washington”.

Vale, também, observar Moscou. O Kremlin continua a falar de modo agressivo, apontando para a dependência européia em relação ao gás russo (lembrem-se que o inverno europeu começa em breve e que o gás é fundamental no frio do norte). Decerto, não está muito claro o que pensam os russos. Na verdade, pode ser que eles mesmos não saibam o que dizem e estejam somente esperando para ver como vão reagir tanto Washington quanto a Europa. Entretanto, é evidente que está em curso um processo de tomada de decisões e que existe uma possibilidade de futuras ações políticas – ou militares, até – ao longo da periferia russa. Portanto, interessa acompanhar os movimentos de Vladmir Putin e sua trupe.

Na parte que cabe a nós, latinos, creio que há furtivas – porém sérias – implicações. Se houver uma escalada nos eventos, penso que Venezuela e Cuba podem receber algum tipo de “sobrevida” no tabuleiro mundial, principalmente se os dois países forem úteis ao Kremlin. Creio, entretanto, que esse “valor” não passaria da irritação à Washington. De qualquer forma, ambos os países passam por algum tipo de dificuldade e poderiam ganhar um adendo em seus regimes políticos por meio de pequenas ajudas russas. No caso de Moscou, tal ajuda poderia ser desejável se pensarmos na utilização da zona caribenha como base militar: ainda que os EUA detenham superioridade numérica, aviões vermelhos trariam toda sorte de incertezas ao Canal do Panamá, à Flórida e, indiretamente, à economia mundial.

Venezuelanos e cubanos provavelmente iriam aceitar os russos de bom grado – e podem até estar oferecendo essas mesmas bases no momento em que escrevo essas digressões. Será interessante – e algo assustador – ver qual a resposta russa.

>> Nega; Marcelo D2; Perfil
>> Os Limites da Revisão Constitucional; Gilmar Ferreira Mendes; Cadernos de Direito Constitucional

Wednesday, August 27, 2008

Personal Jesus

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O Sr. Carneiro da Cunha: - Sr. Presidente: Não posso aprovar a emenda do Sr. Moniz Tavares na parte em que exige 40 anos de idade para ser Conselheiro de Provincia. Todos conhecem que temos falta de gente de luzes; e se desses poucos homens que ha capazes de taes empregos, ainda tirarmos os que não chegão áquella idade, ficaremos em algumas Provincias sem ninguem.
(...)
Sou pois do voto que todo o que tiver mais de 25 anos de idade possa ser eleito Conselheiro de Provincia."

O excerto acima - em redação original - faz parte de livro que comprei recentemente: “Diário da Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil – 1823”. A publicação traz todos os debates travados ao longo da malfadada Assembléia de 1823, encerrada de modo abrupto por D. Pedro I.

O texto é registro fiel da inteligência cultural do país à época, reunida nacionalmente para fundar o parlamento pátrio. Creio não exagerar ao dizer que esses homens de 1823 seriam nossos “founding fathers”: convocado em 1822 pelo ainda regente Pedro, o Congresso acabou sendo um dos mais importantes elementos da independência brasileira. De certa forma, esse espírito independente foi tão alinhado aos interesses da nação que o governante não teve outra opção além de outorgar uma Carta diversa.

A meu ver, a citação que escolhi guarda estreito vínculo com os tempos atuais. Em especial, com a campanha eleitoral moderna. Ao dizer que eram poucos os iluminados com mais de 40 anos, o Sr. Carneiro da Cunha foi premonitório: ainda hoje a assertiva é profícua.

A propaganda eleitoral em 2008 é, para dizer o mínimo, anacrônica. Veiculamos, hoje, publicidade acerca de candidatos que sequer estariam aptos a concorrer aos “pleitos” do século XIX. Decerto, os puristas dirão ter sido restrita a participação eleitoral no passado e que o modelo atual reflete a sociedade brasileira com maior precisão. Entendo que nada poderia ser mais enganoso: cada um tem a elite que merece.

