Thursday, December 24, 2009

Feliz Natal

Esta semana, o incomum tornou a acontecer. Em Nazaré, recentes escavações revelaram uma casa da época de Cristo e, de certa forma, mostraram a pobreza daqueles tempos. A singela construção evidenciou a realidade de uma época na qual culturas alienígenas, aos moldes de hoje, impunham supremacia política sobre a Palestina: no passado, os romanos; hoje, os ocidentais. Vinte séculos depois e pouca mudança, portanto.

O inusitado é que, tanto no passado quanto hoje, essa mesma política agiu como válvula de escape. Estranho possa parecer, a política, talvez a mais importante das ações humanas, serviu também a Cristo e seus apóstolos.

Em comunidade, tudo o que fazemos - ou deixamos de fazer – interfere no todo: o ato de um simples indivíduo pode liberar mudanças que alteram o cotidiano. Como disse Margareth Mead, jamais devemos duvidar que um pequeno grupo de pessoas comprometidas pode mudar o mundo.

Na verdade, nunca aconteceu de outra forma. Para alterar a história, Cristo precisou de treze pessoas apenas. O Senhor foi político, recusava o sistema romano, sobretudo. Contra César, pregava ao povo a revolução de igualdade e justiça: “a Cesar o que é de César, a Deus o que é de Deus”.

Qualquer que seja a interpretação da presença e da dimensão histórica atribuídas ao Nazareno, Ele agiu, no plano da realidade de seu tempo, como um político. Característica que não lhe exclui ou diminui a transcendência: ao contrário, o fato de o filho de Deus ter sido também um político deveria envergonhar alguns de nossos homens públicos de hoje.

A glória do Cristo se confirma na necessidade, naquele momento, e em toda a História, de sua presença no sentimento da humanidade. Decerto, todos os que o negam, acabam por confirmá-lo em algum momento da vida. Confirmam-no quando se encontram em aflição e o reafirmam quando são tocados por instantes de êxtase, de alegria e de indignação contra os opressores. Testificam-no na dor ou no amor, conforme diz o Livro Sagrado.

No mesmo sentido, somente em sua igualdade é possível entendermo-nos como irmãos: na face e nas mãos, nos olhos e nos lábios, na voz, no riso e nas lágrimas. Nós somos o que somos, e seremos maiores no tempo e no mundo, quando formos iguais, uns diante dos outros.

Dessa forma, o Natal é a festa do nascimento de Jesus porque é a festa do nascimento de todos nós. Por certo, a mensagem Dele é mais poderosa do que as instituições que reivindicam seu nome: é a palavra do Filho do Homem, para os homens; a essência de um para todos.

Para os não crentes, entretanto, Cristo é - da estrela de Belém ao Calvário - uma resposta do homem à sua própria necessidade. Porém, mesmo o agnóstico reconhece que na hora da morte, diante do ângulo reto, o Salvador – como qualquer homem – recorreu a Deus, perguntando-lhe o motivo do abandono. Nesse momento, o descrente talvez perceba o milagre: no reconhecimento da fragilidade humana, estava a grandeza da transcendência de Jesus.

O Natal, enfim, é nosso curvar a esse Mistério. É aceitar o que fez de um homem frágil, que não conseguia sozinho carregar a cruz, o Maior dos maiores.

Por isso, não podemos esquecer o Natal havido no ano zero. Mesmo com toda dificuldade e pobreza, surgiram a estrela, Baltazar, Belchior, Gaspar, incenso, ouro e mirra. Pensar diferente, nos dias de hoje, seria desonrar a memória daquele que veio para nós e até nós.

>> Leaving New York; Around The Sun; R.E.M.
>> Novo Processo Civil Brasileiro; José Carlos Barbosa Moreira; Forense

Saturday, December 05, 2009

PII


"Neste hotel, viveu seus derradeiros dias o Imperador do Brasil, Dom Pedro II. Grande patriota, protetor das ciências e das artes, amigo de seu povo"
Em 5 de dezembro de 1891, no quarto 18 do Hotel Bedford, Paris, morria o Imperador D. Pedro II. Antes de sucumbir, o monarca pediu um travesseiro no qual houvesse terra brasileira para servir de apoio a sua cabeça. A transcrição acima é de uma placa colocada à porta de entrada do hotel.

Nas palavras do Novo Dicionário Dinâmico da Língua Portuguesa, Priscila Morales descreve: “Nenhum monarca desceu do trono com tanta dignidade e moral tão elevada quanto Pedro II. Foi um soberano inatacável, cultivava o direito, a justiça e a tolerância como pontos básicos de seu governo. Recusou uma pensão que a República lhe oferecera, jamais acusou aos que o traíam e nunca, no exílio, deixou um só momento de interessar-se pelos problemas da pátria distante. Protetor das artes e das letras, fomentador da imigração, difusor da instrução pública, amigo do progresso, Pedro II ainda hoje merece o respeito e a admiração dos brasileiros”.

Para quem mora em Brasília nos dias que correm, as citações deixam saudade. Uma pena.

>> Vagabond; Wolfmother; Wolfmother
>> Memorial de Aires; Machado de Assis; Obra Completa

Sunday, November 22, 2009

Os Outros: Zappa

"Um país não pode ser um país de verdade se não tiver ao menos uma cerveja e uma empresa aérea. Ajuda se tiver uma equipe de futebol, ou armas nucleares, mas o mais importante é a cerveja."

O glorioso Frank Zappa, a filosofar.

>> The Killing Jar; Siouxsie And The Banshees; Peepshow
>> Teoria Pura do Direito; Hans Kelsen; Martins Fontes

Tuesday, November 17, 2009

Conselhos ao B.

#9 Sempre devolva o carrinho do supermercado
Abondonar o carrinho no meio do estacionamento é deseducado e implica alguém ter que colocá-lo de volta ao lugar. Esse alguém deve ser você.

>> Fly One Time; Ben Harper; White Lies For Dark Times
>> O Fantasma; Robert Harris; Record

Thursday, November 12, 2009

Uniban x UNBiners

Pois é, parece ter faltado formosura e encanto ao protesto dos alunos no Cerrado. Talvez, caso estudassem no Leblon, os prezados não se aventurassem de forma tão... digamos, "solta".

Lex

Em alguns lugares por aí, hoje é 04 de agosto de 2009.

Tuesday, September 29, 2009

Efeméride 101

Caro Machado,

Não sejas temperamental. Ainda faltam algumas horas até o fim do dia. Tenho tempo para uma modesta homenagem a sua ausência.

Cento e um anos? Quem diria que ainda te leriam por aqui.

Às vezes penso que o destino se cumpriu, meu caro. Tu mesmo foste um dos primeiros a dizer que a história deve ser contada por aqueles que já foram. O velho Brás Cubas está aí para me confirmar.

Sabes, Machado, nem sempre tenho certeza se algum dia tu realmente foste embora. Nem sempre. OK, talvez tenha faltado o livro definitivo, a coroação depois das Memórias Póstumas. Embora eu não concorde, os críticos vivem dizendo: “Machado foi perfeito, mas faltou dar continuidade ao seu melhor romance”. Chatos, ora bolas, tu os sabes.

Enfim, mal consigo imaginar se um dia surgirá outro brasileiro bacana, a escrever o cotidiano de modo tão refinado e certeiro. Graciliano e Guimarães foram muito bons, mas faltou-lhes a ironia, a graça. Eram comunistas, pombas. Viam leveza apenas no sofrimento do homem. Tu, meu velho, foste diferente: a angústia humana era teu gracejo.

Talvez não te recordes, mas fomos apresentados lá pelo final da década de 1980. Uma professora de redação nos aproximou. Fomos amigos desde então, meu caro.

Quiçá seja impossível lhe agradecer pelos papos sempre intermináveis, por dizer o que não se queria falar. Acima de tudo, por teu conforto dentro da angústia.

Ora, é verdade. Todos sabemos que o homem escreve para matar a morte. Tu não o fizeste diferente: redigiste o primeiro livro escrito por um morto. Mataste a morte duas vezes.

Alguns de tua época não te perdoaram por ter escrito sobre a vida assim, tão despudoradamente. Deixaste-os nus perante todos, camaradinha. Ironicamente, talvez por isso, tens a admiração que mereces. De qualquer forma, não há raciocínio nem documento que nos explique melhor a intenção de um ato do que o próprio autor do ato, tu mesmo te gabavas de dizer.

As coisas não estão boas por aqui, sabes. Ontem lançaram uma terceira edição de “A Cabana” e o Dan Brown continua a se esfalfar na língua do Bardo. Há, até, uma geringonça que promete matar os livros. O Paulo Coelho, também ele, mantém a produção. Esquecidos, meu amigo, não lembram que a imaginação e o espírito têm limites. Parecem não ter aprendido que escrever é uma mera questão de colocar acentos e, assim, continuam a florear o papel.

Continuam, eles, a não nos respeitar – na verdade, estão longe disso. Ainda bem que tu não estás aqui para saber de algumas coisas.

Embora alguns amigos digam que tu estás datado, todos continuam a lê-lo – e não só por quinze meses e onze contos de réis. Eu sorrio e sigo em frente: o melhor drama está no espectador e não no palco, lembra-me.

Sinto saudades, sobretudo. A patroa, respeitosa, também sente tua falta. Sempre falamos de ti. Outros amigos - sábios - mandam lembranças. Sentem a nostalgia de tua imoralidade.

Continuamos, pois. Sem sentenças latinas, ditos históricos, versos célebres ou brocardos jurídicos. Claro, os discursos de sobremesa continuam a exigir esses floreios. Nós, todavia, leitores teus, entendemos a ironia e ficamos calados quando batem a ponta da faca no meio do copo e pedem a palavra. De modo desbragado, eles falam. Nós continuamos quietos, Machado, a esperar um telefonema teu.

Até mais ver. Abraços e recomendações a Dona Carolina.

>> The Cutter; Echo & The Bunnymen; Porcupine
>> O Novo Processo Civil Brasileiro; José Carlos Barbosa Moreira; Forense

Thursday, September 24, 2009

F#@$

Ontem, após ver o o discurso do Presidente Lula na ONU, lembrei-me de uma situação que presenciei recentemente. O caso aconteceu em um proeminente gabinete da Esplanada e foi um tanto inusitado.

