Saturday, January 31, 2009

The Times They Are A-Changin'


Falta definir o "we" da pichação.

>> Misty; Earl Himes; Honor Thy Fatha
>> FHC

Wednesday, January 28, 2009

Blindness

Na última terça-feira, após uma breve olhada no blog do Sérgio Rodrigues, descobri que a leitura de “No Country for Old Men” poderia ser uma boa sugestão para o final de semana. Por meio de sua série “Começos Inesquecíveis”, Rodrigues trazia as palavras iniciais do livro, editado pela Alfaguara em 2006 – tradução de Adriana Lisboa.

Eis que, entusiasmado pela ótima prosa da publicação, resolvi buscar o excerto da edição original disponível no site da Amazon. Começou aí o imbróglio.

No texto do blog do Sr. Rodrigues, as frases iniciais do livro eram as seguintes: “Mandei um garoto para a câmara de gás em Huntsville. Foi só um. Eu prendi e testemunhei contra ele ...”. Não sei por qual motivo, encasquetei com a terceira frase – “Eu prendi e testemunhei contra ele”.

Na versão original, em inglês, o texto encontra-se como segue: “I sent one boy to the gaschamber at Huntsville. One and only one. My arrest and my testimony ...”. Mesmo meus parcos conhecimentos de inglês fizeram-me pensar: essa terceira frase está mal traduzida, talvez em um contexto errado. Abespinhado pela dúvida, procurei um contato com a nobre Adriana Lisboa e, graças aos tempos digitais, encontrei um e-mail.

A mensagem enviada para ela – e também postada na caixa de comentários do blog - foi a seguinte:

“Adriana,

perdoe-me pelo e-mail desajeitado, uma dúvida coça cá em minha cabeça. Explico-me: estive lendo "No Country For Old Men" e a terceira frase do livro explodiu meu cérebro.

Ao ler "My arrest and my testimony" tive a impressão de que o autor queria passar uma mensagem impessoal, talvez em terceira pessoa. Algo como: "Minhas prisão e testemunho".

Traduzida dessa forma, penso eu, a mensagem teria pretensão impessoal, ao mesmo tempo em que transmitiria uma inflexão algo "riobaldiana". Não sei... pode ser só bobagem. De qualquer forma, peço antecipadas desculpas pela eventual - e amadora - intromissão no texto brilhantemente traduzido por ti.”
Ato contínuo, um tal de SC. Stocker – que, depois descobri, parece escrever no Le Monde - postou a seguinte mensagem nos comentários do blog do Sérgio Rodrigues, com erros e tudo:
““Minhas prisão e testemunho”, apesar de gramaticalmente impecável, é tão… tão… sei lá, tão pouco de acordo com o que se lê, fala e escreve no português de hoje! Cheira a Napoleão Mendes de Almeida, a Mattoso Câmara! Muito mais coloquial dizer “Eu o prendi e testemunhei contra ele”.

Preciso defender a Adriana Lisboa, minha ex-coleguinha de Pós na Uerj: ela é uma EX-CE-LEN-TE tradutora, tanto de inglês quanto de francês. Tenho várias traduções dela aqui. Naturalmente, não posso falar muito das traduções do inglês, mas as do francês são impecáveis. Já gostava dela, muito, como escritora, e gosto demais como tradutora.

P.s.: Se um dia alguém me vir (sic) escrevendo num texto ficcional “minhas prisão e testemunho”, por favor: cortem meu pinto! Horror, horror.”

Em nenhum momento eu havia criticado o texto da Adriana Lisboa, ainda menos ao ponto de ela precisar de uma defesa. Muito ao contrário do que pensa o Sr. Stockler, para meu deleite, a nobre Adriana havia respondido minha mensagem. Em menos de cinco minutos, ela retornou meu e-mail. Por meio de um texto agradecido e delicado, disse o seguinte:
“Oi, Renato,

Estou sem o original comigo. Pode ser que você esteja certo, sim. Aliás, não gosto do título que esse livro levou em português (escolha da editora). “No country for old men” não é uma expressão literal.

Traduzir é ainda mais arriscado do que escrever: ao escrever, as besteiras são nossas. Ao traduzir, forçamos ao outro as nossas besteiras... claro que sempre tem um revisor fazendo uma besteirinha aqui e ali também, nos dois casos :)
Mas vou arranjar um exemplar do livro em inglês e ver isso assim que possível.