É verdade que o limitado tempo de exibição inibe a apresentação de qualquer tipo de proposta mais elaborada. Entretanto, os candidatos poderiam tentar não se comprometer. Aqui em Brasília - sem eleições - tenho assistido ao programa paulista e a decepção é imensa. Apesar de estarem no centro “esclarecido” do pais, o nível dos candidatos é infernal.

Sobre assuntos tenebrosos, na Divina Comédia, Dante relatou que sob a porta do Hades encontra-se a seguinte inscrição: “deixai, ó vós, que entrais aqui, toda esperança”. É dessa forma que me sinto ao sintonizar o programa eleitoral. Grosso modo, os candidatos limitam-se a dizer frases estilísticas como “conto com seu voto!”, associadas a sorrisos tétricos.

Não entendo como os partidos deixaram subverter-se dessa forma. Apesar das exceções, a maior parte dos pretensos “novos” candidatos aparenta estar muito distante do ideal libertador apregoado em 1823. Pobre Brasil.

>> Harder to breathe; Marroon Five; ...
>> Viva o Povo Brasileiro; João Ubaldo Ribeiro; Círculo do Livro

Thursday, August 21, 2008

Gonzo Kitchen: Pollo ao mel

"- Separe alguns pedaços de frango: coxas e sobrecoxas (recomendo Sadia);
- Não tempere*;
- Passe mel em cada pedaço - isso mesmo, mel (pode ser Karo, também fica bom);
- Deixe descansar por uma hora;
- Retire o excesso de mel;
- Agora, deixe um tempo no molho Shoyo (cerca de meia hora);
- Remova do Shoyo;
- Coloque em uma forma para assar;
- Fica no ponto quando a carne começar a "desgrudar" do osso;
- Arroz branco e salada caesar são boas companhias."

Frango gonzo, com mel e Shoyo. Barato, rápido e fácil de fazer. Experimente.

>> Version city; The Clash; Sandinista!
>> Viva o povo brasileiro; João Ubaldo Ribeiro; Círculo do livro

* a "receita" original manda não temperar. Eu, particularmente, creio que um pouco de alho nunca fará mal. Sal, a meu ver, pode ser dispensado: o Shoyo assume, sem desaforos, o lugar do velho cloreto de sódio.

Tuesday, August 19, 2008

Rumo ao Bronze

No Brasil, bronze é ouro. Bronzeadamente hilário!!

>> Contrastes; Luiz Melodia; Estação Melodia
>> Viva o povo brasileiro; João Ubaldo Ribeiro; Círculo do Livro

Sunday, August 17, 2008

Chariots of fire


Dento do espírito olímpico, segue vídeo com o nobre Eirc Mossoumbani na prova de 100 metros livres durante a Olimpíada de 2000, em Sydnei. O Sr. Moussambani foi um nadador que representou seu país, Guiné Equatorial, durante os jogos do início do século XXI e, conforme consta, transcendeu o ideal do Barão de Coubertin: depois de ver os opositores queimarem a largada - e serem desclassificados -, Eric nadou sozinho na piscina.

A classificação do “guiné-equatoriano” ocorreu por meio de um convite do comitê olímpico para incentivar países em desenvolvimento. Desnecessário dizer que o desempenho do nadador foi muito ruim: o rapaz, que treinava em uma piscina de hotel - com 22 metros - nunca havia visto uma raia de 50 metros. Ao longo do vídeo, a impressão que se tem é de que ele irá afogar-se.

Apesar de tudo, o moço segue em frente e termina a prova - ainda que aos trancos e barrancos. Seu esforço, entretanto, é visto pela dupla de comediantes australianos “Roy and HG” como algo digno de pena.

Os comentários e piadas dos dois apresentadores são emblemáticos do século XIX. “Go Eric, go, hahahahaha...”, é o que de mais sutil se escuta ao longo dos cerca de quatro minutos do vídeo. Pelo teor da apresentação, vigem as teorias do “fardo do homem branco”, do colonialismo e - sem exagero - do orientalismo. Lamentável.