Estavam no recinto cerca de 10 pessoas. Na TV, transmitia-se a cerimônia de lançamento do Pré-Sal, mais precisamente o discurso de Lula. Eis que, silêncio na sala, um luminar acima de qualquer suspeita afirmou, algo intropesctivo: "Esse cara é f+$#. O mundo está acabando e ele quer que se f#$@".

O comentário, ao contrário do que parece, foi respeitoso, quase idólatra. Cai o pano.

>> There She Goes Again; Dead Letter Office; R.E.M.
>> O Novo Processo Civil Brasileiro; José Carlos Barbosa Moreira; Forense

Saturday, September 19, 2009

It's Snowing


>> Ronca-Ronca; 15/09/09; Oi Fm Stream
>> Revista Piauí; Setembro

Tuesday, September 15, 2009

Conselhos ao B.

#8 Seja pontual
Auto-explicativo

>> Surfando Karmas & DNA; Engenheiros do Hawaii; Acústico MTV - Engenheiros
>> Revista Piauí; Setembro-2009

Friday, September 04, 2009

20, 30 e 48

O mundo mudou, senhores. Mídia Social é o nome da pós-pós-modernidade.



>> Relator; Pete Yorn & Scarlett Johansson; Break Up
>> Mercosul

Friday, August 28, 2009

Gripe Dilm-A

Essa é do ex-blog do César Maia:

"Um levantamento feito esta semana por um deputado do PT, junto a deputados federais e senadores, todos do PT, mostrou um flagrante pessimismo com a candidatura de Dilma Rousseff. Um dos consultados disse que o episódio Dilma x Lina é de um primarismo atroz, que só reafirma a inexperiência política parlamentar de Dilma. Um político não atira para baixo, disse. Um ataque de um vereador a um deputado é respondido por um vereador, nunca pelo deputado. Uma insinuação da ex-secretária da receita à uma candidata a presidente deveria ser absorvida por Dilma com poucas palavras: -É provável o encontro, mas o sentido foi outro. E chega. E em seguida um deputado federal entraria batendo. E nunca mais trataria do tema.

Outro consultado afirmou: - Se essa inexperiência como ministra poderosa e candidata de Lula dá nisso, imagine como presidente as trapalhadas que viriam. O levantamento indica que esse pessimismo já entra nas reuniões formais do PT em nível regional, nas rodinhas, nas conversas e nos almoços e jantares. E concluiu: Ou se tem um antivírus político rápido, ou seremos todos contaminados pela Gripe Dilm-A. Dilma se encontra isolada e acuada em seu gabinete, com medo do contato com a imprensa e do contato direto com o eleitor. Vamos ter que montar comícios com nós mesmos."

>> Love You Like Mad (All That You Can't Leave Behind Sessions); U2; Medium, Rare And Remastered
>> Enjaulados; Marcelo Auler; Gryphus

Thursday, August 06, 2009

Conselhos ao B.

#7 Use o cinto de segurança.
Você não se arrependerá.

>> George II; George Otsuka Quintet; In Concert
>> Novas Perspectivas do Direito Internacional Contemporâneo; Carlos Alberto Menezes Direito & Outros; Renovar

Thursday, July 30, 2009

Tio Sérgio


Após dois anos de guerra contra um câncer atroz e um último mês particularmente duro, morreu meu tio, ontem. Partiu cedo.

Mesmo com nossa inicial correria em busca de passagens e de acomodar os compromissos diários, não foi possível ir até o Rio de Janeiro. A brutalidade da doença e o sofrimento final recomendavam uma cerimônia rápida e inconciliável com os horários dos aviões.

De certa forma, é estranho e difícil juntar os cacos quando se está longe. Pois é.

Tio Sérgio era calado, taciturno até, mas adorava viver. Tinha a casa sempre cheia, gostava de vê-la desse modo. Em geral, nos muitos verões em que viajávamos todos, havia sempre cervejas, churrascos e alegria.

Nasceu no Rio de Janeiro, Itaboraí, em casa, como se costumava fazer antigamente. Incapaz de brigar – abominava confusões -, era um dos maiores conciliadores que conheci. Possuía, ainda, um total fascínio pelo que era novo. E, por isso, foi a pessoa mais absolutamente sem rancor que jamais conheci.

A memória mais antiga que possuo para com ele é a de um churrasco em particular. Começo dos anos 80, no sítio em Itaboraí. Estou na piscina, dia azul-dourado (o carioca entende), 40ºC, início de verão no Rio de Janeiro. Sentado em uma bóia, com metade das pernas na borda da piscina, vejo-o chegar com um saco de carnes. Na passada, assoviando, ele ameaça pisar em minhas pernas e fala: “vidão, hein”. Apenas para seguir em frente, com a imensa tranqüilidade que sempre lhe foi peculiar. Disse: “vamos ali, assar essas belezinhas”. Trazia consigo sempre alguma coisa para mim ou meu irmão: pães, revistinhas, peixes, briquedos. O Atari e o primeiro Reebok chegaram a nós por meio dele.

A maioria dessas lembranças vem dos verões nos quais passamos juntos. De certa forma, tudo era um contínuo verão: meus primos, a lancha, Cabo Frio, Juva, camarões, a praia do Forno. Sempre fazendo beliscos, bebidinhas e sorrindo. Ele sorria muito.

Ir para a Região dos Lagos era uma viagem que adorávamos. O que me enchia de alegria era quando cruzávamos a ponte da Casa da Ilha. Um caminho que, creio, me é impossível esquecer.

Certa vez, no começo desta década, ele reuniu toda a família em uma Semana Santa em Angra dos Reis. O mar sempre foi um de seus assuntos favoritos. Gostava de praias, pescarias e tudo que tivesse ligação com o sabor da maresia. Lembro-me de suas descrições sobre como era fisgar um “Peixe de Bico” no oceano distante. “Só dá na água roxa”, ele dizia. Vivia tudo aquilo intensamente. Sua diversão ia além da pesca propriamente dita: apreciava os preparativos, os amigos. Não lhe importava se voltássemos vazios, sem pescar nada. Valia a alegria do encontro.

Nos anos difíceis, foi um dos poucos a ficar perto de nós. Manteve a graça e continuou a viver como se nada houvesse acontecido - era um mestre nessa arte. Lembro-me de ter precisado vender meu carro, ficando a pé por um bom tempo. Ele me emprestou um Escort XR3 velho como só, “um homem precisa de rodas”, dizia. Anos depois, quando vendi o escortinho e fui acertar as contas, ele disse: “fique com o dinheiro, o velho XR3 já era seu a muito tempo”. Respondi de imediato: “Obrigado, tio, as coisas andam difíceis”. Ele me sorriu. “Não se preocupe, sempre melhora”, respondeu.

Viveu em sossego consigo. Um sossego próprio, isolado.

Nossas conversas aconteciam sempre de modo “silencioso”. Ele possuía uma maneira incomum de perceber as coisas e responder ao que era questionado. Quase sempre, trazia respostas curtas, precisas. Talvez este dom, o da compreensão absoluta do todo, tenha sido seu maior talento. Quiçá, aliado a sua alegria, seja o que eu vá sentir maior falta.

Aliás, a falta é dos sentimentos que mais incomodam. Sobre isso, recordo-me de um conto escrito por Julian Barnes. Chama-se "Eternamente" e trata da irmã de um soldado inglês que morrera na Primeira Guerra Mundial e fora enterrado na França. Em uma visita ao cemitério, ela “retirou a ultrajante grama francesa e substitui-a pela grama inglesa mais macia” sobre a sepultura de seu irmão. No ano seguinte, porém, ela constatou, desolada, que seu trabalho fora desfeito: “a grama francesa voltara". Os mortos morrem para sempre, óbvio. Malgrado nosso esforço, a vida segue, mas eles não voltam.

Ocidentais que somos, temos um relativo conforto em lembrar que continuam vivos no chavão de nossas memórias. Sobre o mesmo assunto, outro autor, Roland Barthes, escreveu certa vez: "A morte, a verdadeira morte, é quando morre a testemunha mesma. Chateaubriand diz de sua avó e de sua tia-avó: 'talvez seja eu o único homem do mundo a saber que essas pessoas existiram': sim, mas como ele o escreveu, nós também o sabemos, desde que pelo menos leiamos ainda Chateaubriand".

Talvez, por isso, redigi esse texto. Uma tentativa de matar a morte, curar a dor. Enquanto houver alguém que passe por aqui e leia o que escrevi, haverá um Tio Sérgio para recordar. Na verdade, difícil saber o que dói mais: a perda ou esse maldito egoísmo que nos faz querer que eles fiquem para sempre por aqui. De qualquer modo, deixo minha singela – e última - homenagem. Obrigado por tudo, meu velho. Deslize suavemente até o grande Pai, tenha paz.

>> Viva La Vida; Coldplay; LeftRightLeftRightLeft
>> Varennes

Wednesday, July 29, 2009

Helo Computer

Essa semana, duas pequenas notícias fizeram-me refliter sobre qual estágios estamos em relação a tecnologia e a modernidade. Encontrei ambas no Gizmodo.

A primeira falava sobre um experimento que transformou alumínio em um estranho e completamente novo material. Realizado nos laboratórios Flash (o nome não é piada), na Alemanha, os cientistas criaram um novo tipo de estado da matéria, transformando alumínio em algo que "ninguém nunca viu antes". O material é tão exótico que fica invisível se exposto à radicação ultra-violeta.

Segundo Justin Wark, um dos malucóides do Departamento de Física em Oxford, é quase o mesmo que transformar chumbo em ouro, utilizando nada mais do que luz. Por um lado, a experiência pode trazer todos os tipos de inovação: de Macbooks invisíveis a uma explosão total do planeta. Por outro, depois de trilhões de dólares e muito tempo gastos, descobrimos que a alquimia é possível.

A segunda matéria falava de um super-submarino desenvolvido pelo "complexo industrial-militar" norte-americano. Em síntese, o bichano poderá ser três vezes mais veloz do que os subs atuais, apenas utilizando uma "colcha" de ar em volta de seu casco. Em tese, essa proteção iria eliminar o atrito do água com a nave. Na prancheta, a idéia parece ser uma beleza. No teste da realidade, todavia, o projeto provoca indagações... e algumas risadas.

A idéia é engraçada porque a maioria dos submarinos gasta a maior parte da vida navegando em velocidades mínimas, exatamente para tentar manter-se o mais "indetectável" possível. Ou seja, fugir de sonares passivos é a essência da atividade submarina: quanto menos barulho, menor a chance de sua nave ser encontrada.

