Esta semana, no site da
Stratfor, os prezados analistas fazem uma afirmação interessante: chegou a hora de semear a safra no hemisfério sul... e o dinheiro sumiu. Ou seja, para “apimentar” os já terríveis cenários, há grande probabilidade de faltar comida no futuro próximo: a semeadura de novas safras é particularmente intensiva em capital e requer aos fazendeiros que obtenham grandes financiamentos para adquirir, por exemplo, fertilizantes e sementes. Sem dinheiro, não há plantação.
Além disso, o preço dos grãos permanece baixo neste mês, pressionado, sobretudo, pela crise global e pelos sinais de recessão que já começam a abater a demanda. O contexto piora quando se lembra que os baixos preços só não caem mais por causa de movimentos especulativos de compra e venda das commodities – atividade que não deve perdurar por muito tempo. Malgrado os preços ainda estejam acima daqueles praticados em 2006, deve-se considerar que, a se manter a queda, muitos fazendeiros serão seriamente prejudicados.
Para além de todos os problemas, os preços baixos são apenas um dos elementos negativos. Com os altos custos dos insumos, muitos fazendeiros estão vendo seus lucros –normalmente baixos – desaparecerem inteiramente. Nesse quadro, os fertilizantes são a maior dúvida: apesar da redução no preço do petróleo e seus derivados – e de haver previsão de queda no preço dos fertilizantes em 2009 – a cotação dos adubos ainda não caiu como se esperava. E, como dito anteriormente, a hora de plantar é agora, não no ano que vem.
O assunto fica ainda pior ao final do ciclo: sem conseguir plantar, os fazendeiros não terão o que colher; perdida a colheita, não há o que vender; sem a venda, o mundo fica privado de comida e os bancos perdem os empréstimos feitos aos fazendeiros. Chega-se, assim, a um dos paradoxos chestertonianos: não há dinheiro agora porque não haverá o que receber no ano que vem; não haverá o que receber em 2009 porque não há dinheiro agora. Bem-vindo ao século XXI.
Assim como tudo referente ao campo, a necessidade de crédito segue um ciclo sazonal. Tal ciclo torna-se um problema conforme o aperto creditício encontra a estação de semeadura no sul do planeta: sementes, fertilizantes, pesticidas, máquinas, tudo custa muito dinheiro.
Aqui no Brasil já são sentidos alguns sérios problemas em relação ao crédito agrícola, especialmente pelo fato de os empréstimos estarem encolhendo para o setor rural. Reduções financeiras levaram à queda nas vendas de fertilizantes e equipamentos. Em recente debate que assisti na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, industriais do setor de adubos afirmaram que a produção no campo, como um todo, deve sofrer intensa redução em 2009
Sobretudo, os danos sofridos pelos fazendeiros não devem parar por aí. Se as tendências forem mantidas, conforme falei acima, a estação de 2008/2009 pode ser marcada por reduções expressivas nas safras – um fator que contribuiria sobremaneira para a mais assustadora das previsões: uma nova rodada de aumento nos preços de alimentos, inserida no contexto de provável, e dura, recessão planetária.
Por certo, os governos têm seus estoques reguladores a fim de manter alguma paridade. Entretanto, por maiores que sejam tais armazéns, há limites temporais e espaciais para a manutenção de alimentos estocados. Ademais, a vida moderna pressiona em demasia o conjunto de fatores: hoje, urbanos que somos, praticamente não temos mais aquele tio da roça que traz leite, ovos, alguns legumes e carne toda semana. Compramos comida no Carrefour e pronto. Em um ambiente recessivo, sem emprego e sem comida... sabe-se lá como ficaríamos.
>> Zen And The Art Of Motorcycle Maintenance; Robert M. Pirsig; Library of Congress