Ainda em 1895, Kipling - um dos mais ativos poetas do colonialismo - escreveu: “há sessenta e nove modos de se compor odes tribais, e cada um deles é correto”. O escritor inglês não era, necessariamente, um crítico do modelo expansionista então em voga e, ainda assim, entendeu que a diferença existente entre os cidadãos do mundo era algo benéfico. Ao nadar como um bufão, Eric demonstrou estar além de eventuais preconceitos ultrapassados e à altura dos antepassados guerreiros da Guiné.

Seu desempenho gerou grande interesse sobre a outra competidora da Guiné Equatorial - Paula Barila Bolopa -, que competiu na prova dos 50 metros livres. Infelizmente, Barila nadou também muito mal, conseguindo somente o recorde histórico pelo tempo olímpico mais lento para a prova.

Moussambani, porém, incentivado por seu feito, voltou para casa e treinou forte. Após conseguir o índice olímpico para disputar os jogos de 2004, teve a entrada na Grécia negada devido a problemas burocráticos com o visto. Em meros quatro anos, Eric conseguiu diminuir seu tempo para menos de 57 segundos. Infelizmente, tolhido pelas circunstâncias, viveu um momento “dead on arrival” - em inglês mesmo, aos moldes do colonialismo.

>> Island in the sun; Weezer; Weezer (Green Album)

>> Viva o povo brasileiro; João Ubaldo Ribeiro; (...)

Thursday, August 14, 2008

Knocking on Heaven's Door

Caros, em momento algo inspirado, escrevi o texto abaixo. Faz algum tempo: cerca de dois ou três anos, em período de grandes mudanças na vida deste "redator".

O trabalho é de pena própria e redigido como mensagem de Natal aos amigos do Rio de Janeiro. Portanto, perdoem inperfeições, eventuais amadorismos e a evidente ausência de modéstia:

"Os amigos desculpem-me, ando relapso. Explico a ausência: os estudos a que me propus - cerca de ano e meio atrás - são extenuantes e, de quebra, houve a estréia num trabalho pelas bandas do planalto central. Trabalho demais noutras paragens, a falta de comunicação é indesculpável por cá.

Vergonhoso. Não há de repetir-se, espero.

De minha parte, houve ainda um procedimento a firmar: não foi tarefa simples abandonar a cidade de São Sebastião e estabelecer-se na muy bela e heróica cidade de Brasília, ao centro do país.

Os prezados sabiam que o Cerrado traz reminiscências? Ora pois, é fato.

Imaginem aqueles senhores, cansados da má sorte, aventureiros à procura de fortuna no planalto central, recém-chegados ao inferno seco. Imaginem-se vestindo as roupas que os costumes obrigam.

Então, imaginem um dia clássico de primavera. Céu azul-azul, calor fulminante para quem veste terno, um convite excessivo à praia ou à mata, à sombra, uma esperança de chuva que pode vir lavar a alma no fim de tarde. É setembro na Chapada. E já que estamos nessa, imaginem voismicês, “estrangeiros” recém-chegados, família a tiracolo, um dia destes no alto do prédio do Congresso, o Memorial JK ao longe, o calor e as roupas quentes – então, um devaneio leva em direção ao Leblon, onde está, desaguando na praia, o Atlântico salgado.

Não importa a que hora, estão lá as meninas, por vezes muitas e lindas, mergulhando com gosto porque o trabalho do dia já se foi. Não há culpa, há sorrisos, e você de paletós e casacas neste paraíso tropical.

O carioca entende. É o caminho para o trabalho passando pela Vieira Souto, aquelas meninas todas de biquíni em Ipanema, aquela praia convidando à cerveja e ao mergulho salgado. Ô cidade, Deus do céu. Chegou época de o Rio ser um pouco mais Rio, de céu azul e tempestade, de cheiro de terra e maresia – e aquela mata no caminho de todo dia está um pouco mais verde. E, quando o Vento Sudoeste chega violento vindo do morro Dois Irmãos, um prazer de toque, o mesmo prazer de ver como fica morena a moça ao lado. De manhã escureço, de dia tardo, de tarde anoiteço, de noite ardo.