A idéia de silêncio é tão preciosa que chegou a criar um adágio no meio militar. Por exemplo, os submarinos balísticos da classe Ohio são conhecidos por serem mais silenciosos do que o próprio meio ambiente.

Dessa forma, nossos caros cientistas militares parecem ter um problema: como fazer silencioso um troço que vai andar a quase 1oo nós e que, ainda, vai trazer um colchão de ar em torno de si. Virtualmente impossível, eu diria.

A meu ver, há um outro problema: a tal proteção de ar vai acabar se perdendo conforme o submarino navegar e, invariavelmente, alcançará a a superfície.

Assim, a super-modernosa-ultra-rápida máquina de guerra vai deixar um rastro de bolinhas de ar ao longo do oceano. Mais ou menos como a fumaça daqueles trenzinhos choo-choo dos antigos desenhos animados. Uma graça para os inimigos.

Como diria Einstein: "Deus não joga dados". Por mais que tentemos curvar as leis da físicas, algumas permanecem inalteráveis. De certo modo, é inevatável não lembrar da antiga piada sobre a caneta da Nasa. Enquanto os americanos gastaram milhares de dólares desenvolvendo um instrumento que trabalhasse em ambiente de gravidade zero, os russos utilizaram somente um lápis. Fica a pergunta: para que tanta tecnologia?

>> Monstro Invisível; O Rappa; 7 Vezes
>> Varennes

Tuesday, July 21, 2009

Conselhos ao B.

#6 Você tem responsabilidades.
Essa é uma idéia complexa, mas tenho certeza que você sair-se-á bem. Conforme cresça, você irá perceber que, em cada estágio da vida, haverá responsabilidades e interações com atores os mais variados: sua família, os amigos, o governo e, até, seus bichos de estimação. Queira ou não essa responsabilidade, ela exisitirá.

>> Amanhã Eu Vou; Luiz Gonzaga; Luiz Gonzaga e Fagner
>> Renato Russo - O Filho da Revolução; Carlos Marcelo; Agir

Saturday, July 18, 2009

Candangas

"Explicai a vossos filhos o que está sedo feito agora. É sobretudo para eles que se ergue essa cidade-síntese, prenúncio de uma revolução fecunda em prosperidade. Eles é que nos hão de julgar amanhã."

Apenas para fechar o ciclo sobre Brasília, está aí um pequeno excerto do discurso de inauguração da cidade. Proferido pelo Presidente Juscelino Kubitschek em 1960, o texto é fino como só. Outros tempos... e outros políticos, ora bolas.

>> Empty Shell; Cat Power; The Greatest
>> Renato Russo - O Filho da Revolução; Carlos Marcelo; Agir

Tuesday, July 14, 2009

Efeméride

Majestade, vós sois um estranho nesta assembléia e não tendes o direito de aqui se pronunciar.”
Mirabeau, em 17 de junho de 1789, quando o Terceiro Estado proclamou-se Assembléia Nacional: 220 anos atrás, portanto. Antes que você reclame, eu sei que hoje - 14 de julho - é o dia da queda da Bastilha. A frase do velho Mirabeau é irresistível, porém.

A verdade é que, em 17 de junho, o Rei já não governava mais nada. Talvez, apenas ele tenha se desapercebido desse pequeno detalhe.

>> Big Ideas; LCD Soundsystem; 21 (Music from the Motion Picture)
>> Eles Foram Para Petrópolis; Ivan Lessa & Mario Sergio Conti; Companhia das Letras

Saturday, July 11, 2009

Carta Para Clarice


Cara Clarice,

Faz cinco anos que estamos aqui. 1826 dias respirando solidão no Planalto Central. Sei que você não aprovou a cidade. Chegaste a escrever que "a alma aqui não faz sombra no chão". Eu discordo, minha cara.

Calma, calma, não leve a mal. Já explico.

Gosto de Brasília, da mesma maneira que o Mario Sergio gosta. Gosto do monumentalismo de Niemeyer, dos carros que não buzinam e dos canteiros floridos do Roriz.

Gosto, também, da onipresença do sol e do horizonte sem fim. Gosto, até, do demodê estampado nos carpetes das repartições públicas e suas horrendas divisórias de madeira. O cafezinho às vezes é bom, inclusive.

Você pode dizer: como alguém atura algumas músicas produzidas por lá, poxa? Eu falo, tudo bem, a cidade tem seus pontos baixos. Falta praia, por exemplo - o Arruda está dizendo que vai fazer uma no Lago Norte, vamos ver.

De qualquer modo, gosto do ar seco e do céu azul-azul. Da imensidão de sotaques, dos calorosos tapas nas costas, dos segredos que todo mundo sabe, dos muitos - atuais - restaurantes, das águas tranquilas do Lago Sul (hoje, por coincidência, ele estava uma finura), da Esplanada e suas luzes. Gosto daqui.

Sabe, Clarice, escrevi certa vez que o Cerrado traz reminiscências. É fato... e assunto para outra carta. Fique bem.

>> Bra; Cymande; Ronca-Ronca
>> Eles Foram Para Petrópolis; Ivan Lessa & Mario Sergio Conti; Companhia das Letras

Thursday, July 09, 2009

Ufanismo

De certa forma, aos tropeços, a sociedade brasileira avança. Por exemplo, até onde sei, ninguém se deu conta do vácuo ocorrido na cadeira da presidência ontem. Explico-me: Lula estava/está na Europa, José Alencar foi internado às pressas no Sírio-Libanês e Michel Temer tranquilamente presidia a sessão da Câmara dos Deputados na qual se votava a reforma eleitoral.

Pois bem, no final da tarde de ontem - e, salvo engano, até hoje - não havia nenhuma alma batendo ponto no assento maior da República. Felizmente, não houve uma voz maluca a bradar: "delcaro vaga a cadeira da presidência...". Progredimos, portanto.

Penso que esse pequeno evento mostra progresso na estabilidade institucional para a qual começamos a caminhar em 1988. Ainda falta muito, decerto. Mas é alvissareiro saber que a lacuna não provocou terremotos institucionais... ao menos até agora.

>> Nightswimming; R.E.M.; ...
>> Eles Foram Para Petrópolis; Ivan Lessa & Mario Sergio Conti; Companhia das Letras

Conselhos ao B.

#5 Veja Guerra nas Estrelas, Caçadores da Arca Perdida e todos os filmes do Spielberg.
Conversamos depois.

>> Gin House Blues; Nina Simone; Best of Colpix Years
>> Revista Piauí; Julho-09

Saturday, July 04, 2009

Proposta

Recentemente, foi apresentada na Câmara dos Deputados a PEC 341/09, que sugere um “enxugamento” da constituição brasileira. Grosso modo, um debate a fim de dinamizar a constituição parece ser alvissareiro, porém, as opiniões sobre o assunto têm sido bastante intensas - tanto a favor quanto contra a idéia.

Apenas para se ter uma dimensão da PEC, a proposição almeja reduzir os artigos da Constituição dos atuais 250 para apenas 70. O ADCT, por sua vez, passaria a ter somenta um artigo, a dispor que toda matéria suprimida do Texto Magno continuará em vigor até sua substituição por meio de leis complementares ou ordinárias – tal iniciativa teria o desígnio de evitar um vácuo legislativo. A proposta está em análise na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara, e foi apresentada pelo Deputado Régis de Oliveira, que é desembargador aposentado e professor de direito constitucional em São Paulo.

A fim de atingir o objetivo da proposta, o parlamentar propõe remover da CF todo e qualquer assunto alheio à estrutura dos Poderes da União, à forma de exercício desses poderes e aos direitos e garantias individuais. Desse modo, seriam extraídos temas como o sistema financeiro, a saúde, o meio ambiente e a estrutura do judiciário, entre outros. Todas essas matérias passariam a ser reguladas por leis outras que não a Constituição.

Apesar da boa vontade do Deputado Oliveira, o tema deve levantar muitas polêmicas, haja vista que a PEC pretende alterar, também, o mandato do Presidente da República, o “tempo de serviço” dos Ministros do STF (passaria a haver um limite de 9 anos), além de excluir totalmente o rito das medidas provisórias. No entender do Parlamentar, tais mudanças não prejudicariam nenhum direito já adquirido e a proposta de alteração constitucional iria acabar com as muitas emendas que nossa Lei Maior já possui. O Parlamentar destaca, ainda, que países mais avançados, como Estados Unidos e Inglaterra, já possuem textos liberais, mais enxutos e estáveis do que o nosso.

Obviamente, o Deputado Régis de Oliveira possui credenciais que inibem qualquer crítica. O congressista talvez seja um dos mais experientes a atuar na CCJC. Todavia, dada a intensidade do tema – e a curiosidade que desperta – vale arriscar-se a escrever algumas linhas sobre o assunto.

Decerto, nossa constituição é excessivamente minuciosa algumas vezes. Entretanto, essa característica decorre do momento de sua elaboração: o país saía do período militar e todos os grupos sociais queriam garantir seus direitos da melhor maneira possível – nada mais natural e democrático. Assim, malgrado a extensão da CF, creio que o esforço maior deveria ser em favor de implementar a boa vontade do constituinte originário, e não reduzir seu alcance. Há aspectos positivos – e até hoje inovadores – que não deveriam ser removidos do Texto Maior. A parte ambiental, por exemplo, é muito avançada e coloca o Brasil na dianteira de tema relevantíssimo ao mundo moderno. Por si só, a mera definição do que deva ser removido pode afetar o prestígio do Texto de 1988, certamente a mais avançada constituição que o Brasil já teve e uma das mais progressistas do mundo.

O próprio aspecto liberal – que o Deputado Régis ressalva – merece ser analisado com cuidado. Nosso passado nunca foi muito brando com as iniciativas liberais incutidas no seio constitucional. Foi assim em 1824, para citar apenas um caso. O texto de 24, liberalizante e influenciado pelos revolucionários franceses, patenteou-se como instável e suscitou diversas atribulações políticas que não seriam recomendáveis nos dias que correm. Exatamente pelo fato de os temas não estarem elencados na constituição, eram considerados menores ou, então, dispensáveis. Dessa forma, apesar de termos evoluído muito desde 1824, ainda há elementos geradores de instabilidade que permanecem em nossa sociedade. Talvez, o conservadorismo seja a maior dessas marcas.

