Tuesday, June 30, 2009

Os Outros: Fernando Pessoa

"Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer (...)".
Fernando Pessoa, em carta escrita a Mário de Sá Carneiro no dia 14 de março de 1916. Tempos atribulados, enfim.

>> O Mundo é um Moinho; Cartola; Cartola 2
>> Antes de Nascer o Mundo; Mia Couto; Companhia das Letras

Saturday, June 27, 2009

MJ

Bombardeado pela mídia após a morte do MJ, fico cá pensando como é estranho esse tempo no qual vivemos. Acho lamentável termos que discutir sobre as causas, o “porque tão cedo” ou sobre a última ligação da casa do astro para o serviço 911. Para mim, Mr. Jackson sai da vida exatamente como a enfrentou: tragicamente.

Penso que, no caso dele, tudo não passa de uma imensa tragédia pessoal, interminável ao longo dos anos e sobre a qual não há muito a dizer. Acima de tudo, infortúnios criados por ele e pela mídia – a mesma que o explora post-morten – geraram esse híbrido melancólico-pop no qual o astro se tornou. O site de “O Globo”, por exemplo, tem nada menos do que 6 manchetes “michaeljackianas” apenas na primeira página. Lamentável.

Fica a pergunta: Michael Jackson foi o grande artista pop de nosso tempo ou foi apenas um freakzóide pedófilo e megalomaníaco? Não sou muito fã da musica dele, portanto, fico com a segunda opção. Por óbvio, meu posicionamento não é o mesmo da maior parte das pessoas do planeta.

Por isso, no mínimo, serão duas semanas ouvindo “Billy Jean” em tudo que produza algum tipo de som. Conforme disseram o Sérgio Leo e a Arye, até acharem a caixa preta da morte do Mr. Thriller, é melhor tirar os querubins da sala.

O mais esquisito de tudo é que ninguém parece avaliar os reais acontecimentos na vida e na morte do popstar. Beat it, ligações para o 911, disparada nas vendas de CDs, homenagens várias, o rei do pop silenciado: em Neverland, além do Michael, ninguém atingiu seu destino.

>> God Put a Smile Upon Your Face; Coldplay; Live 2003
>> Varennes

Friday, June 26, 2009

Conselhos ao B.

#4 Conheça profundamente a constituição brasileira, a história do país e a história mundial moderna.
Uma decorrência do conselho anterior.

>> Lose You; Pete Yorn; Musicforthemorningafter
>> Retalhos

Conselhos ao B.

#3 Você é brasileiro
Quer ame seu país ou não, jamais esqueça sua nacionalidade. Ao contrário do que dizem, nosso passado não foi o equívoco que podem lhe querer aparentar.

>> Complicated Shadows; Elvis Costello; Secret, Profane and Sugarcane
>> Retalhos

Tuesday, June 23, 2009

Pornopopéia

Acabei de ler o último fenômeno hype da literatura brasileira: “Pornopopéia”. Malgrado tenha sido uma leitura muito divertida, o livro deixou-me uma sensação ambígua. Sinceramente, não sei dizer se o texto é bom ou ruim. Soa estranho, mas vou tentar explicar.

O autor, Reinaldo Moraes, utiliza-se da língua portuguesa com total desbunde e pouco respeito ao formalismo. De certa forma, ele introduz sujeira, humor, inteligência e falta de modos por meio de vocabulários e sintaxes ao mesmo tempo ricos e desregrados. E isso é a parte boa.

Parece, sem exageros, uma mistura de Guimarães Rosa com Jack Kerouac e William Burroughs, tudo mais ou menos representado no Grande Lebowski. Estranhamente, o livrão (quase 500 páginas) transcorre prazeroso, com uma leitura que me foi rápida - a despeito dos muitos palavrões e de alguma gratuidade em relação às passagens com sexo.

Ao longo do livro, o personagem principal, Zeca, envolve-se em todo tipo de porralouquice, enfurnando-se em altíssimas doses de álcool, drogas pesadas e pornografia grosseira. Apesar de tudo isso – e de o sujeito ser a antítese do herói -, o tal zequinha carrega grande empatia. Em alguns momentos é impossível não torcer para que suas loucuras dêem certo ou que ele consiga se livrar das furadas nas quais se mete constantemente.