Abraços e obrigada,
Adriana”

No final, apesar de ser tudo uma grande bobagem - traduções, textos e todo o resto -, é preciso ter cuidado e bom-senso para criticar. Por exemplo, a proposta do tal SC. é tão desleixada que ele cometeu um erro grosseiro quando sugestionou uma revisão no meu texto. Sugeriu ele: “Eu o prendi e testemunhei contra ele”. Ora bolas, a frase é gramaticalmente esdrúxula e, honra seja feita, muito ao gosto do péssimo português falado atualmente. “Eu o prendi e testemunhei contra ele” é, no mínimo, cacofonia rasteira. O mesmo que dizer “Eu prendi ele e testemunhei contra ele”. Talvez um cursinho de língua portuguesa, utilizando as gramáticas de Napoleão Mendes de Almeida e Mattoso Câmara, pudesse ajudar. De qualquer forma, é apenas uma sugestão.

* Atualização: o prezado citado nesse post resolveu prosseguir com os comentários no blog do Sérgio Rodrigues. Nas palavras dele: "Eu poderia, neste exato instante, esfregar em suas fuças as minhas credenciais acadêmicas, mas abstenho-me...". Freak

>> Amor de Loca Juventud; Buena Vista Social Club; Buena Vista Social Club
>> No Country for Old Men; Cormac McCarthy; Vinatege International

Economic News

Do blog da Economist. O linguajar é impagável, apesar das terríveis notícias: "Yesterday, Boeing announced that it was axing 10,000 workers".
"THOSE of you wondering how Starbucks could afford to operate while placing three stores within a block of each other, wonder no longer. The coffee retailer is sacking nearly 7,000 employees and closing 300 locations (leaving it with a mere 16,000 or so remaining stores—I'm not kidding).

The cuts constitute a second blow in as many days for the city of Seattle. Yesterday, Boeing (now headquartered in Chicago, but still employing a majority of its workers in the state of Washington) announced that it was axing 10,000 workers. But it's not like things are much better anywhere else! Reduced shipments of coffee beans, and aeroplanes, and pretty much everything that people buy or sell produced a year-over-year dip in trucking in the month of December of 14.1%. Go look at Calculated Risk's chart, it's really something to see.

The Federal Reserve continues to do what it can. The central bank announced today that it would keep the federal funds target at more or less zero, and it's ready to buy longer-term Treasuries. This is fortuitous—Boeing, as it happens, manufactures helicopters. It would seem that Ben Bernanke is in the market for one."
>> Bad Moon Rising; Creedence; Chronicle
>> No Country For Oldmen; Cormac McCarthy; Vintage International

Tuesday, January 27, 2009

Ai de ti, USA

No final do ano de 2005, o então mega-milionário estadunidense, Sam Zell, publicou uma alvissareira mensagem de ano-novo. Hoje, quatro anos depois, o texto do financista reflete os problemas econômicos planetários com acurada precisão. Suas equivocadas palavras diziam o seguinte:
"The enormous monetization of hard assets has vastly increased liquidity worldwide, and liquidity equals value. It has reduced the cost of capital. This has been an engine, and world growth will continue to benefit."
Infelizmente, não foi uma teoria aceita pelo teste da realidade. Segundo breve pesquisa na internet, o jornal do Sr. Zell quebrou tão logo a bolha imobiliária estourou nos EUA. Apenas para medir o tamanho do tombo, a publicação fazia concorrência com o Chicago Tribune (uma instituição americana). À guisa de curiosidade, o investidor foi um dos homens mais citados pelo economista Gregory Mankiw como exemplo de self-made man nos anos recentes.

>> Vou Com Ela; Veiga e Salazar; OiFm
>> The Accidental President of Brazil; FHC; Publicaffairs

Sunday, January 25, 2009

Oliveira

Na Carta Maior, o sociólogo Chico Oliveira faz boa análise sobre a situação brasileira. Geralmente, não esposo muitas das teses do nobre cientista social. Essa entrevista, no entanto, merece ser lida. Segue breve trecho:
"CM – Que espaço sobra para a periferia do sistema, caso do Brasil, entre outros?
Chico – Estamos emparedados entre a concorrência chinesa e a desordem financeira no coração do capitalismo. A crise nos pega no meio do caminho e, naturalmente, não podemos regredir e adotar um padrão chinês de salários de miséria. Alguns até gostariam, mas não dá, felizmente não dá mais e tentar seria uma calamidade social de proporções incalculáveis.

