Sunday, January 31, 2010

Gonzo Kitchen: Mini-abóboras Recheadas


Ingredientes:
- 6 mini-abóboras
- 200 g de shimeji
- 1 dente de alho sem casca
- 150g de queijo gorgonzola
- 150g de cream cheese
- 1 lata de creme de leite
- pimenta do reino e sal a gosto
- azeite de oliva
- papel alumínio

Como fazer:
- Corte a tampa das abóboras e limpe-as por dentro, removendo todas as sementes e fibras. Lave o interior dos vegetais.
- Limpe o shimeji e reserve
- pique o dente de alho em tiras finas
- coloque o gorgonzola, o cream cheese e o creme de leite em uma tigela. Amasse com um garfo até obter uma pasta uniforme.
- Coloque um pouco de azeite, o shimeji e o alho em uma panela, mexendo, de vez em quando, por 7 minutos. Junte a pasta com os queijos e coloque a pimenta.
- Distribua o creme dentro de cada abóbora, divindo de maneira igualitária.
- Forre a parte inferior de cada abóbora com papel alumínio (assim, elas não grudarão na assadeira).
- Em uma assadeira funda, coloque as abóboras.
- Ponha água até o meio, a fim de formar um "banho-maria".
- Leve ao forno em temperatura média por cerca de 35 minutos. Para ter certeza de que está pronto, enfie um palito de dentes na casca da abóbora: se estiver macia, sirva sem medo.

Junte os melhores amigos que há, algumas garrafas de Bordeaux e, voilà, divirta-se.

>> Poker Face; Lady Gaga; The Fame
>> Clarice; Benjamin Moser; Cosac Naify

Friday, January 29, 2010

iJobs

“Wow!” - iPod, 2001
“Wowww!” – iPhone, 2007
“Well…” – iPad, 2010

>> Slave To The Wage; Placebo; Placebo
>> Clarice; Benjamin Moser; Cosac Naify

Friday, January 22, 2010

You Few, You Happy Few


Neste final de semana, realizar-se-á mais um concurso de admissão para a carreira diplomática (CACD). Ao contrário de anos anteriores, não prestarei os exames. De certa forma, é estranho não fazer a prova depois de tantos anos: os temas e as questões não me saem da cabeça.

No CACD, ao menos para mim, o cotidiano e a situação do Brasil sempre foram assuntos recorrentes. Sobretudo, o estudo da história brasileira era das matérias que mais me agradava. No caso do Itamaraty, valia prestar atenção ao passado brasileiro e à maneira como esse contribuiu para nossa inserção internacional. Acima de tudo, em meus estudos, sempre percebi ênfase positiva na avaliação de nossa história.

Ao contrário da frase de Stephen Dedalus, personagem de James Joyce em Ulysses, a história brasileira não é um pesadelo do qual precisamos acordar. No mesmo sentido, penso, quando observamos nosso passado, devemos simplesmente esquecer o anjo de Paul Klee: as cenas de tristeza e desencontro humano, malgrado sejam imperfeitas, contribuíram na formação de nossa individualidade.

Apesar do ceticismo de Joyce e Klee, creio termos sobrevivido porque, em meio ao pesadelo, sempre existiram a esperança e a possibilidade de criarmos um país melhor. De minha parte, imagino que a diplomacia e as relações internacionais devem servir exatamente para esse fim.

Malgrado vivamos oscilando entre o desânimo e a confiança, sempre fomos capazes de superar nossos mais terríveis fantasmas. E, talvez, essa tenha sido a maior lição que extraí após tantos anos estudando para ingressar na Casa de Rio Branco: nossa história não é o passado equivocado que alguns tentam nos impingir.

Essa afirmativa, entretanto, não é de todo evidente para o leigo. Avançamos cotidianamente, mas os percalços aparentam-se maiores no imaginário do observador comum.

Festejamos o Ipiranga, e o jovem príncipe foi visto como o protetor da nacionalidade que nascia. Menos de dez anos depois, o herdeiro tornar-se-ia um absolutista do qual nos envergonharíamos – e dele nos livramos nos ventos liberais de 1831.

Logo após, a República prometeu-nos democracia e descentralização. Sonho não de todo alcançado até hoje. A Aliança Liberal e a conseqüente Revolução de 30 foram frustradas pela irracionalidade daqueles tempos. Depois da tibieza de Dutra, alguma esperança tivemos com a retomada do projeto desenvolvimentista de Vargas e JK. Apesar de custosos ao país, foram essenciais a nossa inserção na modernidade.

Sucessor de JK, Jânio revelou-se fraco: um terno vazio. Qualquer tenha sido o motivo da renúncia impensada – covardia moral ou quiçá outra coisa – o gesto de Jânio decepcionou a nação e fez-nos mergulhar no obscurantismo por vinte longos anos. Ainda assim, avançamos: apesar de conservadora, a modernização implantada pelos militares é inegável.