É, estou de volta - ainda que por parcos quinze dias - mas de volta, desejando Feliz Natal e Ano Bom, junto ao costumeiro abraço."

O texto foi escrito em momento de retorno ao Rio de Janeiro. Férias dezembrinas. Revisitação aos amigos cariocas e à parte do passado. Daí a emoção.

Infelizmente, descreve um Rio de Janeiro que não existe mais. Uma pena.

>> A flor e o espinho; Nelson Cavaquinho; Unknown
>> 1602; Neil Gaiman; Pannini Books

Sunday, August 10, 2008

Война

Lá no Blog do PD, o melhor relato que vi sobre os eventos na Ossétia. A despeito de análises geopolíticas, diplomáticas ou militares, o que mais se perde em uma guerra é a simplicidade da vida:

Um jornalista brasileiro, meu amigo do peito, esteve na Ossétia anos atrás. A situação estava tensa, com o Exército Russo dando proteção aos compatriotas e ossetianos amigos.

Junto com um colega europeu, acompanhando tropas russas que patrulhavam a área, ele se aventurou pelos campos a procura de aldeias e notícias. Loucos, esses jornalistas. Enfim, lá pelas tantas os dois entraram em uma espécie de paraíso na terra, segundo suas palavras:

Um bosque de macieiras brilhando na paz absoluta de uma tardinha agradável. No meio das macieiras, uma casa. Uma casinha, modesta. Dentro, o horror silencioso de um tipo de guerra que não sai nos jornais.

A casa estava vazia. Seus habitantes haviam fugido dos milicianos georgianos, deixando para trás suas terras, suas colheitas - e o avô. O ancião estava deitado no quarto, olhando para o teto, em profunda solidão.

No único móvel do quarto, uma cesta de frutas. Grande, generosa.

Como se os que partiram - e não levaram o velho, sabe Deus o motivo - estivessem pedindo : tratem bem dele, as frutas são prova de paz. Pelo menos, foi assim que meu amigo e o outro jornalista interpretaram tão insólito quadro.

Um pouco depois, tropas russas chegaram ao local e socorreram o idoso deixado para trás. Não havia sangue, gente estripada, queimada por bombas, ou outras barbaridades de uma guerra ”normal”. Mas doía da mesma maneira.

(...)

O oficial russo explicou que, na maior parte das vezes, a população daquela região tinha que abandonar suas casas às pressas, com a roupa do corpo - tendo que escolher entre levar uma criança ou deixar um velho doente para trás.

Fugiam andando. No máximo, uma carroça. Se não fossem rápidos, seriam fuzilados sem dó nem piedade. Guerra.

Imagine o que está acontecendo em campos iguais àquele atualmente. As maçãs vão apodrecer nas árvores"

>> Maps and Legends; R.E.M.; Reconstruction Of The Fables
>> 1602; Neil Gaiman; Pannini Books

Saturday, August 09, 2008

Gonzo Kitchen

"Ingredientes:
-mulher;

-bacalhau;

-espinafre;

-azeite;

-alho;

-cebola;

-batatas;

-sal;

-cerveja.

Modo de preparo:
Ponha a mulher na cozinha, com os ingredientes, e feche a porta. Tome cerveja durante duas horas e depois peça para ser servido. Complexidade mínima."

Bacalhau gonzo, à moda tupinambá,pois é.

>> Tarde em Itapuã; Gilberto Gil e Toquinho; Duetos
>> Eu fui Vermeer; Frank Wynne; Companhia das Letras

Sunday, August 03, 2008

21 Gramas

Prezados, acompanhem o valor do petróleo ao longo dessa semana: uma queda nos preços do óleo negro parece ser um dos elementos mais importantes no futuro próximo.