CM - Qual opção à paralisia, se é que existe uma - e viável?
Chico – Não existiu Vargas em 1930? A opção é uma soma de coragem política e investimento público pesado. Criar algo como cinco EMBRAERs por ano em diferentes setores; promover uma superação do modelo ancorado-o agora em forças sociais da base da sociedade. Carlos Lessa sugeria isso no BNDES, no começo do governo Lula; não deixaram...

CM - Mas o Brasil de Vargas não existe mais...
Chico - Para Getúlio também não foi fácil, mas ele fez. E fez à revelia da plutocracia mais poderosa do país; enfiou seu projeto goela abaixo da burguesia paulista e se firmou como um estadista da nossa história. A elite paulista jamais admitirá, mas ele foi o grande estadista do desenvolvimento nacional.

[...]

CM - Internamente a elite talvez não veja as coisas assim, como propriamente complementares, quando se associa crescimento a um arranque pesado de investimento público.
Chico – Nossa burguesia se transformou em gangue. Expoentes nativos são figuras do calibre de um Daniel Dantas ou esse Eike Batista que opera dos dois lados da fronteira boliviana; não se pode contar com protagonistas dessa qualidade para qualquer coisa, menos ainda para uma agenda de desenvolvimento. Não há saída por aí. Mas o Brasil também não teria saído da crise de 30 se Vargas fosse esperar a mão estendida da plutocracia de São Paulo, por exemplo. Ele ocupou o espaço e fez.

CM - Logo...
Chico – Logo precisaria reinventar o PT; um PT com a ousadia de um Kubitschek e de um Vargas; para fazer por baixo o que eles tentaram e fizeram por cima; um arranque do desenvolvimento induzido pela base social para mudar a economia e a sociedade. Cinco EMBRAERs por ano e ponto final.

CM – O senhor acredita nesse aggiornamento do PT?
Chico - Se depender de torcida para que aconteça tem a minha. A lógica de acomodação de forças que a crise mundial impõe é de dimensões tão brutais, tão inauditas que exige da esquerda brasileira um desassombro igualmente inusitado."
>> Tendo a Lua; Paralamas do Sucesso; Os Grãos
>> The Accidental President of Brazil; FHC; Publicaffairs

So Long 021 - Razão nº 534

A prefeitura do RJ tenta renovar o contrato com a Fundação Cobra Coral: o objetivo é impedir a incidência de chuvas no Rio de Janeiro durante o verão. Pois é.

Pasmen, não é piada. E piora: em dezembro passado, o secretário Luiz Guaraná defendera o descarte da ajuda espiritual, por considerar que a cidade deveria priorizar investimentos reais na conservação.

>> The Mission: Gabriel's Oboe; Yo-Yo Ma & Morricone; Plays Ennio Morricone
>> The Accidental President of Brazil; FHC; Publicaffairs

Friday, January 23, 2009

New World



O vídeo acima foi feito entre 1939-1940, durante a Feira Mundial de Nova Iorque. Retrato amador do momento, reflete com certa precisão o modo de vida e o estupor criado por tecnologias que seriam pueris no mundo moderno. Entretanto, exatamente por se tratar de uma produção não oficial, o pequeno filme mostra uma visão pessoal e humana do evento.

As antigas "Feiras Mundiais" eram, em seu tempo, um espetáculo à parte. Mesmo as maiores feiras da atualidade não se comparam ao ineditismo e publicidade que estes encontros causavam no passado. Quase como um playground adulto, as feiras eram um grande showroom dos produtos e tecnologias expostos - sem falar na publicidade angariada pelos países expositores.

Para ficar em um exemplo histórico, vale lembrar o caso de Dom Pedro II e Alexander Graham Bell. Durante a Centennial Exposition, na Filadélfia, o Imperador encontrou um ainda obscuro professor da Escola de Surdos, então expondo uma inusitada criação: o telefone. Pedro II - que havia trocado algumas cartas com o inventor - resolveu conversar com o Sr. Bell. Obviamente, atrás do monarca, o séquito de jornalistas e puxa-sacos também parou. Até esse momento, a máquina havia recebido pobre atenção na feira.

Percebendo a oportunidade, Bell convidou o Imperador a adentrar o espartano estande e, desse modo, testar o invento. Ato contínuo, Dom Pedro segurou o fone e imediatamente o largou - não antes de ouvir Bell recitar "to be or not to be?" por meio do aparelho. A história diz que o governante afirmou, petrificado: "Meu Deus, essa coisa fala!". Graças à publicidade gratuita, o telefone tornou-se a sensação da feira.