Outro aspecto que merece observação é a estrutura a ser atribuída ao ADCT. Caso aprovado o projeto, as disposições transitórias passarão a conter apenas um artigo , regendo: “toda matéria suprimida da constituição continuará em vigor até sua substituição pela legislação complementar ou ordinária prevista”. Em essência, tal artigo é forçosamente inconstitucional. Vejamos.

Os congressistas de 88 foram bastante claros acerca dos temas considerarados “constitucionalmente” relevantes. Tamanha foi a preocupação dos constituintes que, à época, entenderam 250 itens como merecedores dessa característica - não por acaso, a constituição que temos.

Ao ressalvar que os itens removidos devem continuar na CF até serem regulados por leis ordinárias ou complementares, a Emenda vai deixar na constituição matérias que não mais serão constitucionais. Em outras palavras, a idéia é mais ou menos essa: os 180 itens removidos vão continuar na CF - sem status constitucional, embora estejam no Texto Maior - até serem regulados por leis que exigem quórum inferior ao das Emendas Constitucionais para que sejam deliberados.

Parece haver grave contradição nesse caso. O constituinte originário instituiu rígido quórum para a alteração dos preceitos constitucionais, que não devem ser alterados por mecanismos avessos à deliberação constitucional precisamente dita.

O próprio Supremo Tribunal Federal já teve a oportunidade de se manifestar sobre o tema. Na ocasião, o Ministro Moreira Alves relatou o voto condutor do leading case no STF (a leitura é recomendada). Em sua opinião, a constituição não pode se contradizer, trazendo em seu corpo texto que não é constitucional, sob pena de ela – constituição – deixar de ser...hã... constitucional.

É preciso entender que nossa constituição é um patrimônio, não um fardo. Devemos - com ela e a partir dela - tentar constituir um país melhor. As célebres palavras do Deputado Ulisses Guimarães, na promulgação do Texto de 1988, foram - e ainda são - premonitórias: “a Constituição certamente não é perfeita. Ela própria o confessa, ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca”. Apenas a estabilidade temporal do texto pode contribuir na construção da sociedade que almejamos.

>> Fátima; Capital Inicial; Acústico MTV
>> Antes de Nascer o Mundo; Mia Couto; Companhia das Letras

Tuesday, June 30, 2009

Os Outros: Fernando Pessoa

"Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer (...)".
Fernando Pessoa, em carta escrita a Mário de Sá Carneiro no dia 14 de março de 1916. Tempos atribulados, enfim.

>> O Mundo é um Moinho; Cartola; Cartola 2
>> Antes de Nascer o Mundo; Mia Couto; Companhia das Letras

Saturday, June 27, 2009

MJ

Bombardeado pela mídia após a morte do MJ, fico cá pensando como é estranho esse tempo no qual vivemos. Acho lamentável termos que discutir sobre as causas, o “porque tão cedo” ou sobre a última ligação da casa do astro para o serviço 911. Para mim, Mr. Jackson sai da vida exatamente como a enfrentou: tragicamente.

Penso que, no caso dele, tudo não passa de uma imensa tragédia pessoal, interminável ao longo dos anos e sobre a qual não há muito a dizer. Acima de tudo, infortúnios criados por ele e pela mídia – a mesma que o explora post-morten – geraram esse híbrido melancólico-pop no qual o astro se tornou. O site de “O Globo”, por exemplo, tem nada menos do que 6 manchetes “michaeljackianas” apenas na primeira página. Lamentável.

Fica a pergunta: Michael Jackson foi o grande artista pop de nosso tempo ou foi apenas um freakzóide pedófilo e megalomaníaco? Não sou muito fã da musica dele, portanto, fico com a segunda opção. Por óbvio, meu posicionamento não é o mesmo da maior parte das pessoas do planeta.

Por isso, no mínimo, serão duas semanas ouvindo “Billy Jean” em tudo que produza algum tipo de som. Conforme disseram o Sérgio Leo e a Arye, até acharem a caixa preta da morte do Mr. Thriller, é melhor tirar os querubins da sala.

O mais esquisito de tudo é que ninguém parece avaliar os reais acontecimentos na vida e na morte do popstar. Beat it, ligações para o 911, disparada nas vendas de CDs, homenagens várias, o rei do pop silenciado: em Neverland, além do Michael, ninguém atingiu seu destino.

>> God Put a Smile Upon Your Face; Coldplay; Live 2003
>> Varennes

Friday, June 26, 2009

Conselhos ao B.

#4 Conheça profundamente a constituição brasileira, a história do país e a história mundial moderna.
Uma decorrência do conselho anterior.

>> Lose You; Pete Yorn; Musicforthemorningafter
>> Retalhos

Conselhos ao B.

#3 Você é brasileiro
Quer ame seu país ou não, jamais esqueça sua nacionalidade. Ao contrário do que dizem, nosso passado não foi o equívoco que podem lhe querer aparentar.

>> Complicated Shadows; Elvis Costello; Secret, Profane and Sugarcane
>> Retalhos

Tuesday, June 23, 2009

Pornopopéia

Acabei de ler o último fenômeno hype da literatura brasileira: “Pornopopéia”. Malgrado tenha sido uma leitura muito divertida, o livro deixou-me uma sensação ambígua. Sinceramente, não sei dizer se o texto é bom ou ruim. Soa estranho, mas vou tentar explicar.

O autor, Reinaldo Moraes, utiliza-se da língua portuguesa com total desbunde e pouco respeito ao formalismo. De certa forma, ele introduz sujeira, humor, inteligência e falta de modos por meio de vocabulários e sintaxes ao mesmo tempo ricos e desregrados. E isso é a parte boa.

Parece, sem exageros, uma mistura de Guimarães Rosa com Jack Kerouac e William Burroughs, tudo mais ou menos representado no Grande Lebowski. Estranhamente, o livrão (quase 500 páginas) transcorre prazeroso, com uma leitura que me foi rápida - a despeito dos muitos palavrões e de alguma gratuidade em relação às passagens com sexo.

Ao longo do livro, o personagem principal, Zeca, envolve-se em todo tipo de porralouquice, enfurnando-se em altíssimas doses de álcool, drogas pesadas e pornografia grosseira. Apesar de tudo isso – e de o sujeito ser a antítese do herói -, o tal zequinha carrega grande empatia. Em alguns momentos é impossível não torcer para que suas loucuras dêem certo ou que ele consiga se livrar das furadas nas quais se mete constantemente.

Cineasta falido, viciado e frequentador contumaz da Rua Augusta, o cara é um beatnik pós-moderno: muito inteligente e culto, mas desvinculado de qualquer ética ou cordialidade. Sobretudo, o Sr. José Carlos é voltado puramente para seu “eu” pragmático e individualista (não é redundância, leia e entenda). Não à toa, lembrei-me imediatamente do início de Trainspotting, “choose life”, citado dias atrás por aqui: Zeca limita-se a choose his life.

A leitura é instigante, quase impossível de parar. O problema é que, em algumas passagens, o autor carrega demais nas tintas, tornando o resultado meio exagerado – o que não estraga as partes engraçadas e as boas sacadas textuais. Por exemplo, é um prazer procurar citações ocultas no livro: as loucuras vocabulares, unificando a cultura do personagem à literatura clássica, estão presentes em toda a obra.

Decerto, não é um livro que o Governo Federal possa distribuir às crianças do ensino médio paulista. Todavia, é estranho sentir prazer na leitura dessa fórmula ultraexagerada. Grosso modo, o autor extrapola tanto nas tintas que acaba quase por comprometer a segunda parte do livro, quando nosso zequinha chega em Porangatuba (praia fictícia). O segundo trecho é visivelmente mais fraco do que o primeiro. Daí o motivo de minhas duvidosas qualificações de “bom ou ruim”, conforme escrevi acima.

Estranho, pois é. Tudo tão esquisito que, acho, esse post também ficou assimétrico. Por favor, leiam as linhas iniciais do primeiro capítulo e digam o que acham. Para aqueles que gostarem, boa sorte no mundo pornopopéico:

“Vai, senta o rabo sujo nessa porra de cadeira giratória emperrada e trabalha, trabalha, fiadaputa. Taí o computinha zumbindo na sua frente. Vai, mano, põe na tua cabeça ferrada duma vez por todas: roteiro de vídeo institucional. Não é cinema, não é epopéia, não é arte. É — repita comigo — vídeo institucional. Pra ganhar o pão, babaca. E o pó. E a breja. E a brenfa. É cine-sabujice empresarial mesmo, e tá acabado. Cê tá careca de fazer essas merdas. Então, faz, e não enche o saco. Porra, tu roda até pornô de quinta pro Silas, aquele escroto do caralho, vai ter agora “bloqueio criativo” por causa dum institucionalzinho de merda? Faça-me o favor.
Ok, chega de papo. É só dirigir a porra da tua mente pra nova linha de embutidos de frango da Granja Itaquerambu. Podia ser qualquer outro tema, os cristais de Maurício de Nassau, a cavalgada das Valquírias, a vingança dos baobás contra o Pequeno Príncipe. Que diferença faz? Pensa que são os embutidos de frango do Nassau, a cavalgada das mortadelas, a vingança dos salsichões contra o Pequeno Salame. Pensa no target do vídeo: seres humanos a quem coube o karma nesta encarnação de vender no atacado os produtos da Itaquerambu. Pensa no evento em que o teu vídeo vai passar — vários eventos, aliás, todos no mesmo dia em todas as filiais do Brasil. Os seres humanos vendedores de embutidos verão teu vídeo e serão apresentados ao salsichão, ao salame e até à mortadela de frango, heresias saudáveis em matéria de junkyfood que a Itaquerambu vai lançar no mercado. Mesmo a tradicional salsicha e a insuperável lingüiça de frango vão ser relançadas com outra formulação, segundo eles dizem. Quer dizer, em vez do jornal reciclado de praxe, os putos vão adicionar algum tipo de pasta de lixo orgânico pasteurizado na mistura, imagino, mais uma contribuição da Itaquerambu para um planeta sustentável.
Porra, mas eu sou cineasta, caralho. Artista. Não nasci pra rodar vídeo institucional. E de embutidos de frango, inda por cima, caceta!
Calma, calma. Pensa que o teu vídeo será visto “de Passo Fundo a Quixeramobim, do Rio de Janeiro a Corumbá”, como disse o Zuba, ao sentir minha reação pouco eufórica diante do tema. “E capricha na linguagem brasileira universal, tá?”, foi o que ele me pediu, como se linguagem brasileira universal fosse uma das opções do Final Draft ou do Magic Screen Writer. Você clica em LBU e seu texto será entendido nos pampas, serrados, praias, selvas, semi-áridos e caatingas do país, sem contar os aglomerados urbanos e seus múltiplos guetos. Teu único filme de cinema até agora, por exemplo, nunca passou em tantos lugares ao mesmo tempo. Na caatinga, por exemplo, nunca foi visto. Não que se saiba.
Volto a perguntar: qual a diferença entre arte e embutidos de frango? Ou melhor: por que embutidos de frango não podem se transformar em arte?
Mas não precisa pensar nisso agora, nem em merda nenhuma que não seja frango embutido. Faz logo essa porra, porra. É bico: oito minutos de duração, um curta-metragem. Não vai matar o artista que há em você, amice. Ou havia. Ou nunca houve nem haverá. Foda-se.
É isso aí: vídeo institucional, embutidos de frango, Granja Itaquerambu. Beleza.
O que fode é o prazo. Sempre a porra do prazo. Tá ligado que esse roteiro tem que estar escrito, aprovado, rodado, entregue em mídia DVCAM, e exibido pros vendedores até 15 dias antes do lançamento da campanha na mídia? Ou seja, daqui a nove dias. Você devia ter chamado um bosta dum roteirista qualquer pra te ajudar, desses que filam cigarro e cerveja de mesa em mesa na Merça e não perdem chance de puxar uma lousa e dar aula sobre Hal Hartley e a narrativa cinematográfica interior aos substratos descontínuos da consciência dos personagens pra alguma gostosinha basbaque de peitinhos soltos dentro de uma camiseta de pano fino. Conheço vários roteiristas desse naipe. Dúzias deles, na verdade. Tudo uma corja de bebum cafungueiro desempregado du caraio. Por uma peteca de pó e duas Original você contrata na hora um deles. Se calhar, o infeliz ainda leva teu carro no mecânico pra trocar a fricção e te faz o obséquio de encarar uma fila de banco pra pagar tuas contas atrasadas.
Bullshit. Não preciso, nunca precisei de roteirista nenhum. Merda por merda, deixa que eu mesmo chuto. Só que dessa vez travei geral. E o cara da Itaquerambu tá no pé do Zuba, que tá no meu pé, que tô em pé de guerra com os embutidos de frango. Ridículo, isso. Fala sério: nem uma réles ideiazinha pro vídeo pintou ainda na tua cabeça, meu filho. Nem a porra duma idéia de merda.
Pois é, nem a idéia.
Tá foda.
Embutidos de frango.
Foda.”
>> No ha parado de llover; Maná; Arde El Cielo
>> Retalhos; Craig Thompson; Quadrinhos na Cia

Saturday, June 20, 2009

Conselhos ao B.

#2 Tenha um forte aperto de mão.
Esse é autoexplicativo.

>> Freddie Freeloader; Miles Davis; Kind of Blue
>> Pornopopéia; Reinaldo Moraes; Objetiva (Livro sensacional. Quando acabar a leitura, vou comentar por aqui)

Curtas

* Uma dica rápida: The Living Room Candidate. Todos os comerciais utilizados nas campanhas presidenciais norte-americanas desde 1952. Interessantíssimo, além de ser uma daquelas coisas que somente poderia ser feita acima do Rio Grande.

* Outra: o Pedro Dória "youtuba" um emocianente vídeo acerca dos eventos noturnos em Teerã. Caso você não saiba, os iranianaos - proibidos pelo regime de se manifestar - estão utilizando o escuro da noite para subir em seus prédios e gritar: "Deus é Grande" e "Morte ao Ditador".
De início, ao ler sobre esses eventos, pensei tratar-se de exagero da imprensa ocidental. Todavia, se você assistir ao vídeo, poderá ver que a intensidade dos gritos é impressionante. No link "youtubado" pelo Dória, a moça chora.
É história ao vivo. Como convém a nossos tempos pós-modernos.

* Mais uma: parece que o seriado do Dr. Gregory House é o show mais assistido no planeta. Segundo a Eurodata TV Worldwide, a turma do ficto "Princeton Plainsboro" foi acompanhada em 66 países, equivalendo, segundo o instituto europeu, a um estonteante 1,6 bilhão de telespectadores. Impressionante.
O problema é que o seriado do Dr. House tem perdido intensidade dramática. A última temporada, por exemplo, foi uma das piores desde que o show circulou pela primeira vez. Vamos ver o que nos aguarda na sexta "season".

>> Ohlahilahe; Moses Mchunu; Ronca Ronca - OiFm
>> Pornopopéia

P.S.: são 23:03 de 20 de junho de 2009 e o "Jornal das 10", da Globo News, acaba de apresentar ao vivo a mesma imagem que os iranianos fizeram na noite de ontem e que o PD "youtubou" hoje pela manhã. Realmente, vivemos tempos interessantes... e eles parecem não ter percebido.

Wednesday, June 17, 2009

Choose Life

"Choose Life. Choose a job. Choose a career. Choose a family. Choose a fucking big television, choose washing machines, cars, compact disc players and electrical tin openers. Choose good health, low cholesterol, and dental insurance. Choose fixed interest mortage repayments. Choose a starter home. Choose your friends. Choose leisurewear and matching luggage. Choose a three-piece suite on hire purchase in a range of fucking fabrics. Choose DIY and wondering who the fuck you are on a Sunday morning. Choose sitting on that couch watching mind-numbing, spirit-crushing game shows, stuffing fucking junk food into your mouth. Choose rotting away at the end of it all, pishing your last in a miserable home, nothing more than an embarrassment to the selfish, fucked up brats you spawned to replace yourself.

Choose your future.

Choose life."
O começo de Trainspotting, ícone dos anos 90.

>> Assinado Eu; Tiê; Sweet Jardim
>> Varennes

Tuesday, June 16, 2009

Primeiras Linhas

"Você vai começar a ler o novo romance de Italo Calvino, Se Um Viajante Numa Noite De Inverno. Relaxe. Concentre-se. Afaste todos os outros pensamentos. Deixe que o mundo a sua volta se dissolva no indefinido. É melhor fechar a porta; do outro lado há sempre um televisor ligado. Diga logo aos outros: "Não, não quero ver televisão!". Se não ouvirem, levante a voz: "Estou lendo! Não quero ser perturbado!". Com todo aquele barulho, talvez ainda não o tenham ouvido; fale mais alto, grite: "Estou começando a ler o novo romance de Italo Calvino!". Se preferir, não diga nada; tomara que o deixem em paz.

Escolha a posição mais cômoda: sentado, estendido, encolhido, deitado. Deitado de costas, de lado, de bruços. Numa poltrona, num sofá, numa cadeira de balanço, numa espreguiçadeira, num pufe. Numa rede, se tiver uma. Na cama, naturalmente, ou até debaixo das cobertas. Pode também ficar de cabeça para baixo, em posição de ioga. Com o livro virado, é claro.

Com certeza, não é fácil encontrar a posição ideal para ler. Outrora, lia-se em pé, diante de um atril. Era hábito permanecer em pé, parado. Descansava-se assim, quando se estava exausto de andar a cavalo. Ninguém jamais pensou em ler a cavalo; agora, contudo, a idéia de ler na sela, com o livro apoiado na crina do animal, talvez preso às orelhas dele por um arreio especial, parece atraente a você. Com os pés nos estribos, deve-se ficar bastante confortável para ler; manter os pés levantados é condição fundamental para desfrutar a leitura.

Pois bem, o que está esperando? Estique as pernas, acomode os pés numa almofada, ou talvez duas, nos braços do sofá, no encosto da poltrona, na mesinha de chá, na escrivaninha, no piano, num globo terrestre. Antes, porém, tire os sapatos se quiser manter os pés erguidos; do contrário, calce-os novamente. Mas não fique em suspenso, com os sapatos numa das mãos e o livro na outra. (...)"
Ítalo Calvino, em Se Um Viajante Numa Noite De Inverno. Insuperável.

>> Night Nurse; Simply Red; Reggae Lovers
>> Varennes

Sunday, June 14, 2009

Conselhos ao B.

#1 Sempre envie uma nota de agradecimento.
Parece ser um bom ponto de partida.

>> The Cientist; Coldplay; A Rush of Blood to the Head
>> Varennes - A Morte da Realeza; Mona Ozouf; Companhia das Letras

Wednesday, April 29, 2009

!

"When writing, cut out all those exclamation marks. For an exclamation mark is like laughing at your own jokes."
F. Scott Fitzgerald

>> Ronca Ronca; OiFm; Stream de 28.04.09
>> The Nine

Sunday, April 26, 2009

Tardiamente


No correr da semana, acabei esquecendo a conquista do nobre Alex Atala e seu D.O.M.: o restaurante subiu 16 posições na lista da "The S. Pellegrino World´s Best Restaurants 2009". Agora, o Chef é o 24º no ranking - posto relevantíssimo, especialmente se considerado que Ferran Adriá está no primeiro lugar.

Atala, para além de nossa brasilidade, representa o único restaurante latino americano no importante guia gastronômico. Não é pouca coisa, mesmo para nossos "complexos de vira-lata".

Figurar na lista por quatro anos consecutivos era, por si só, meritório. Manter-se em ascenção é motivo de orgulho ainda maior para quem torce por vitórias tupiniquins.

Desde o começo, o Chef brasileiro optou por uma mistura de sofisticação, com tradicionalismo* e elevada profissionalização. Apenas como exemplo, conto uma história que li na internet, tempos atrás.

Um sujeito, morador de prédio em frente ao D.O.M., recebeu alguns amigos de outro estado. Conhecedores da fama da casa, resolveram tentar uma visita. Chegaram lá e estava lotado - óbvio. O indivíduo, então, falou: não haveria uma maneira de resolvermos isso, afinal, eles vieram de muito longe?! Imediatamente, a gerência sugere: "peguem o cardápio, escolham os pratos e o vinho. Podemos resolver sim". Meia hora depois, dois garçons batiam na porta do apartamento, trazendo as escolhas dos visitantes. Uma finura.

>> Eu Sei; Legião Urbana; Acústico MTV
>> The Nine

* a maior parte das receitas tem mandioca como base. Nada poderia ser mais brasileiro.

