Saturday, October 16, 2010

E La Nave Va


Pelo teor dos recentes eventos, parece-me que, com relativo perigo, a pequenez dominou o processo eleitoral. Infelizmente, debate surreal e maniqueísta reina na eleição.

À guisa de renovar os esforços neste pouco tempo que resta, vale lembrar parte do preâmbulo da Constituição Federal: nós, representantes do povo brasileiro, reunimo-nos para instituir um Estado Democrático, destinado ao exercício dos direitos sociais e do bem-estar. Essa frase, pronunciada inicialmente em 1988, mantém sua atualidade e não pode ser esquecida por aqueles que pretendem trabalhar no Planalto.

Vinte e dois anos atrás, o grupo de homens que representava a nação, com essas simples palavras, reincluiu o Brasil na experiência democrática e na busca pelo fim da exclusão social. O documento que assinaram ilustra o contínuo esforço de nosso povo em favor da inclusão e da melhoria das condições de vida.

Creio que sobrevivemos como nação porque, em meio aos percalços, sempre existiram a esperança e a possibilidade de criarmos um país melhor. Conforme já afirmei por aqui, penso que o Estado deve servir exatamente para esse fim: melhorar a vida de seu povo. Na frase de Tancredo Neves, um país justo é aquele que contém a ganância dos ricos e eleva a renda dos pobres, de maneira a construir a mais ampla classe média possível”.

Malgrado tenhamos oscilado entre alguns desânimos, procuramos superar nossos mais terríveis fantasmas. Hoje, no contexto da moeda estável e do acesso ao trabalho, o cidadão encontra dignidade e pode planejar a vida de modo mais tranqüilo.

Após esses anos, enfrentadas as vicissitudes, o país parece começar a reerguer-se e a esperança volta a assistir-nos. O governo do Presidente Lula, por exemplo, modernizou e criou programas que atestam o incremento da qualidade de vida do brasileiro. Entre essas políticas, posso citar o Bolsa Família, o programa Luz para Todos, as alterações no ensino superior, entre muitos outros. No caso das Metas do Milênio, já em 2010, estamos perto de atingir objetivos que a Organização das Nações Unidas traçou para 2015.

Essas políticas permitiram ao povo renovar o espírito de patriotismo e dever cívico, além de lhe garantir dignidade. O Bolsa Família assegura o sustento essencial, o Luz para Todos traz modernidade e o acesso ao ensino superior torna real o sonho de um futuro melhor. De acordo com o que o Presidente da República gosta de repetir: nunca antes neste país, tantas pessoas foram contempladas de modo tão abrangente.

Ao contrário do que se dizia à época da República Velha, a questão social não pode mais ser vista como um problema de polícia, manietado pelo reducionismo. Nossa atual Constituição simplesmente abomina interpretações que considerem teses desse teor. Aborto, religião, escolhas sexuais, não é essa a essência nacional.

Ao longo de nossa história, a inteligência dos verdadeiros homens de estado logrou-nos progresso - e esse é o legado que se deve debater. Não podemos perder o rumo em devaneios surrealistas. Na lição dos constituintes de 1988, nosso destino é o bem-estar e a inclusão. A meu ver, é isso que precisa ser lembrado nesses últimos dias de campanha.

>>This City; Steve Earle; Treme - Music From The HBO Original Series, Season 1
>> O Colecionador de Mundos; Ilija Trojanow; Companhia das Letras

Almaviva


Em recente almoço, junto a alguns amigos, aproveitamos uma garrafa de Almaviva que dormitava calmamente na adega. Não sou nenhum connoisseur de vinhos, mas, após decantar, o bichano estava uma beleza. Fica o registro.

>> Indian Red; Donald Harrison; Treme - Music From The HBO Original Series, Season 1
>> Memória de Elefante; Caeto; Quadrinhos na Cia.

Sunday, October 03, 2010

"... antes que o sol de domingo nos chame às urnas"

03 de outubro, há eleições. Conforme imaginei, o dia começou com um sol tímido em Brasília. Esta é a primeira vez que votarei por aqui. À lição de Pessoa, deverá valer a pena.

De minha parte, fico cá com uma saudade: não há Rio de Janeiro no cerrado. Caso estivesse em terras fluminenses, seria certo haver um churrasco em Itaboraí.

O domingo serviria a isso. Após votar, mandar-me-ia para o sítio, e a turma de sempre estaria por lá. Alguns já teriam votado, outros estariam apenas de passagem para o voto, aproveitando o azul do céu. Seria mais um dia mágico.

Haveria carnes queimando, cervejas e comidas ao longo de todo o encontro. Conforme votassem, os amigos passariam por lá: um dedo de prosa, acho que fulano vencerá, esse ano não sei, já votei – cada qual teria sua opinião. Por algum motivo que não me recordo, no correr do dia, muitos candidatos também apareceriam: cabalariam os últimos votos, almoçariam, descansariam, curtiriam papo. Seria assim quase o domingo inteiro.

Tendo em vista ser eleição, valeria a festa. Desde a redemocratização, minha família criou o hábito de fazer um churrasco no dia da votação. Creio que em razão dos muitos anos de escolhas restritas, o encontro funcionava como uma jóia.

Pois bem, hoje, talvez seja bom aproveitar o dia. Pode-se providenciar algumas picanhas, sal grosso, carvão, limões, cachaça, gelo, cervejas e a alegria de sempre. Turmas várias - os prezados não vistos há muito tempo – podem chegar, juntar mesas, cadeiras. Um churrasco à moda carioca, pois é.

Para citar uma das frases do Presidente Getúlio Vargas: "nem um ditador pode mudar um momento como esse". É dia de eleição, e há sol.

>> I Got It Bad; Nina Simone; Best of Coolpix Years
>> A Journey; Tony Blair; Knope