Friday, October 31, 2008

Gonzo Kitchen: Filé Pistache

Em um domingo modorrento, vá para as panelas e tente. Vale o esforço.

Ingredientes:
- Um belo punhado de pistaches
- Azeite (ou manteiga)
- Orégano
- Tomilho
- Bife (ou medalhão) de filé. Eu prefiro o medalhão, não muito grosso e um pouco mais alto do que o comum.
- Vinho tinto seco
- Arroz arbóreo (de risoto)
- Caldo de carne (daquele de cubos)
- Queijo Brie
- Funghi
- Alho (ou Arisco)

A crosta: descasque os pistaches (a qualidade dos grãos é fundamental), jogando-os em uma caneca grossa. Sove-os com um pilão de caipirinha até reduzir à tocos bem pequenos. Misture um tanto de orégano e tomilho. Uma colher de chá (bem cheia) de azeite. Misture bem.

O tempero do bife: temperei com Arisco (do potinho) e pimenta calabresa. Despeje um dedo de vinho tinto em um prato fundo e deixe a carne descansar enquanto você prepara o risoto.

Risoto negro: aqueça água. Dissolva o funghi na água fervente. Separe. Você vai fazer o arroz na água do funghi, adicionando os pedaços ao final do preparo do arroz. Sugiro alho picado, pimenta calabresa, vinho e azeite. Mexa até que o arroz absorva tudo. Ao final, se quiser uma liga a mais, adicione um pouco do Brie.

O bife: frite-o. Após frito, ponha sobre uma tábua e coloque uns 2mm ou 3mm da crosta. Volte-os para frigideira quente, deixe uns instantes e pronto (cuidado a crosta queima fácil)

Ponha tudo num prato e assovie “La Vie en Rose”.

>> Carolina On My Mind; James Taylor; The Bridge School Collection, Vol. 1 (Live)
>> Teoría General del Estado; R. Carré de Malberg; Fondo de Cultura Económica - México

Monday, October 27, 2008

Gardel

Conforme escrevi aqui, alguns posts atrás, a Argentina começou a tomar suas medidas em relação ao impacto da crise econômica no cone sul. Nas palavras do ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, foi deflagrada uma forte operação protecionista em Buenos Aires, naturalmente dirigida contra o Brasil. Infelizmente, não é boa a sensação de estar certo.

>> Lips Like Sugar; Echo & The Bunnymen; Echo & The Bunnymen
>> Teoría General del Estado; R. Carré de Malberg; Fondo de Cultura Económica - México

Friday, October 24, 2008

Os Outros: William Shakespeare

"This day is called the feast of Crispian:
He that outlives this day, and comes safe home,
Will stand a tip-toe when the day is named,
And rouse him at the name of Crispian.
He that shall live this day, and see old age,
Will yearly on the vigil feast his neighbours,
And say 'To-morrow is Saint Crispian:'
Then will he strip his sleeve and show his scars.
And say 'These wounds I had on Crispin's day.'
Old men forget: yet all shall be forgot,
But he'll remember with advantages
What feats he did that day: then shall our names.
Familiar in his mouth as household words
Harry the king, Bedford and Exeter,
Warwick and Talbot, Salisbury and Gloucester,
Be in their flowing cups freshly remember'd.
This story shall the good man teach his son;
And Crispin Crispian shall ne'er go by,
From this day to the ending of the world,
But we in it shall be remember'd;
We few, we happy few, we band of brothers;
For he to-day that sheds his blood with me
Shall be my brother; be he ne'er so vile,
This day shall gentle his condition:
And gentlemen in England now a-bed
Shall think themselves accursed they were not here,
And hold their manhoods cheap whiles any speaks
That fought with us upon Saint Crispin's day"
Henrique V, de William Shakespeare. Supostamente escrito em 1599, narra os eventos imediatamente anteriores e posteriores à Batalha de Agrincourt, na Guerra dos Cem Anos. Dispensa comentários.