Friday, April 24, 2009

Curta

Na delegacia, homem bêbado tenta explicar porque fazia sexo com uma morta:
- Pô, doutor, eu achei que ela era inglesa...

>> The Nine
>> Crazy Train; Ozzy Osbourne; Tribute to Randy Roads

Thursday, April 23, 2009

Bolivarianas


Na foto da AP, um exemplo da (pós)modernidade e de um dos motivos para os gringos nos considerarem “atrasados”. Caso os prezados possam observar, o singelo aperto de mão traz mensagem algo complexa.

Teoria da conspiração, determinismo ou coisa que o valha, a foto não mente: Chávez olha para o vazio, meio envergonhado; Obama mira as câmeras, apontando o livro, sem hesitação – ao mesmo tempo no qual cumprimenta o mandatário venezuelano com um "vacilante" aperto de mão. Parece contraditório, mas a sofisticada propaganda subliminar supera o texto.

No caso de uma tese heterodoxa, poder-se-ia pensar que “o gigante bolivariano confronta Superman”*. Todavia, ainda no século XIX, o próprio Simón Bolívar tinha receita precisa para o evento: revolucionar é arar no mar.

Apesar de todos os esforços, falta muito para a total liberdade latina. Infelizmente, o rio de minha aldeia ainda é apenas o rio de minha aldeia. Necessitamos entender, sem nenhum complexo de vira-lata: o progresso é um processo, não um milagre.

>> Baby, it is you; The Beatles; xxx
>> The nine

* O livro era “As Veias Abertas da America Latina”, do Eduardo Galeano. Um clássico que já devia estar atrasado desde a primeira edição. Ao contrário do que pensa o senso comum, o livro é um tanto ingênuo: não podemos atribuir nosso atraso somente ao "colonizador maligno". Hoje, o mundo é muito mais complexo do que isso.

Wednesday, April 22, 2009

PY

Ali ao lado, dizem, até o padre é falso.

>> Hello Sunshine; Super Furry Animals; xxx
>> The Nine - Inside The Secret World Of The Supreme Court; Jeffrey Toobin; Anchor

Saturday, April 11, 2009

Páscoa

Apenas hoje me dei conta de que, neste final de semana, celebramos a Páscoa cristã, o Pesach judaico e o início do outono, todos de uma vez. Muito a celebrar, portanto.

Por cá, ontem, cozinhamos um esplêndido salmão com ervas da provence, azeite, alcaparras, champignon e raspas de limão. Para acompanhar, arroz branco e camarões à Juva. Os prezados não provaram, mas o resultado ficou excelente - sobretudo, pela boa companhia do dia.

Feliz Páscoa, então. Que seja doce o domingo.

>> Sex On Fire; Kings Of Leon; Only By The Night
>> Depoimento; Carlos Lacerda; Nova Fronteira

Wednesday, March 18, 2009

Tarde de ontem, na Praça

Gabineteano 1 - Estou muito triste, ele morreu.
Gabineteano 2 - Eu também. Ele era muito bom.
Gabineteano 1 - Pois é, um dos homens mais inteligentes do Brasil.
Gabineteano 2 - Concordo plenamente.
Gabineteano 1 - Se metade da Casa ouvisse o que ele falava, esse Brasil seria um lugar muito melhor.

Acabei meu lanche e voltei ao trabalho. Pensativo.

>> The Song Remais The Same; Led Zeppelin
>> Osorio; Franciso Doratioto; Cia das Letras

Wednesday, March 11, 2009

Quadrilha

"G.F., atriz brasileira, participava de um festival de teatro em Nova York. Passou mal; vomitava sem parar. Mas não sabia falar inglês. Chamou outra atriz, Rô, que ligou para 911. Explicou a situação à atendente, que, treinada, sugeriu um teste de gravidez e deu o telefone do posto de saúde próximo. O teste deu positivo.
Rô ligou para a clínica. Marcaram o aborto para o dia seguinte de manhã. As duas foram atendidas por assistentes sociais, que não pediram vistos. G.F. assinou papéis se responsabilizando. O aborto foi feito gratuitamente. À tarde, Rô foi pegar G.F. na clínica. Voltaram andando para o hotel.

M.S.
, casada com um estudante de doutorado em Berlim, engravidou. Viviam de dinheiro de bolsa financiada pelo governo brasileiro; impossível montar uma família com aquela grana. Ela procurou uma clínica do Estado. Foi obrigada a assistir a alguns vídeos sobre reprodução. Fez o aborto gratuitamente. Hoje, M.S. continua casada com o agora doutor, com quem tem três filhos."

Enquanto isso, em Tupinambá, uma menor - em risco de vida - tem sua família excomungada por ter optado pelo legítimo direito de abortar um filho não desejado. Felizmente, apesar da triste notícia, perseveraram a fibra e a garra da mãe e da menor, verdadeiras brasileiras.

É essa minha tardia homenagem às maravilhosas mulheres deste país. Parabéns.

>> There She Goes Again; REM; xxx

>> XXX

Saturday, March 07, 2009

Mas, doutor, eu sou o paggliacci

Pensei em escrever algo após ver Watchmen. Frente às resenhas no blog da Economist e no Gizmodo, desisiti. Watchemn rocks.

>> In The End; Linkin Park; Live at Metz - 2008
>> xxx

Friday, March 06, 2009

“Well, that was Brazil — they’ve just run out of money.”

No blog do Krugman, uma incômoda historinha sobre o Brazil. Tomara os predicados do Sr. Truman não enfiem nosso país em mais uma década perdida.

>> Desolation Row; My Chemical Romance; The Watchmen Soundtrack
>> xxx

Só por hoje

Senhores, os dias têm sido intensos. Daí a ausência. Peço perdão caso alguém ainda passe por aqui procurando algo a matar o tempo.

Desculpas feitas - e inspirado no blog do Ney (aqui e aqui) -, segue trecho de uma das belas poesias drummondianas, da qual não sei o nome:
"Lutar com palavras
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
.......
Lutar com palavras
parece sem fruto.
Não têm carne e sangue ....
Entretanto, luto."
>> Mais uma vez; Marisa Monte; Infinito ao meu redor
>> xxx

Monday, February 16, 2009

Amorim e os estiletes "suíços"

Pensei em escrever algo sobre a brasileira "atacada" na Suíça. Após ler o texto do nobre Sérgio Leo, desisiti da iniciativa. Divirta-se na transcrição abaixo:

"falei disso aqui, mas estou impressionado como o que pensei como uma piada virou verdade em poucos dias. Nesse caso da suíça que não se sabe se foi ou não atacada por skinheads, quem já anda levando estiletada é o pobre do Celso Amorim. Fica difícil não defender o Itamaraty nessa, os caras apanham se não fizerem e apanham se fizerem. Não há um termo como xenofobia para descrever o ódio cego à política externa brasileira; mas que é um caso de preconceito se firmando por aí, não tem dúvida.

Recapitulemos, ou melhor, recapitulo aqui o episódio que assisti, após a visita do ministro de Relações do Uruguai. Amrim foi deixar o visitante na saída do palácio do tamaraty, sob pedidos do reportariado para que voltasse à sala de briefings, para continuar a entrevista que havia dado com o uruguaio. Amorim voltou,m dirigiu-se à escada que dá acesso ao gabinete, e foi aborado por repórteres de tv e rádio. "Ministro, o senhor tem de falar, o senhor tem de dar entrevista".

Com uma careta de desagrado, Amorim foi à sala de briefings,. Nem chegou no microfone do pódio de entrevistas. Com ar de enfado, foi cercado por jornalistas de rádio e tv, e esperou que terminase um entrevero entre cinegrafistas e radialistas.. Está lá, gravado: ele começou um discurso genérico, para dizer que o governo brasileiro estava tomando providências.

Em ocasiões anteriores, de incidentes com brasileiros no exterior, o Itamaraty foi acusado de não dar a atenção devida; o Amorim já tem pele grossa, de ser alfinetado por isso. Aliás, no dia seguinte, o indefectível Reinaldo Azevedo já brandia o tacape contra o governo brasileiro:

"não basta uma simples reação de repúdio. O governo brasileiro, de fato, precisará fazer mais, deixando claro que o empenho dos suíços em encontrar os culpados passa a ser fundamental na relação entre os dois países."

Amorim chegou a irritar-se com a insistência dos repórteres. Tentou pelo menos duas vezes acabar com a entrevista, dizendo que não havia nada a dizer enquanto não terminassem as investigações.

À primeira "É xenofobia?" ele respondeu que a polícia estava investigando, que o governo pediu explicações, queria saber dos culpados. Perguntaram umas três vezes a ele se era ou não xenofobia. E indagaram se o governo iria acionar a Comsisão de Direitos Humanos _ ao que ele respondeu que era prematuro, que esperava seriedade da investigação policial.

"Não podemos fazer nenhum pré-julgamento, mas há uma aparência evidente de xenofobia, o que é uma coisa preocupante", disse ele, após a inistência dos repórteres. E quando insisitiam em saber sobre a ONU: "Não adianta aventar hipótese agora porque não sei qual a direção que as investigações vão tomar. É preciso que as autoridades suíças façam a investigação. Temos confiança de que farão, temos confiança de que manterão a transparência e temos confiança de que haverá punição adequada porque creio que a Suíça não tem interesse em manter uma imagem negativa",

Já espectador de episíodios semelhantes, saí do Itamaraty imaginando que o Amorim ia levar pedra por não ter sido enfático o suficiente na condenação dos agressores da moça.

No dia seguinte, os jornais traziam o Amorim em manchetes de página falandode "xenofobia". E, quando a história começou a se revelar mais complicada do que à primeira vista, em todo canto começou a pipocar crítica contra a "precipitação" do Itamaraty. Até atribuiram a ele a referência à Comissão de Direitos Humanos, que saiu dos repórteres e ele se recusou obstinadamente em confirmar.

Estou defendendo o Amorim? Não. Estou condenando um factóide que me atrapalha a discussão quando esse pessoal do governo vem com a tese estúpida de conspiração da midia. Episódios como esse dão argumentos para que autoridades digam que são cobrados por coisas que não disseram e atos que não praticaram. Antes que mais algum amigo meu saia por aí repetindo uma interpretação equivocada, que pelo menos saibam como foi esse negócio.