Estranhamente, esse tipo de repercussão mundial a partir das feiras continuou durante muitos anos. Caso você tenha tempo para ver o vídeo desse post, poderá perceber um robô, meio desengonçado, ao final da película. Não se assuste, foi a partir dessa máquina criada pela Westinghouse - como atração para o evento novaiorquino - que Isaac Asimov inspirou-se para escrever um conto chamado "Robbie", em 1940. No texto do escritor, um robô falante surpreende uma garotinha que vai ao Museu de Ciência e Indústria no ano de 1998.

Ao contrário do que diz o ditado, às vezes, a arte parece imitar a vida. Felizmente.

>> Someday; The Strokes; Is This It?
>> The Accidental President of Brazil; Fernando Henrique Cardoso; PublicAffairs

Sunday, January 18, 2009

Os Outros: Armando A. dos Santos

"A idéia de que a nova ortografia constitui um passo para a constituição de um dicionário único do idioma português falado no mundo inteiro não se sustenta. Ela é utópica e, se fosse realizável, seria indesejável. Isso porque o idioma português, diferentemente de outros idiomas, se caracteriza pela extrema receptividade em relação a neologismos. No castelhano, por exemplo, a utilização de uma palavra não existente no dicionário da Real Academia de Madri é considerada erro, de acordo com a norma culta vigente na Espanha e em todos os países da Hispano-América. Já no português, a facilidade com que se criam palavras novas constitui uma das riquezas do nosso idioma. No século XVIII, quando foi publicada na Espanha a primeira versão do dicionário da Real Academia de Madri, o rei de Portugal encarregou a Real Academia de Lisboa de fazer um dicionário português, para não ficarem nossos patrícios atrás dos vizinhos espanhóis. Os filólogos portugueses penaram durante muitos anos e, afinal, publicaram apenas o primeiro volume do dicionário, referente à letra A, desistindo do empreendimento porque, quando concluíram a redação, deram-se conta de que já haviam surgido muitas palavras novas iniciadas coma letra A, durante os muitos anos de seu intenso labor.
Esse fato cômico serviu a Alexandre Herculano para, em “Lendas e Narrativas”, referir-se a certo jumento que se pôs a azurrar, dizendo que ele “começou por onde, às vezes, academias acabam”. Aludia assim ao último verbete do dicionário inacabado, que era AZURRAR, sinônimo de zurrar..."
O diretor do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Armando Alexandre dos Santos, criticando a recente reforma ortográfica. De minha parte, fui inicialmente favorável às alterações feitas em nossa língua. Hoje, entretanto, tendo a pensar o contrário.

>> Modern Love; Marie Mazziotti; This Time from the Heart
>> Mercosul: Estudos em Homenagem a Fernando H. Cardoso; Maristela Basso (org.); Ed. Atlas

Thursday, January 15, 2009

Em Terra de Battisti

Pensei em escrever alguma coisa sobre a deliberação do Ministro da Justiça acerca do controverso Cesare Battisti. Para tanto, baixei e li a íntegra do texto exarado pelo nobre Dr. Tarso Genro.

Após a leitura do trabalho, desisti de redigir qualquer coisa. Malgrado não haver definição precisa sobre terrorismo, é sofrível a tortuosidade do raciocínio empregado na decisão.

Apenas para citar um exemplo, o jurista Dalmo Dalari - que sustenta a base jurídica do texto - mencionou o seguinte: "Ainda que, por hipótese, se admita como verdadeira a acusação da prática de homicídio, a motivação básica, que levou à sua perseguição e prisão, era política, ficando claramente configurado um crime político". Ao utilizar-se das palavras "ainda; hipótese; se; admita; e verdadeira", o jurista criou um silogismo assustador: simplesmente questiona a decisão da justiça italiana, que condenara o sujeito a partir de um fato e não de uma hipótese. Além do mais, a tal da "motivação básica" da prisão foi o assassinato e não um crime político.

Considerada correta tal tese, seria lícito matar por uma idéia. Por certo, os grandes que já ocuparam a cadeira do Ministério da Justiça - Oswaldo Aranha, Leitão da Cunha e Vicente Rao, apenas para citar alguns - devem estar a se remexer nos túmulos.

>> Don't Touch My Tomatoes; Josephine Baker; Divas
>> Revista Piauí - 28

** Atualização: no blog do Mino Carta e no Observatório da Imprensa acontece um pseudo debate sobre o assunto. Vale a leitura.