>> April Skies; The Jesus and Mary Chain; Singles
>> Teoría General del Estado; R. Carré de Malberg; Fondo de Cultura Económica - México

Saturday, October 18, 2008

Stand By Me


Desde o começo da crise financeira, os investidores têm abandonado os mercados do Terceiro Mundo e procurado guarida no pretenso porto seguro representado pelos EUA. No caso do Brasil – que abriga o mais dinâmico centro financeiro da América sulina -, esse efeito tem causado graves conseqüências: a rápida desvalorização do Real frente ao Dólar é um dos exemplos.

Apesar de o verdadeiro impacto na economia brasileira ser ainda difícil de mensurar, analistas têm afirmado que o tamanho do buraco pode chegar a cerca de 28 bilhões de dólares. Em sua maior parte, esse numero deve-se a investidores que apostaram no Real e estão sangrando com a alta da moeda norte-americana. No médio prazo, o Brasil pode até se recuperar do problema, dadas as reservas petrolíferas recentemente descobertas e a grande diversificação da economia. O impacto regional dessa queda, no entanto, pode não desaparecer tão cedo – o que é de suma importância para a Argentina, um grande parceiro do Brasil.

Atualmente, a Argentina está atada a um taxa em torno de 3,2 Pesos argentinos para cada dólar. Assim, quanto maior a queda do Real frente à moeda estadunidense, maior a desvalorização de nossa moeda frente ao Peso. Embora essa mecânica seja positiva aos importadores argentinos, é grande o desastre junto aos importantes setores exportadores portenhos: o Brasil é responsável por 24% das exportações argentinas, e esses números representam algo perto de 13% do orçamento governamental.

Com o inesperado impacto do Peso em relação ao Real, nosso país terá de pagar muito mais pelas mesmas importações, praticamente inviabilizando o comércio Brasília-Buenos Aires. No outro lado da balança, o pais portenho – que vê sua participação mundial declinar após alguns anos de breve recuperação – encontra-se mal posicionado para absorver os impactos de exportações em queda.

A agricultura, nesse cenário, é o setor mais critico, no sentido de que o declinante mercado exterior tende a não encontrar saídas que compensem eventuais perdas. Dessa forma, tanto o comércio quanto a produção agrícolas poderiam retroceder – trazendo efeitos ainda mais devastadores ao combalido mercado argentino. Em um contexto de falta de alimentos, ainda que Buenos Aires opte por importar comida brasileira, a diferença cambial tornaria tal política sem efeito. Forçando, assim, assustadoras hipóteses de ausência de alimentos, queda nos lucros e risco de potenciais crises na economia como um todo. Conforme o antigo ditado popular: onde falta pão, há confusão.

Para além de todas essas dificuldades, à economia portenha facultaria tentar redirecionar-se em busca de novos parceiros. Entretanto, alterar relações comerciais não é algo que ocorra da noite para o dia – e a redução da economia global não iria ajudar no processo. Ademais, uma mudança de tamanha envergadura na pauta de exportações implicaria ampla base creditícia, elemento que a Argentina não detêm já a algum tempo.

Poder-se-ia, ainda, tentar ajustar o câmbio em favor de uma melhor relação com o Real. Todavia, tal política parece sobremaneira fadada à destruir os números governamentais. Basta, nesse caso, lembrar dos desastrosos impactos da manutenção do Peso valorizado frente ao Dólar no final do século passado.

Portanto, o que você faria se estivesse sentado dentro da Casa Rosada nesse momento? Na velha piada política, escrever a terceira carta parece ser o conselho mais sensato: são muito limitadas as opções do governo Kirchner, ao mesmo tempo em que o apoio popular parece tender à erosão tão logo uma crise se acirre.

No exemplo do Brasil, o resultado de todo esse cenário é ainda difícil de medir: os fundamentos econômicos brasileiros, apesar de tudo, são sólidos - malgrado alguns lamentos prenunciados pela crise financeira. Buenos Aires, por outro lado, pode estar diante de uma potencial desestabilização que, a meu ver, o governo populista “kirchneriano” não terá como suportar. Lamentavelmente, nada poderia ser mais próximo de um tango de Gardel.

>> Cemeteries of London; Coldplay; Viva La Vida
>> Música ...; André Midani; ...