Conforme a cotação do óleo aproximou-se de $150.00, muito se discutiu acerca de como movimentos inflacionários iriam redefinir a economia global. Muito foi dito, também, sobre como os sauditas não desejam que tal perspectiva seja concretizada - uma grande recessão global não é do interesse da Casa de Saud. Dessa forma, espera-se que os sauditas pressionem os números para baixo.

O Reino da Arábia Saudita é um investidor pesado no mercado internacional, além de ser grande depositário em instituições financeiras, hedge funds e bancos privados ao redor de todo o planeta. Atualmente, o Rei Abdallah é o maior investidor individual - e líquido - em cena, tendo, assim, interesses e meios para administrar o preço global que escolher para o petróleo. Apenas como lembrete, vale ressaltar que existem, hoje, muitas instituições financeiras que não são governadas pelas leis européias ou norte-americanas. Totalmente livres, portanto, para funcionar ao arrepio dos sistemas mundiais de controle criados no pós-Segunda Guerra.

Malgrado os motivos que pressionarão o preço do petróleo para abaixo da linha vermelha, o valor hoje vigente - perto de $120.00 o barril - parece estar perto da zona de desconforto para muitos agentes no mercado. Grosso modo, o sistema tende a preferir um valor mais elevado.

De qualquer forma, um ajuste fino sobre o preço do barril é algo imbricado. Decerto, os Sauditas aparentam preferir um valor ao redor dos números atuais. Porém, muitas forças estão em atividade: caso o preço caia abaixo de $120.00, estaremos de volta à faixa onde o petróleo não é crítico para a economia planetária; caso o valor aproxime-se - ou ultrapasse - $150.00, então a crise estará em atividade novamente. Dessa forma, senhores, verifiquem vossos estoques de anti-hipertensivos: medir a cotação da commoditie pode recomendar corações fortes.

>> Eu tive um sonho; Kid Abelha; Acústico MTV
>> Rio das Flores; Miguel Sousa Tavares; Companhia das Letras

Friday, August 01, 2008

Iluminados Pelo Fogo

A Argentina vive período de sensíveis dificuldades políticas e econômicas. Sobretudo, o país atravessa momento de especial tensão devido aos fracassados esforços da Presidente Cristina Kirchner em busca da aprovação de sua lei de taxas aduaneiras para produtos agricultáveis. Além disso, o país enfrenta pressões inflacionárias, crescente débito e uma crise no setor energético. Não fosse pouco, o governo da presidenta Kirchner ainda lida com delicadas fraturas em sua sustentação política. A meu ver, em face desse conjuntura controversa, um eventual colapso argentino – nos moldes do ocorrido no governo de Fernando de La Rúa – traria implicações profundas ao continente latino-americano.

Grosso modo, a Argentina vem perdendo grande parte da relativa paridade que sempre manteve com o Brasil ao longo da história. Dado que são os maiores e mais ricos países do continente sulino, ambas as nações têm um passado de “vigilância” mútua. Entretanto, a balança de poder parece estar lentamente tendendo para o Brasil - e uma completa instabilidade portenha ameaça tornar permanente tal movimento.

O crescimento brasileiro nos anos recentes tem sido invejável: petróleo e políticas fiscais viáveis são apenas alguns exemplos. Ademais, a influência regional brasileira mostra-se em contínua e positiva expansão, particularmente nas fronteiras próximas e em relação à Uruguai, Paraguai e Bolívia – países encarados como “buffer states” pela Argentina e pelo Brasil. De forma genérica, Brasília e Buenos Aires tentam manter essas três nações livres de influência externa. Com algum desgosto, a Casa Rosada tem falhado em suas iniciativas de aproximação aos três Estados e o que se percebe é um fortalecimento verde e amarelo.

Somado a esses fatos, o Brasil tornou-se o maior investidor único na Argentina ao longo do último ano. Assim, parece-me que se os pampas quedarem-se envoltos em uma crise financeira, o maior beneficiado será o Brasil. No sentido de que tornar-se-iam facilitadas as compras de falidas empresas argentinas por parte de companhias brasileiras.