Então, findo o interregno repressivo, a esperança alternou-se para a Assembléia Nacional Constituinte – que promulgou uma boa Constituição, apesar das críticas de alguns. Avançamos, mais uma vez.

Depois, lamentavelmente, a burocracia paulista desmontou a estrutura estatal criada por Vargas/JK e preservada até pelos militares. A década de 90 quase assistiu ao desmantelamento estrutural da nação. Ainda assim, perseveramos: o plano Real até hoje confirma essa assertiva.

Após todos esses anos, enfrentadas as vicissitudes, o país parece começar a reerguer-se e a esperança a nos assistir. Não podemos deixar, neste momento, que eventuais forças alienígenas atrasem nosso encontro com o destino. É preciso sonhar – e fazer. Exatamente a tarefa maior da diplomacia.

Nossa grandeza está dentro das fronteiras nacionais e no convívio amistoso com os outros povos. É essa convivência, serena, insubmissa, firme, cordial, que nos fez brasileiros. Dessa postura, expressa pelo Itamaraty, não nos devemos afastar. Ao longo de todo o tempo, a diplomacia sempre nos logrou proteger. E, invariavelmente, como falei, avançamos muito.

Grosso modo, esse é o legado que, futuramente, os postulantes ao exame de domingo vão defender. E, também de certa forma, o presente texto é minha homenagem a esses “guerreiros”.

Portanto, caros amigos, ao fazer a prova, lembrem-se da lição do corneteiro de Pirajá: avancem degolando. Afinal, senhores, nas palavras do Chanceler Leitão da Cunha, a diplomacia está lá, à espreita, lhes esperando.

>> Hallelujah; Susanna and the Magical Orchestra; Melody Mountain
>> Clarice; Benjamin Moser; Cosac Naif

Sunday, January 17, 2010

Pós-modernos, Parker e Les Gouttes


Recentemente, fui presenteado com alguns bons rótulos de vinho. Alvissareiros presentes, aliás: minha pequena adega já estava criando teias de aranha.

Após degustar uma das garrafas, fiquei pensando sobre um tópico muito familiar aos apreciadores de vinho: quais são os fatores que influenciam nossas escolhas acerca de qual vinho comprar? Alguém ainda acredita que Robert Parker é a ”referência” mundial sobre vinho?

Eis que, para minha surpresa, a resposta da segunda pergunta parece ter mudado. Mr. Parker não é mais o líder mundial em referência enóloga. Ao que parece, o norte-americano perdeu seu lugar para um fenômeno chamado Les Gouttes de Dieu (As Gotas de Deus).

“As Gotas” é um mangá japonês e foi considerado pelo Gourmand World Cookbook como o “melhor livro do mundo sobre o vinho em 2009”. A Decanter, importante publicação no mundo do vinho, o citou como um dos livros mais influentes dos últimos anos.

A série começou a ser publicada em 2004 e hoje possui 22 exemplares. Posteriormente, a publicação seguiu para Coréia do Sul, Hong Kong, Taiwan e, da Ásia, passou a ser editada também na França. Apenas para se ter uma idéia da força conquistada pelo livrinho, em 2007 foram impressas 500.000 cópias. Em essência, todos os vinhos que aparecem no mangá são autênticos.

De início, o mundo do vinho não deu muita importância a esse novo objeto. Entretanto, quando o desconhecido Château Mon-Pérat, citado pela revista, viu seu millésime 2001 vender 20.000 garrafas em pouco tempo, os especialistas se aperceberam da novidade.

Os dois irmãos autores do quadrinho são grandes conhecedores de vinho e criaram uma história dentro da tradição de contos japoneses. No roteiro, um famoso degustador morre e seu filho, a fim de receber a herança paterna, deve provar ser melhor do que o pai. Na busca por comprovar sua perfeição, o garoto é acompanhado por um mendigo alcoólatra, uma estagirária-sommelière e um amigo enlouquecido por vinhos italianos.

A importadora japonesa, Enoteca, por exemplo, afirma que os personagens do livro são hoje responsáveis pelos pedidos da empresa. Na Coréia do Sul, a venda cresceu de modo significativo, com os vinhos passando de menos de 1/3 do mercado para cerca de 70% das vendas de bebidas alcoólicas. As vendas de um vinho chamado Umberto Cosmo's Colli di Conegliano Rosso também cresceram 30% após o rótulo ter sido citado na revista.

O interessante – e inusitado – é que parte do interesse pelo mangá pode ser creditado ao fato de a revista ensinar sobre vinhos de um modo que entretém. Em 2009, como falei acima, a Decanter incluiu a publicação em sua “Power list” na colocação de número 50, com a citação de que o trabalho é a mais influente publicação sobre vinho em 20 anos. Robert Parker tremeu, portanto.