Monday, October 13, 2008

A César o que é de César

Prezados, seguem abaixo links para três vídeos que exemplificam porque o Brasil será um país totalmente diferente em futuro próximo. Grosso modo, a tríade dos filmetes lida com o tema das lideranças evangélicas e, em conjunto, trata de uma recente briga ocorrida no meio.

Ao final dos filmes, percebe-se que a fé é o assunto menos discutido pelas ditas “lideranças”. Se você tiver paciência, poderá perceber que os maiores interesses dos grandes grupos religiosos da nação são tempo de TV, participação partidária e dinheiro.

Sobre esse assunto, a PUC do Rio de Janeiro lançou, recentemente, um primoroso estudo chamado “Atlas da Filiação Religiosa e Indicadores Sociais no Brasil”. Por meio de pesquisas sociais e antropológicas, os autores do livro determinam a intensidade, os caminhos e os resultados da penetração dos grupos não-católicos numa população que, no início do século XX, declarava-se 99% católica e hoje foi reduzida para cerca de 74%. Ao contrário do que parte de nossa oligarquia política pensa, o país mudou muito. Não necessariamente para melhor.

Filme 1 - Filme 2 - Filme 3

>> Viernes 3 Am; Paralamas do Sucesso; Hey Nana
>> Música, Ídolos e Poder: do Vinil ao Download; André Midani; Nova Fronteira

Wednesday, October 08, 2008

Ao Mar

"Não, não temos certeza se estaremos de volta às três, nem se haverá baleias e nem mesmo se voltaremos, se é que algum viajante retorna, isto aqui é o mar, ó pá, não temos certeza de nada"
Frase do capitão português que transportava a nobre Adriana Calcanhoto em recente viagem ao país lusitano. Recém lançadas, são promissoras as memórias autobiográficas da cantora.

>> Smells Like Teen Spirit; Nirvana; In Utero
>> Black Music; Arthur Dapieve; Objetiva

Atualização: você encontra um capítulo do livro aqui.

Sunday, October 05, 2008

Yes, Nós Temos Pingüins

No calor das eleições, você não deve ter percebido que nosso pais enviou um grupo de pingüins de volta para casa, tudo pago pela viúva. Isso mesmo, nos dias que correm, há um país de primeiro mundo abaixo do Equador.

A fim de provar meu argumento, segue a foto abaixo: a estética dos pesquisadores brasileiros - seus óculos e camisas - faz pensar que Venice Beach é um vilarejo Tupinambá. Bom viver por aqui: nunca antes na história desse país pingüins voaram de volta para casa às custas do governo.


O engraçado é que, ainda hoje, assistindo a uma reprise do Profissão Repórter, descobri o verdadeiro preço do serviço aéreo brasileiro. Um patrício garimpeiro – buscando voar dez minutos na selva amazônica – desembolsa algo em torno de R$ 400,00 em gramas de ouro. Pois é, dez minutos em um bisonho monomotor, sem seguro, pista de asfalto ou supervisão da ANAC custa o mesmo que planar Rio-Brasília sem escalas. E, o pior, essa situação não é exclusiva do amazonas.

Conforme muitos de vocês sabem, trabalho na Câmara dos Deputados. Por cá, cansei de ver pessoas que vêm para Brasília e não têm como voltar para casa. Em sua maior parte, esses indivíduos chegam aqui – pasmem – em busca de atendimento médico. Muitos advém das grandes capitais brasileiras e, geralmente, perambulam pelo planalto até conseguirem voltar para sua terra. Em muitos casos, os Deputados tentam ajudar e costumam contribuir do próprio bolso com a passagem dessas tristes almas. Infelizmente, o resultado é quase sempre inútil frente ao número dos que continuam chegando.

Ao mesmo tempo, o governo de pindorama remete uma trupe de pingüins – via primeira classe e com direito a superalimentação - de volta para casa. Não à toa, os prezados do Gizmodo sugerem a venda dessa inusitada aventura aos estúdios de Hollywood. Talvez, daqui a alguns anos, tenhamos um exemplar de Carmem Miranda a imitar o simpático Happy Feet. Nunca antes na história desse pais...