Um insucesso argentino, no entanto, não se daria isolado: aparentemente, o líder venezuelano, Hugo Chavez, atou-se ao destino de Buenos Aires quando decidiu subsidiar parte substancial do débito portenho. Se a Argentina realmente enfrentar uma crise financeira, a hoje instável economia “bolivariana” também decairia à reboque – e vice-versa: uma quebra em Caracas ameaçaria a estabilidade do débito argentino. Nada mais latino-americano do que nunca.

Dessa vez, no entanto, a diferença é que o Brasil demonstra estar pronto para assumir uma eventual liderança continental – o que configura uma enorme diferença no tabuleiro geopolítico. Com o colapso no Prata e o crescimento no Planalto, a geopolítica sulina deverá ser totalmente remodelada.

>> Speed of sound; Coldplay; Rádio Câmara
>> Blog do Lampreia ; ao que parece, o honroso ex-chanceler tupinanbá mantém um bom site na rede.

Tuesday, July 29, 2008

Curtas

:: Berliner
O clichê é óbvio, mas irresistível: a foto de Obama em Berlim ficou uma finura.

:: No Nukes
Há de ser uma piada a notícia veiculada pelo NYT: Henry Kissinger defendendo a diminução das armas nucleares? Prefiro acreditar em ruído jornalístico do que na teoria de que "They are trying to shock sensibilities". Na verdade, parece-me muito mais um modo de adaptar a política da contenção para o nosso tempo. Nas palavras do jornal:

"In two opinion articles in The Wall Street Journal, they described a frightening new world of ever-expanding nuclear appetites, in which traditional deterrence no longer works. They argued that the only way for the United States to rally the cooperation it needs to confront such dangers is with a clear commitment to the goal of a world without nuclear weapons."

De qualquer forma, é estranho ver o mestre diplomata contrariar quase tudo que afirmou ao longo da vida. Muito estranho.

>> Faz de Conta; Engenheiros do Hawaii; Novos Horizontes - Acústico
>> Rio das Flores; Miguel Sousa Tavares; Companhia das Letras

Friday, July 25, 2008

Cry Of The Forgotten Land

Quando as pessoas perguntam-me sobre meus pensamentos acerca do Rio de Janeiro, sinto sempre um certo desconforto. Carioca desterrado, sei como supostamente devo responder: com tristeza, desapontamento e, talvez, raiva. Invariavelmente, entretanto, tento desviar do assunto, ou falar de forma mais neutra possível.


Isso porque, no fundo, a violência na cidade nunca me atingiu diretamente – ou a meus amigos. Meus contemporâneos e eu sempre tivemos relativa indiferença frente aos tiroteios; os horrores dos crimes e suas implicações demoníacas soavam distantes, estrangeiros até. Na verdade, a violência era, simplesmente, um flash que marcava a descontinuidade característica da degradação na antiga capital federal.


Em 2004, quando vim morar em Brasília, anos antes das atuais bestialidades, o Rio de Janeiro era, ao menos para mim, um lugar onde ainda se podia viver. Apesar da violência já latente, creio que as pessoas de minha geração viam os bandidos – e toda a noção de patologia social – como alienígenas. A ardente crença no distanciamento da brutalidade era vista, em nossa entediada consciência “burguesa”, como eco de um acreditar romântico na violência. Para nós, os brutos e assassinos jamais deixariam os morros para se aventurar na maravilhosa Zona Sul. Tais memórias faziam parte de meu imaginário até recentemente.


Semana passada estive no Rio de Janeiro para visitar meus pais e, para dizer o mínimo, fiquei desesperançado. As principais referências ao passado idílico outrora mantidas em minha cabeça simplesmente desapareceram. Hoje, a violência e suas crises estão de tal forma instaladas na cidade que, ouso dizer, transformaram-se no equivalente cultural de música de elevador – tamanha a indiferença com a qual a população trata o problema.