Já os comentaristas do blogue do Reinaldo não tiveram nenhuma dificuldade em esquecer o post do mestre cobrando mais do governo, e, espumando pelo canto dos lábios, está lá, rosnando contra a "precipitação" do ministro. Aquele que Reinaldo já criticava por não por em questão a relação bilateral Brasil-Suíça por causa da moça com a perna riscada em estilo neonazista."

>> Waiting in vain; Bob Marley; Best
>> FHC

Saturday, February 14, 2009

A4

O Brasil deve ser o único lugar no mundo onde papel A4 reciclado custa mais caro do que o comum.

>> Everything - Lifehouse; Smallville; Smallville
>> FHC

Wednesday, February 11, 2009

Terroir

Essa semana, a Mistral fez uma promoção de ponta de estoque na qual garrafas com rótulos defeituosos – rasgos e manchas – eram vendidas a preços muito convidativos. Aproveitei a oportunidade e comprei um exemplar do chileno Carmen Reserve Pinot Noir, safra 2006.

O mesmo vinho, na safra de 1997, havia recebido boas indicações. Portanto, a aquisição da garrafa de 2006 aparentava ser uma boa oportunidade – positivamente correspondida após o consumo.

Essa aliança “promoção+Chile+Pinot Noir” fez-me pensar sobre a equivocada tese de que não é possível produzir um bom Pinot Noir fora da Borgonha. A se acreditar nos famosos especialistas que defendem temas como esse – Robert Parker, por exemplo –, deveria existir um sabor universal/único para todos os vinhos. Nesse ponto, uma pergunta incomodava-me: qual a função de um terroir se pretendermos que todos vinhos, de uma mesma uva, em vários locais do mundo, tenham sabores iguais?

Apegado a meu total amadorismo, arrisco uma resposta: penso que a graça está em tentar obter o melhor vinho possível dentro das especificidades de cada região. Ou seja, um bom tinto deve reproduzir o clima, a terra e, acima de tudo, a cultura de um país. Nesse sentido, entendo que pode não ser muito justo, nem inteligente, comparar qualquer vinho como sendo melhor ou pior do que aqueles produzidos na Borgonha ou em Bordeuax. Haja vista, sobretudo, a excelente qualidade atingida por alguns vinhos estadunidenses. Por exemplo, uma garrafa de Pinot Noir, safra 2005, produzida pela Domaine Drouhin, no Oregon, custa a fortuna de R$ 220,00. - eu sequer sabia que vinhos são produzidos por lá. A própria garrafa do Carmen, comentada no início do post, não custa menos do que R$ 80.00 nas boas casas do ramo.

Resumindo, não se acanhe caso queira pedir vinhos chilenos ou argentinos. Há boa vinícolas produzindo nesses países.

>> Que País é Esse: Legião Urbana: Música Para Acampamentos
>> FHC

Monty Python Communist Quiz



Conforme a dica do Krugman, segue esse pequeno clipe do Monty Python. No melhor estilo inglês, o vídeo foi comparado a uma pretensa conversa entre Nouriel Roubini e Nassin Taleb na CNBC. Imperdível.

>> The Boys Are Back In Town (Live In Belfast, 2001); Belle and Sebastian; The BBC Sessions (Deluxe Edition)
>> FHC

Saturday, January 31, 2009

The Times They Are A-Changin'


Falta definir o "we" da pichação.

>> Misty; Earl Himes; Honor Thy Fatha
>> FHC

Wednesday, January 28, 2009

Blindness

Na última terça-feira, após uma breve olhada no blog do Sérgio Rodrigues, descobri que a leitura de “No Country for Old Men” poderia ser uma boa sugestão para o final de semana. Por meio de sua série “Começos Inesquecíveis”, Rodrigues trazia as palavras iniciais do livro, editado pela Alfaguara em 2006 – tradução de Adriana Lisboa.

Eis que, entusiasmado pela ótima prosa da publicação, resolvi buscar o excerto da edição original disponível no site da Amazon. Começou aí o imbróglio.

No texto do blog do Sr. Rodrigues, as frases iniciais do livro eram as seguintes: “Mandei um garoto para a câmara de gás em Huntsville. Foi só um. Eu prendi e testemunhei contra ele ...”. Não sei por qual motivo, encasquetei com a terceira frase – “Eu prendi e testemunhei contra ele”.

Na versão original, em inglês, o texto encontra-se como segue: “I sent one boy to the gaschamber at Huntsville. One and only one. My arrest and my testimony ...”. Mesmo meus parcos conhecimentos de inglês fizeram-me pensar: essa terceira frase está mal traduzida, talvez em um contexto errado. Abespinhado pela dúvida, procurei um contato com a nobre Adriana Lisboa e, graças aos tempos digitais, encontrei um e-mail.

A mensagem enviada para ela – e também postada na caixa de comentários do blog - foi a seguinte:

“Adriana,

perdoe-me pelo e-mail desajeitado, uma dúvida coça cá em minha cabeça. Explico-me: estive lendo "No Country For Old Men" e a terceira frase do livro explodiu meu cérebro.

Ao ler "My arrest and my testimony" tive a impressão de que o autor queria passar uma mensagem impessoal, talvez em terceira pessoa. Algo como: "Minhas prisão e testemunho".

Traduzida dessa forma, penso eu, a mensagem teria pretensão impessoal, ao mesmo tempo em que transmitiria uma inflexão algo "riobaldiana". Não sei... pode ser só bobagem. De qualquer forma, peço antecipadas desculpas pela eventual - e amadora - intromissão no texto brilhantemente traduzido por ti.”
Ato contínuo, um tal de SC. Stocker – que, depois descobri, parece escrever no Le Monde - postou a seguinte mensagem nos comentários do blog do Sérgio Rodrigues, com erros e tudo:
““Minhas prisão e testemunho”, apesar de gramaticalmente impecável, é tão… tão… sei lá, tão pouco de acordo com o que se lê, fala e escreve no português de hoje! Cheira a Napoleão Mendes de Almeida, a Mattoso Câmara! Muito mais coloquial dizer “Eu o prendi e testemunhei contra ele”.

Preciso defender a Adriana Lisboa, minha ex-coleguinha de Pós na Uerj: ela é uma EX-CE-LEN-TE tradutora, tanto de inglês quanto de francês. Tenho várias traduções dela aqui. Naturalmente, não posso falar muito das traduções do inglês, mas as do francês são impecáveis. Já gostava dela, muito, como escritora, e gosto demais como tradutora.

P.s.: Se um dia alguém me vir (sic) escrevendo num texto ficcional “minhas prisão e testemunho”, por favor: cortem meu pinto! Horror, horror.”

Em nenhum momento eu havia criticado o texto da Adriana Lisboa, ainda menos ao ponto de ela precisar de uma defesa. Muito ao contrário do que pensa o Sr. Stockler, para meu deleite, a nobre Adriana havia respondido minha mensagem. Em menos de cinco minutos, ela retornou meu e-mail. Por meio de um texto agradecido e delicado, disse o seguinte:
“Oi, Renato,

Estou sem o original comigo. Pode ser que você esteja certo, sim. Aliás, não gosto do título que esse livro levou em português (escolha da editora). “No country for old men” não é uma expressão literal.

Traduzir é ainda mais arriscado do que escrever: ao escrever, as besteiras são nossas. Ao traduzir, forçamos ao outro as nossas besteiras... claro que sempre tem um revisor fazendo uma besteirinha aqui e ali também, nos dois casos :)
Mas vou arranjar um exemplar do livro em inglês e ver isso assim que possível.

Abraços e obrigada,
Adriana”

No final, apesar de ser tudo uma grande bobagem - traduções, textos e todo o resto -, é preciso ter cuidado e bom-senso para criticar. Por exemplo, a proposta do tal SC. é tão desleixada que ele cometeu um erro grosseiro quando sugestionou uma revisão no meu texto. Sugeriu ele: “Eu o prendi e testemunhei contra ele”. Ora bolas, a frase é gramaticalmente esdrúxula e, honra seja feita, muito ao gosto do péssimo português falado atualmente. “Eu o prendi e testemunhei contra ele” é, no mínimo, cacofonia rasteira. O mesmo que dizer “Eu prendi ele e testemunhei contra ele”. Talvez um cursinho de língua portuguesa, utilizando as gramáticas de Napoleão Mendes de Almeida e Mattoso Câmara, pudesse ajudar. De qualquer forma, é apenas uma sugestão.

* Atualização: o prezado citado nesse post resolveu prosseguir com os comentários no blog do Sérgio Rodrigues. Nas palavras dele: "Eu poderia, neste exato instante, esfregar em suas fuças as minhas credenciais acadêmicas, mas abstenho-me...". Freak

>> Amor de Loca Juventud; Buena Vista Social Club; Buena Vista Social Club
>> No Country for Old Men; Cormac McCarthy; Vinatege International

Economic News

Do blog da Economist. O linguajar é impagável, apesar das terríveis notícias: "Yesterday, Boeing announced that it was axing 10,000 workers".
"THOSE of you wondering how Starbucks could afford to operate while placing three stores within a block of each other, wonder no longer. The coffee retailer is sacking nearly 7,000 employees and closing 300 locations (leaving it with a mere 16,000 or so remaining stores—I'm not kidding).

The cuts constitute a second blow in as many days for the city of Seattle. Yesterday, Boeing (now headquartered in Chicago, but still employing a majority of its workers in the state of Washington) announced that it was axing 10,000 workers. But it's not like things are much better anywhere else! Reduced shipments of coffee beans, and aeroplanes, and pretty much everything that people buy or sell produced a year-over-year dip in trucking in the month of December of 14.1%. Go look at Calculated Risk's chart, it's really something to see.

The Federal Reserve continues to do what it can. The central bank announced today that it would keep the federal funds target at more or less zero, and it's ready to buy longer-term Treasuries. This is fortuitous—Boeing, as it happens, manufactures helicopters. It would seem that Ben Bernanke is in the market for one."
>> Bad Moon Rising; Creedence; Chronicle
>> No Country For Oldmen; Cormac McCarthy; Vintage International

Tuesday, January 27, 2009

Ai de ti, USA

No final do ano de 2005, o então mega-milionário estadunidense, Sam Zell, publicou uma alvissareira mensagem de ano-novo. Hoje, quatro anos depois, o texto do financista reflete os problemas econômicos planetários com acurada precisão. Suas equivocadas palavras diziam o seguinte:
"The enormous monetization of hard assets has vastly increased liquidity worldwide, and liquidity equals value. It has reduced the cost of capital. This has been an engine, and world growth will continue to benefit."
Infelizmente, não foi uma teoria aceita pelo teste da realidade. Segundo breve pesquisa na internet, o jornal do Sr. Zell quebrou tão logo a bolha imobiliária estourou nos EUA. Apenas para medir o tamanho do tombo, a publicação fazia concorrência com o Chicago Tribune (uma instituição americana). À guisa de curiosidade, o investidor foi um dos homens mais citados pelo economista Gregory Mankiw como exemplo de self-made man nos anos recentes.

