Saturday, May 10, 2008

H2O


A The Economist dessa semana traz reportagem de duas páginas sobre o questão da água e sobre conflitos pretensamente iminentes acerca do domínio dos rios. A atualidade e o interesse do tema valem uma boa discussão.

Ao contrário do que pensa o senso comum, a idéia de exércitos marchando em batalhas pela água não é tão crível como se acredita. De acordo com a revista, há forte evidência do contrário: há mais cooperação do que conflito nas quase 270 bacias hidrográficas trans-fronteiriças espalhadas pelo mundo. O numero impressiona quando se imagina que tais bacias cobrem quase metade da superfície seca do planeta.

Exceto por algumas regiões tensas (o Tigre e o Eufrates entre Turquia, Síria e Iraque, por exemplo), a revista apresenta inúmeros casos onde o partilhar da água é pacífico. A África é emblemática nesse quesito: quanto maior o número de países por onde um rio passa, maior é a cooperação regional no continente.

Aqui no Brasil a situação não é muito diversa. Temos uma legislação bastante avançada no assunto das bacias hidrográficas trans-fronteiriças. Por compreender grande porção territorial em situação de fronteira com outros países, especialmente na região amazônica, o Brasil consignou essa preocupação no Tratado de Cooperação Amazônico , assinado em 1978 por Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. Em seu artigo V, o tratado estabelece: “tendo em vista a importância e multiplicidade de funções que os rios amazônicos desempenham no processo de desenvolvimento econômico e social da região, as partes contratantes procurarão envidar esforços com vistas à utilização racional dos recursos hídricos”.

Alem do mais, conforme a lei brasileira, os Comitês de Bacia Hidrográfica são compostos por representantes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios cujos territórios se situem em suas áreas de atuação, dos usuários das respectivas águas e das entidades civis de recursos hídricos com comprovada atuação na bacia. A lei avança ainda mais, afirmando que, nas situações onde haja bacias de rios fronteiriços e trans-fronteiriços de gestão compartilhada, a representação da União deverá incluir um representante do Ministério das Relações Exteriores. Portanto, o interesse pátrio ocorre em níveis elevados no que tange à administração pública. De qualquer forma, não poderia ser diferente, dada a extrema importância do tema.

Sobre a questão das águas, gosto sempre de lembrar a metáfora criada pelo mestre Alberto da Costa e Silva. Ao denominar o oceano Atlântico como um rio entre Brasil e África, o historiador determinou que a imensidão de água entre os dois “continentes” mais os une do que os separa, exatamente como descobriu a revista inglesa. 

>> Iris; Miles Davis; E.S.P.

>> Dossiê Drummond; Geneton M. Neto; Globo

Friday, May 09, 2008

Concentração

Para os que não sabem, o termo “campo de concentração” é um invento espanhol. Advém dos campos de “reconcentração” do militar cubano Valeriano Weyler, que os habilitou na ilha durante a sublevação independentista de Martí, em 1895. A idéia era internar a população civil a fim de que essa não se sublevasse. O intento, porém, foi catastrófico: a fome e as doenças mataram milhares de pessoas, a maioria mulheres e crianças.

Tempos depois, os britânicos copiaram o invento: em 1899 o exército da Rainha utilizou-se da técnica contra os Boers, na África do Sul. O resto, foram o século XX e a história. Sempre ela.

>> Dossiê Drummond; Geneton M. Neto; Globo

>> Fix You; Coldplay; X&Y

Saturday, May 03, 2008

Página 201

"E se Carlos Drummond de Andrade abrisse, em companhia de um amigo de juventude, o escritor Cyro dos Anjos, uma agência especializada em fornecer aos interessados todo tipo de texto? A idéia não foi adiante. Mas mereceu um registro no diário pessoal de Drummond, no dia 27 de março de 1960: "Meu compadre Cyro dos Anjos anuncia-me sua próxima partida para Brasília. Devemos aposentar-nos no fim do ano e eu lhe falo de um possível 'rumo novo' para depois. Temos tanta experiência acumulada em gerir interesses de outrem, por que não aplicá-la em proveito de nós mesmos? Qualquer coisa assim como uma pequena agência de publicidade intelectual, que fornecesse a interessados o de que eles necessitassem: discursos, artigos, contos, poemas, cartas... Redigir é o nosso forte, e ganhar dinheiro, o nosso lado incompetente".

Essa, pois, é a página 201 do livro mais próximo deste que vos tecla. No caso, "Dossiê Drummond", de Geneton Moraes Neto, editado pela Editora Globo.

>> Hairshirt; R.E.M.; Green

>> O Anjo Pornográfico; Ruy Castro; Cia das Letras