>> Pretty Persuasion; R.E.M.; Reckoning
>> Black Music; Arthur Dapieve; Objetiva

Saturday, October 04, 2008

Cassandras


Pois é, passou a semana e o mundo não acabou. Apesar de todas as previsões catastróficas e da torcida velada de muitos anti-americanos, os nobres Estados Unidos da America do Norte ainda não sucumbiram frente ao que se poderia chamar de “autofagia financeira”.

Obviamente, a indústria de crédito está com grandes problemas em todo o mundo. Entretanto, o capitalismo possui a estranha característica de resolver seus problemas por meio da aniquilação dos ineficientes: “destruição criativa”, “seleção natural”, “a mão invisível”, diriam uns e outros. Qualquer que seja o mecanismo, a mudança é sempre dolorosa, principalmente para aqueles que estão no olho do furacão. Nesse sentido, é interesse notar a maneira insensata/ingênua pela qual instituições ilibadas como a Merrill Lynch deixaram-se levar. Talvez por isso, ao final do processo, algo novo irá tomar o lugar de tais empresas.

De qualquer forma, o terremoto será grande. Muito dinheiro é perdido quando esse tipo de atividade ocorre, por exemplo, em setores como a indústria da computação: vidas são arruinadas e ex-bilionários passam a procurar emprego como digitadores, apenas para dizer o mínimo. Quando, no entanto, acontece o mesmo no setor financeiro, as preocupações são maiores e largamente conhecidas. Hoje, como todos sabem, o medo é que a crise creditícia se espalhe para a vida real.

Do meu ponto de vista, o mais relevante é saber se essas rachaduras irão desestabilizar as estruturas fundamentais dos Estados Unidos. Creio, sinceramente, que a resposta é negativa. Embora com algumas alterações aqui e ali, as coisas acima do Rio Grande devem manter-se pouco modificadas. De certa forma, o inicial veto da Câmara ilustra o que escrevo: apesar do tremendo atasqueiro, as nobres senhoras e senhores Deputados preferiram manter-se atadas a seus princípios, ao invés de chancelar - sem debate - um plano mais do que suspeito.

As cassandras poderão dizer: mané, os gringos estão mais do que lascados, basta olhar os números do desemprego, por exemplo. É verdade, diria eu, os dados são realmente altos. Todavia, apesar de o desemprego ter subido, os valores estão ainda muito distantes dos dramáticos números vistos no final da década de 70 e nos anos 80.

Por certo, a indústria financeira está com um enorme problema. Porém, o sistema financeiro – como um todo – não vive as mesmas dores que experimenta, por exemplo, um ex-empregado do Lehman. A meu ver, até agora, a crise é mais especulativa do que real. A conclusão é óbvia: muitas empresas de crédito estão com problema, mas o sistema propriamente dito está em dificuldade muito menor quando comparado com tais empresas. De minha parte, a luz vermelha acenderia caso o Sr. Paulson estivesse dizendo: acabou o brioche! Felizmente, não chegamos a tanto: há dinheiro da boa e velha viúva para sustentar alguns filhos malcriados.

As recessões e quebradeiras anteriores vieram e foram embora – e a vida seguiu seu curso. Malgrado as terríveis manchetes nos jornais, não há motivo para pensar que dessa vez será diferente. Pode-se odiar ser um empregado de alguma empresa em dificuldade atualmente, mas já enfrentamos coisas muito piores e perseveramos.

Era terrível ser um fabricante de mainframes em 1980, horrível possuir uma empresa de internet em 1999 e assustador estar na “rua da parede” hoje. Entretanto, tudo isso não é o mesmo que atestar o colapso da civilização como a conhecemos.

>> Wonder; Embrace; Radio Edit
>> Disgrace; J. M. Coetzee; Penguin

Thursday, October 02, 2008

Julius Augustus Caesar


A Economist montou uma página por meio da qual é possível votar no candidato a Presidente dos Estados Unidos. Na paródia, a votação é global e, por hora, vence o candidato Democrata - de lavada, diga-se. Conforme os números do site, McCain ganha apenas na Macedônia (sic).

Você mesmo, inclusive, pode deixar seu simpático votinho. Portanto, vá lá e vote. Afinal, sabe como é: quatro anos é muito tempo.

>> London Calling; The Clash; London Calling
>> Disgrace; J. M. Coetzee; Penguin