A notícia, de certa forma, é muito boa. Ao contrário do que previam e tentaram os americanos, o mundo parece não estar se curvando a um gosto universal sobre vinhos. Felizmente, valem ainda o inesperado e a boa qualidade - como não poderia deixar de ser em um produto que carrega a identidade do terroir no qual é produzido.
----------------------------------------------------------------------------------
Eu ia escrever algo sobre a tragédia no Haiti. Entretanto, após ler o lúcido texto do Maurício, resolvi colocar um link aqui.

>> Um Dia Em Provença; Paralamas do Sucesso; Hey Nana
>> O Planalto e a Estepe; Pepetela; Leya Brasil

Saturday, January 09, 2010

No Teu Deserto

“- Nós não nos perdemos! – garanti-lhe, com uma pose tranquila e confiante, como se estivesse a ensaiar para um filme.
- Não? E porquê?
- Porque somos portugueses: há quinhentos anos que andamos por toda parte e conseguimos sempre voltar a casa”.
Acabei de ler o novo livro do Miguel Souza Tavares, “No Teu Deserto”. Pela terceira vez, o autor lusitano correspondeu minhas expectativas. O livro é tão enxuto – e bem escrito – que comprei-o à noite de ontem e virei a última página duas horas depois. Por sorte, a Companhia das Letras manteve o português em sua original versão.

Talvez, na língua pátria, Souza Tavares seja um dos melhores escritores da atualidade. Seus livros anteriores, “Equador” e “Rio das Flores” são também muito bons - “Rio das Flores”, porém, talvez seja o mais fraco dos três que li. Junto com Mia Couto, Pepetela e outros autores, a nova safra de escritores lusófonos está revigorando o romance da língua de Camões.

Estranhamente, todavia, entre os melhores escritores em língua portuguesa atuais, não consigo incluir nenhum brasileiro. No grupo dos melhores, as nacionalidades derivam entre Angola, Portugal e Moçambique, sobretudo. Não por acaso, recentemente elegemos Paulo Coelho para a Academia de Letras - nada a comentar, enfim.

No caso de Souza Tavares, o fato de ser filho da poetisa Sophia de Mello Breyner deve ter ajudado muito. Além disso, Tavares é declarado amante do Alentejo e, como os prezados sabem, quem não se rende de forma absoluta ao Alentejo, não merece saber que o rio existe. Para um escritor português, essa característica é fundamental – Fernando Pessoa, de alguma forma, também sabia disso.

“- Estava a pensar se há viagens sem regresso. E que nunca mais vou voltar desta viagem. Nunca mais vou regressar do deserto.”
O livro, em si, é relativamente simples: um “road-book” sobre a viagem inesperada de um casal desconhecido ao deserto argelino. Tudo a bordo de um velho jipe UMM, cheio de enlatados, garrafas de whisky e muita aventura.

De forma despropositada, o livro põe o leitor dentro da história. Um conto/romance que dói e faz rir ao mesmo tempo. É um livro de viagem que o leva dentro da viagem: deixa o leitor com areia nos olhos, com fome e frio. Deixa-nos vazios, como o deserto: a olhar estrelas. E, depois, com a estranha sensação de que tudo acabou muito depressa.

"No teu deserto" é uma carta a quatro mãos. Acima de tudo, uma carta sobre o que não se disse numa viagem de 40 dias ao deserto, realizada em 1987.

Vinte anos depois, ao tentar “reviver” a viagem, o protagonista descobre morta sua companheira (isso não estraga o livro, ela morre na primeira linha da história). Como 20 anos é muito tempo, as cartas chegaram tarde demais. É um livro sobre desencontros.

Como dizia Machado de Assis, escrever é mera questão de colocar acentos. Miguel Souza Tavares parece ter aprendida a lição: “No Teu Deserto” é simples como só, tão simples que dificilmente poderia ser melhor.

“As coisas mudaram muito, Cláudia! Todos têm terror do silêncio e da solidão e vivem a bombardear-se de telefonemas, mensagens escritas, mails e contactos no Facebook e nas redes sociais da Net, onde se oferecem como amigos a quem nunca viram na vida. Em vez do silêncio, falam sem cessar; em vez de se encontrarem, contactam-se, para não perder tempo; em vez de se descobrirem, expõem-se logo por inteiro: fotografias deles e dos filhos, das férias na neve e das festas de amigos em casa, a biografia de suas vidas, com amores antigos e actuais. E todos são bonitos, jovens, divertidos, “leves”, disponíveis, sensíveis e interessantes. E por isso é que vivem esta estranha vida: porque, muito embora julguem poder ter o mundo aos pés, não aguentam um dia de solidão. Eis porque já não há ninguém para atravessar o deserto. Ninguém capaz de enfrentar toda aquela solidão.”

>> Matamoros Banks; Devils & Dust; Bruce Springsteen
>> No Teu Deserto; Miguel Souza Tavares; Companhia das Letras