Cineasta falido, viciado e frequentador contumaz da Rua Augusta, o cara é um beatnik pós-moderno: muito inteligente e culto, mas desvinculado de qualquer ética ou cordialidade. Sobretudo, o Sr. José Carlos é voltado puramente para seu “eu” pragmático e individualista (não é redundância, leia e entenda). Não à toa, lembrei-me imediatamente do início de Trainspotting, “choose life”, citado dias atrás por aqui: Zeca limita-se a choose his life.

A leitura é instigante, quase impossível de parar. O problema é que, em algumas passagens, o autor carrega demais nas tintas, tornando o resultado meio exagerado – o que não estraga as partes engraçadas e as boas sacadas textuais. Por exemplo, é um prazer procurar citações ocultas no livro: as loucuras vocabulares, unificando a cultura do personagem à literatura clássica, estão presentes em toda a obra.

Decerto, não é um livro que o Governo Federal possa distribuir às crianças do ensino médio paulista. Todavia, é estranho sentir prazer na leitura dessa fórmula ultraexagerada. Grosso modo, o autor extrapola tanto nas tintas que acaba quase por comprometer a segunda parte do livro, quando nosso zequinha chega em Porangatuba (praia fictícia). O segundo trecho é visivelmente mais fraco do que o primeiro. Daí o motivo de minhas duvidosas qualificações de “bom ou ruim”, conforme escrevi acima.

Estranho, pois é. Tudo tão esquisito que, acho, esse post também ficou assimétrico. Por favor, leiam as linhas iniciais do primeiro capítulo e digam o que acham. Para aqueles que gostarem, boa sorte no mundo pornopopéico:

“Vai, senta o rabo sujo nessa porra de cadeira giratória emperrada e trabalha, trabalha, fiadaputa. Taí o computinha zumbindo na sua frente. Vai, mano, põe na tua cabeça ferrada duma vez por todas: roteiro de vídeo institucional. Não é cinema, não é epopéia, não é arte. É — repita comigo — vídeo institucional. Pra ganhar o pão, babaca. E o pó. E a breja. E a brenfa. É cine-sabujice empresarial mesmo, e tá acabado. Cê tá careca de fazer essas merdas. Então, faz, e não enche o saco. Porra, tu roda até pornô de quinta pro Silas, aquele escroto do caralho, vai ter agora “bloqueio criativo” por causa dum institucionalzinho de merda? Faça-me o favor.
Ok, chega de papo. É só dirigir a porra da tua mente pra nova linha de embutidos de frango da Granja Itaquerambu. Podia ser qualquer outro tema, os cristais de Maurício de Nassau, a cavalgada das Valquírias, a vingança dos baobás contra o Pequeno Príncipe. Que diferença faz? Pensa que são os embutidos de frango do Nassau, a cavalgada das mortadelas, a vingança dos salsichões contra o Pequeno Salame. Pensa no target do vídeo: seres humanos a quem coube o karma nesta encarnação de vender no atacado os produtos da Itaquerambu. Pensa no evento em que o teu vídeo vai passar — vários eventos, aliás, todos no mesmo dia em todas as filiais do Brasil. Os seres humanos vendedores de embutidos verão teu vídeo e serão apresentados ao salsichão, ao salame e até à mortadela de frango, heresias saudáveis em matéria de junkyfood que a Itaquerambu vai lançar no mercado. Mesmo a tradicional salsicha e a insuperável lingüiça de frango vão ser relançadas com outra formulação, segundo eles dizem. Quer dizer, em vez do jornal reciclado de praxe, os putos vão adicionar algum tipo de pasta de lixo orgânico pasteurizado na mistura, imagino, mais uma contribuição da Itaquerambu para um planeta sustentável.
Porra, mas eu sou cineasta, caralho. Artista. Não nasci pra rodar vídeo institucional. E de embutidos de frango, inda por cima, caceta!
Calma, calma. Pensa que o teu vídeo será visto “de Passo Fundo a Quixeramobim, do Rio de Janeiro a Corumbá”, como disse o Zuba, ao sentir minha reação pouco eufórica diante do tema. “E capricha na linguagem brasileira universal, tá?”, foi o que ele me pediu, como se linguagem brasileira universal fosse uma das opções do Final Draft ou do Magic Screen Writer. Você clica em LBU e seu texto será entendido nos pampas, serrados, praias, selvas, semi-áridos e caatingas do país, sem contar os aglomerados urbanos e seus múltiplos guetos. Teu único filme de cinema até agora, por exemplo, nunca passou em tantos lugares ao mesmo tempo. Na caatinga, por exemplo, nunca foi visto. Não que se saiba.
Volto a perguntar: qual a diferença entre arte e embutidos de frango? Ou melhor: por que embutidos de frango não podem se transformar em arte?
Mas não precisa pensar nisso agora, nem em merda nenhuma que não seja frango embutido. Faz logo essa porra, porra. É bico: oito minutos de duração, um curta-metragem. Não vai matar o artista que há em você, amice. Ou havia. Ou nunca houve nem haverá. Foda-se.
É isso aí: vídeo institucional, embutidos de frango, Granja Itaquerambu. Beleza.
O que fode é o prazo. Sempre a porra do prazo. Tá ligado que esse roteiro tem que estar escrito, aprovado, rodado, entregue em mídia DVCAM, e exibido pros vendedores até 15 dias antes do lançamento da campanha na mídia? Ou seja, daqui a nove dias. Você devia ter chamado um bosta dum roteirista qualquer pra te ajudar, desses que filam cigarro e cerveja de mesa em mesa na Merça e não perdem chance de puxar uma lousa e dar aula sobre Hal Hartley e a narrativa cinematográfica interior aos substratos descontínuos da consciência dos personagens pra alguma gostosinha basbaque de peitinhos soltos dentro de uma camiseta de pano fino. Conheço vários roteiristas desse naipe. Dúzias deles, na verdade. Tudo uma corja de bebum cafungueiro desempregado du caraio. Por uma peteca de pó e duas Original você contrata na hora um deles. Se calhar, o infeliz ainda leva teu carro no mecânico pra trocar a fricção e te faz o obséquio de encarar uma fila de banco pra pagar tuas contas atrasadas.
Bullshit. Não preciso, nunca precisei de roteirista nenhum. Merda por merda, deixa que eu mesmo chuto. Só que dessa vez travei geral. E o cara da Itaquerambu tá no pé do Zuba, que tá no meu pé, que tô em pé de guerra com os embutidos de frango. Ridículo, isso. Fala sério: nem uma réles ideiazinha pro vídeo pintou ainda na tua cabeça, meu filho. Nem a porra duma idéia de merda.
Pois é, nem a idéia.
Tá foda.
Embutidos de frango.
Foda.”
>> No ha parado de llover; Maná; Arde El Cielo
>> Retalhos; Craig Thompson; Quadrinhos na Cia

Saturday, June 20, 2009

Conselhos ao B.

#2 Tenha um forte aperto de mão.
Esse é autoexplicativo.

>> Freddie Freeloader; Miles Davis; Kind of Blue
>> Pornopopéia; Reinaldo Moraes; Objetiva (Livro sensacional. Quando acabar a leitura, vou comentar por aqui)

Curtas

* Uma dica rápida: The Living Room Candidate. Todos os comerciais utilizados nas campanhas presidenciais norte-americanas desde 1952. Interessantíssimo, além de ser uma daquelas coisas que somente poderia ser feita acima do Rio Grande.

* Outra: o Pedro Dória "youtuba" um emocianente vídeo acerca dos eventos noturnos em Teerã. Caso você não saiba, os iranianaos - proibidos pelo regime de se manifestar - estão utilizando o escuro da noite para subir em seus prédios e gritar: "Deus é Grande" e "Morte ao Ditador".
De início, ao ler sobre esses eventos, pensei tratar-se de exagero da imprensa ocidental. Todavia, se você assistir ao vídeo, poderá ver que a intensidade dos gritos é impressionante. No link "youtubado" pelo Dória, a moça chora.
É história ao vivo. Como convém a nossos tempos pós-modernos.

* Mais uma: parece que o seriado do Dr. Gregory House é o show mais assistido no planeta. Segundo a Eurodata TV Worldwide, a turma do ficto "Princeton Plainsboro" foi acompanhada em 66 países, equivalendo, segundo o instituto europeu, a um estonteante 1,6 bilhão de telespectadores. Impressionante.
O problema é que o seriado do Dr. House tem perdido intensidade dramática. A última temporada, por exemplo, foi uma das piores desde que o show circulou pela primeira vez. Vamos ver o que nos aguarda na sexta "season".