>> Vou Com Ela; Veiga e Salazar; OiFm
>> The Accidental President of Brazil; FHC; Publicaffairs

Sunday, January 25, 2009

Oliveira

Na Carta Maior, o sociólogo Chico Oliveira faz boa análise sobre a situação brasileira. Geralmente, não esposo muitas das teses do nobre cientista social. Essa entrevista, no entanto, merece ser lida. Segue breve trecho:
"CM – Que espaço sobra para a periferia do sistema, caso do Brasil, entre outros?
Chico – Estamos emparedados entre a concorrência chinesa e a desordem financeira no coração do capitalismo. A crise nos pega no meio do caminho e, naturalmente, não podemos regredir e adotar um padrão chinês de salários de miséria. Alguns até gostariam, mas não dá, felizmente não dá mais e tentar seria uma calamidade social de proporções incalculáveis.

CM - Qual opção à paralisia, se é que existe uma - e viável?
Chico – Não existiu Vargas em 1930? A opção é uma soma de coragem política e investimento público pesado. Criar algo como cinco EMBRAERs por ano em diferentes setores; promover uma superação do modelo ancorado-o agora em forças sociais da base da sociedade. Carlos Lessa sugeria isso no BNDES, no começo do governo Lula; não deixaram...

CM - Mas o Brasil de Vargas não existe mais...
Chico - Para Getúlio também não foi fácil, mas ele fez. E fez à revelia da plutocracia mais poderosa do país; enfiou seu projeto goela abaixo da burguesia paulista e se firmou como um estadista da nossa história. A elite paulista jamais admitirá, mas ele foi o grande estadista do desenvolvimento nacional.

[...]

CM - Internamente a elite talvez não veja as coisas assim, como propriamente complementares, quando se associa crescimento a um arranque pesado de investimento público.
Chico – Nossa burguesia se transformou em gangue. Expoentes nativos são figuras do calibre de um Daniel Dantas ou esse Eike Batista que opera dos dois lados da fronteira boliviana; não se pode contar com protagonistas dessa qualidade para qualquer coisa, menos ainda para uma agenda de desenvolvimento. Não há saída por aí. Mas o Brasil também não teria saído da crise de 30 se Vargas fosse esperar a mão estendida da plutocracia de São Paulo, por exemplo. Ele ocupou o espaço e fez.

CM - Logo...
Chico – Logo precisaria reinventar o PT; um PT com a ousadia de um Kubitschek e de um Vargas; para fazer por baixo o que eles tentaram e fizeram por cima; um arranque do desenvolvimento induzido pela base social para mudar a economia e a sociedade. Cinco EMBRAERs por ano e ponto final.

CM – O senhor acredita nesse aggiornamento do PT?
Chico - Se depender de torcida para que aconteça tem a minha. A lógica de acomodação de forças que a crise mundial impõe é de dimensões tão brutais, tão inauditas que exige da esquerda brasileira um desassombro igualmente inusitado."
>> Tendo a Lua; Paralamas do Sucesso; Os Grãos
>> The Accidental President of Brazil; FHC; Publicaffairs

So Long 021 - Razão nº 534

A prefeitura do RJ tenta renovar o contrato com a Fundação Cobra Coral: o objetivo é impedir a incidência de chuvas no Rio de Janeiro durante o verão. Pois é.

Pasmen, não é piada. E piora: em dezembro passado, o secretário Luiz Guaraná defendera o descarte da ajuda espiritual, por considerar que a cidade deveria priorizar investimentos reais na conservação.

>> The Mission: Gabriel's Oboe; Yo-Yo Ma & Morricone; Plays Ennio Morricone
>> The Accidental President of Brazil; FHC; Publicaffairs

Friday, January 23, 2009

New World



O vídeo acima foi feito entre 1939-1940, durante a Feira Mundial de Nova Iorque. Retrato amador do momento, reflete com certa precisão o modo de vida e o estupor criado por tecnologias que seriam pueris no mundo moderno. Entretanto, exatamente por se tratar de uma produção não oficial, o pequeno filme mostra uma visão pessoal e humana do evento.

As antigas "Feiras Mundiais" eram, em seu tempo, um espetáculo à parte. Mesmo as maiores feiras da atualidade não se comparam ao ineditismo e publicidade que estes encontros causavam no passado. Quase como um playground adulto, as feiras eram um grande showroom dos produtos e tecnologias expostos - sem falar na publicidade angariada pelos países expositores.

Para ficar em um exemplo histórico, vale lembrar o caso de Dom Pedro II e Alexander Graham Bell. Durante a Centennial Exposition, na Filadélfia, o Imperador encontrou um ainda obscuro professor da Escola de Surdos, então expondo uma inusitada criação: o telefone. Pedro II - que havia trocado algumas cartas com o inventor - resolveu conversar com o Sr. Bell. Obviamente, atrás do monarca, o séquito de jornalistas e puxa-sacos também parou. Até esse momento, a máquina havia recebido pobre atenção na feira.

Percebendo a oportunidade, Bell convidou o Imperador a adentrar o espartano estande e, desse modo, testar o invento. Ato contínuo, Dom Pedro segurou o fone e imediatamente o largou - não antes de ouvir Bell recitar "to be or not to be?" por meio do aparelho. A história diz que o governante afirmou, petrificado: "Meu Deus, essa coisa fala!". Graças à publicidade gratuita, o telefone tornou-se a sensação da feira.

Estranhamente, esse tipo de repercussão mundial a partir das feiras continuou durante muitos anos. Caso você tenha tempo para ver o vídeo desse post, poderá perceber um robô, meio desengonçado, ao final da película. Não se assuste, foi a partir dessa máquina criada pela Westinghouse - como atração para o evento novaiorquino - que Isaac Asimov inspirou-se para escrever um conto chamado "Robbie", em 1940. No texto do escritor, um robô falante surpreende uma garotinha que vai ao Museu de Ciência e Indústria no ano de 1998.

Ao contrário do que diz o ditado, às vezes, a arte parece imitar a vida. Felizmente.

>> Someday; The Strokes; Is This It?
>> The Accidental President of Brazil; Fernando Henrique Cardoso; PublicAffairs

Sunday, January 18, 2009

Os Outros: Armando A. dos Santos

"A idéia de que a nova ortografia constitui um passo para a constituição de um dicionário único do idioma português falado no mundo inteiro não se sustenta. Ela é utópica e, se fosse realizável, seria indesejável. Isso porque o idioma português, diferentemente de outros idiomas, se caracteriza pela extrema receptividade em relação a neologismos. No castelhano, por exemplo, a utilização de uma palavra não existente no dicionário da Real Academia de Madri é considerada erro, de acordo com a norma culta vigente na Espanha e em todos os países da Hispano-América. Já no português, a facilidade com que se criam palavras novas constitui uma das riquezas do nosso idioma. No século XVIII, quando foi publicada na Espanha a primeira versão do dicionário da Real Academia de Madri, o rei de Portugal encarregou a Real Academia de Lisboa de fazer um dicionário português, para não ficarem nossos patrícios atrás dos vizinhos espanhóis. Os filólogos portugueses penaram durante muitos anos e, afinal, publicaram apenas o primeiro volume do dicionário, referente à letra A, desistindo do empreendimento porque, quando concluíram a redação, deram-se conta de que já haviam surgido muitas palavras novas iniciadas coma letra A, durante os muitos anos de seu intenso labor.
Esse fato cômico serviu a Alexandre Herculano para, em “Lendas e Narrativas”, referir-se a certo jumento que se pôs a azurrar, dizendo que ele “começou por onde, às vezes, academias acabam”. Aludia assim ao último verbete do dicionário inacabado, que era AZURRAR, sinônimo de zurrar..."
O diretor do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Armando Alexandre dos Santos, criticando a recente reforma ortográfica. De minha parte, fui inicialmente favorável às alterações feitas em nossa língua. Hoje, entretanto, tendo a pensar o contrário.

>> Modern Love; Marie Mazziotti; This Time from the Heart
>> Mercosul: Estudos em Homenagem a Fernando H. Cardoso; Maristela Basso (org.); Ed. Atlas

Thursday, January 15, 2009

Em Terra de Battisti

Pensei em escrever alguma coisa sobre a deliberação do Ministro da Justiça acerca do controverso Cesare Battisti. Para tanto, baixei e li a íntegra do texto exarado pelo nobre Dr. Tarso Genro.

Após a leitura do trabalho, desisti de redigir qualquer coisa. Malgrado não haver definição precisa sobre terrorismo, é sofrível a tortuosidade do raciocínio empregado na decisão.

Apenas para citar um exemplo, o jurista Dalmo Dalari - que sustenta a base jurídica do texto - mencionou o seguinte: "Ainda que, por hipótese, se admita como verdadeira a acusação da prática de homicídio, a motivação básica, que levou à sua perseguição e prisão, era política, ficando claramente configurado um crime político". Ao utilizar-se das palavras "ainda; hipótese; se; admita; e verdadeira", o jurista criou um silogismo assustador: simplesmente questiona a decisão da justiça italiana, que condenara o sujeito a partir de um fato e não de uma hipótese. Além do mais, a tal da "motivação básica" da prisão foi o assassinato e não um crime político.

Considerada correta tal tese, seria lícito matar por uma idéia. Por certo, os grandes que já ocuparam a cadeira do Ministério da Justiça - Oswaldo Aranha, Leitão da Cunha e Vicente Rao, apenas para citar alguns - devem estar a se remexer nos túmulos.

>> Don't Touch My Tomatoes; Josephine Baker; Divas
>> Revista Piauí - 28

** Atualização: no blog do Mino Carta e no Observatório da Imprensa acontece um pseudo debate sobre o assunto. Vale a leitura.