De fato, o carioca é incomum em sua habilidade de atar choques e distúrbios, gradualmente fazendo deles uma coisa neutra. Ao contrario do senso comum, entretanto, o imaginário “bandoleiro” na cultura 021 não é muito diferente dos traficantes com fuzis AR-15 que esbarram em você nos bailes funks ao redor da cidade: as armas e as músicas presentes nesses locais são uma declaração moral, não estética como querem fazer crer certos sociólogos.


O problema é de tal forma tamanho que alguns organismos internacionais estão elevando os protocolos de segurança adotados para a Cidade Maravilhosa. Por exemplo, a fim de orientar as viagens de seus funcionários, as Nações Unidas têm uma escala de níveis de segurança começando na "Fase 1" (Precaução) e terminando na "Fase 5" (Evacuação). Desde fins de 2006 o Rio de Janeiro foi classificado como local "Fase 1". Dessa forma, funcionários em viagem para lá, mesmo que a passeio, precisam preencher um formulário avisando o Departamento de Segurança da ONU quando ocorrerá o “passeio”, em que vôo e horários, qual o local de hospedagem, quais os acompanhantes, e qual a data de retorno. Tudo isso no intuito de possibilitar a evacuação do funcionário com rapidez e segurança caso seja agravada a situação.


Nos documentos, há uma seção "Travel Advisories" em que um texto realista alerta acerca dos riscos que se assume ao ir ao Rio de Janeiro. Vale citar um trecho:

As forças de segurança conduzem freqüentes operações armadas contra facções do tráfico de drogas que estão em controle de diversas favelas espalhadas pela cidade. Balas perdidas, rajadas de balas e o indiscriminado uso de munição de alta velocidade e armamento pesado podem transformar qualquer favela num cenário perigoso e volátil, especialmente no caso de intervenção da polícia ou conflitos entre diferentes facções de traficantes. Visitantes são mais vulneráveis a tais incidentes devido ao seu desconhecimento do local e falta de experiência. Portanto, todos os viajantes são aconselhados a evitar a proximidade das favelas. Adicionalmente, tem havido um aumento de assaltos à mão armada nas vias de acesso do Aeroporto Internacional à Zona Sul, onde a maioria dos visitantes internacionais ficam. Evite passar à noite na Linha Vermelha ou Linha Amarela, que são vias expressas ligando o Aeroporto Internacional à Zona Sul, o centro da cidade e subúrbios. Se você desembarcar no Aeroporto Internacional durante a noite, considere passar a noite no Hotel do Aeroporto. Enquanto no Rio de Janeiro, dê preferência a rádio-táxis registrados já que eles são considerados os mais seguros, ou peça orientações ao concièrge do seu hotel. Devido a disputas em curso com os controladores de tráfego aéreo, vôos podem se atrasar, serem cancelados e/ou desviados de seus destinos iniciais. Assim, viajantes chegando ou fazendo conexões em vôos no Rio de Janeiro são aconselhados a requerer um security clearance mesmo que não haja expectativa de deixarem o Aeroporto. (...)”

Como se percebe, a situação é grotesca. E pode piorar ainda mais: recente reportagem do jornal “O Globo” afirma que traficantes da Rocinha estão formando associações com o MST, especialmente com um de seus líderes, José Rainha. Decerto, a cidade não é para amadores e o assunto parece ainda estar muito longe de ser resolvido.

 

>>Little by Little; Oasis; The Best Bands Ever

>> Travessuras da Menina Má; Mário Vargas Llosa; Alfagarra

p.s.: dado que o livro citado acima é editado pela Alfagarra, lembro post anterior para dizer que o jornal El País está sendo impresso no Brasil. Agora, com preços realísticos, é possível ler um dos melhores jornais do planeta também em terras tupiniquins. Não consigo imaginar iniciativa mais poderosa para um "esforço pela integração cultural".