>> Ohlahilahe; Moses Mchunu; Ronca Ronca - OiFm
>> Pornopopéia

P.S.: são 23:03 de 20 de junho de 2009 e o "Jornal das 10", da Globo News, acaba de apresentar ao vivo a mesma imagem que os iranianos fizeram na noite de ontem e que o PD "youtubou" hoje pela manhã. Realmente, vivemos tempos interessantes... e eles parecem não ter percebido.

Wednesday, June 17, 2009

Choose Life

"Choose Life. Choose a job. Choose a career. Choose a family. Choose a fucking big television, choose washing machines, cars, compact disc players and electrical tin openers. Choose good health, low cholesterol, and dental insurance. Choose fixed interest mortage repayments. Choose a starter home. Choose your friends. Choose leisurewear and matching luggage. Choose a three-piece suite on hire purchase in a range of fucking fabrics. Choose DIY and wondering who the fuck you are on a Sunday morning. Choose sitting on that couch watching mind-numbing, spirit-crushing game shows, stuffing fucking junk food into your mouth. Choose rotting away at the end of it all, pishing your last in a miserable home, nothing more than an embarrassment to the selfish, fucked up brats you spawned to replace yourself.

Choose your future.

Choose life."
O começo de Trainspotting, ícone dos anos 90.

>> Assinado Eu; Tiê; Sweet Jardim
>> Varennes

Tuesday, June 16, 2009

Primeiras Linhas

"Você vai começar a ler o novo romance de Italo Calvino, Se Um Viajante Numa Noite De Inverno. Relaxe. Concentre-se. Afaste todos os outros pensamentos. Deixe que o mundo a sua volta se dissolva no indefinido. É melhor fechar a porta; do outro lado há sempre um televisor ligado. Diga logo aos outros: "Não, não quero ver televisão!". Se não ouvirem, levante a voz: "Estou lendo! Não quero ser perturbado!". Com todo aquele barulho, talvez ainda não o tenham ouvido; fale mais alto, grite: "Estou começando a ler o novo romance de Italo Calvino!". Se preferir, não diga nada; tomara que o deixem em paz.

Escolha a posição mais cômoda: sentado, estendido, encolhido, deitado. Deitado de costas, de lado, de bruços. Numa poltrona, num sofá, numa cadeira de balanço, numa espreguiçadeira, num pufe. Numa rede, se tiver uma. Na cama, naturalmente, ou até debaixo das cobertas. Pode também ficar de cabeça para baixo, em posição de ioga. Com o livro virado, é claro.

Com certeza, não é fácil encontrar a posição ideal para ler. Outrora, lia-se em pé, diante de um atril. Era hábito permanecer em pé, parado. Descansava-se assim, quando se estava exausto de andar a cavalo. Ninguém jamais pensou em ler a cavalo; agora, contudo, a idéia de ler na sela, com o livro apoiado na crina do animal, talvez preso às orelhas dele por um arreio especial, parece atraente a você. Com os pés nos estribos, deve-se ficar bastante confortável para ler; manter os pés levantados é condição fundamental para desfrutar a leitura.

Pois bem, o que está esperando? Estique as pernas, acomode os pés numa almofada, ou talvez duas, nos braços do sofá, no encosto da poltrona, na mesinha de chá, na escrivaninha, no piano, num globo terrestre. Antes, porém, tire os sapatos se quiser manter os pés erguidos; do contrário, calce-os novamente. Mas não fique em suspenso, com os sapatos numa das mãos e o livro na outra. (...)"
Ítalo Calvino, em Se Um Viajante Numa Noite De Inverno. Insuperável.

>> Night Nurse; Simply Red; Reggae Lovers
>> Varennes

Sunday, June 14, 2009

Conselhos ao B.

#1 Sempre envie uma nota de agradecimento.
Parece ser um bom ponto de partida.

>> The Cientist; Coldplay; A Rush of Blood to the Head
>> Varennes - A Morte da Realeza; Mona Ozouf; Companhia das Letras