Hoje, faz uma semana que desabou o morro do Bumba. Não é uma data a se comemorar.
A tragédia, infelizmente, demonstrou mais uma vez nossas assimetrias. Ao longo dos anos, o Brasil arrasta o pecado das desigualdades. E é nas regiões mais pobres que as diferenças sociais se acentuam: talvez uma das marcas mais tristes deste nosso começo de século seja a falta de solidariedade/humanidade para com os pobres.
No Brasil, pouco se pretende conceder a essa parcela da população. Somente aos trancos, nosso “contrato social” aceita pender um pouco para o lado humilde do país. Não foi diferente na semana que passou: o descaso mostrou sua pior face, 232 mortos até o momento em que escrevo. Apesar da politicagem e das promessas de que tudo vai mudar, pouco coisa concreta foi feita no Rio de Janeiro.
Conforme resumiu Raymond Aron, a pobreza – brasileira, inclusive – pode ser medida pela diferença entre o que se quer e o que se tem. Faz-se necessário reconhecer que não basta remover as favelas e sanear a cidade. Por certo, essas são medidas importantes, mas que não comportam fins em si mesmas. Tese maior recomenda trabalhar em dois sentidos a fim de não repetirmos a tragédia da semana passada: educar o povo para a consciência de seus direitos e educar nossas elites para o patriotismo.
É necessário reduzir as desigualdades. Na frase de Tancredo Neves: “um país justo é aquele no qual o Estado contém a ganância dos ricos e eleva a renda dos pobres, de maneira a construir a mais ampla classe média possível”. Tivéssemos concretizado essas palavras, o morro do Bumba simplesmente não existiria.
Para além desse cenário, o mais grave desta nossa época estéril não é apenas a ausência de solidariedade, mas a falta de idéias. Não que faltem as absurdas, como, por exemplo, a contratação da Fundação Cacique Cobra Coral para “intervir” nas precipitações meteorológicas cariocas. Idéias há, portanto, mas invertebradas em sua maioria. Autorizar moradias em um lixão desativado e ainda urbanizar a área é uma delas; contratar uma entidade espírita para controlar os resultados desta imprevisão é outra.
Para quem não acredita, no dia da tragédia, o site da Fundação trazia o seguinte aviso: "Chuvas no Rio: A FCCC só foi Acionada pela Prefeitura as 23h51 do dia 05.04.10 quando a cidade ja estava atingida pelo temporal desde as 18h00... A FCCC é Inerte e só atua quando Solicitada, conf. convênio operacional”. Pior ainda, no ano passado, de acordo com o que escrevi aqui, o secretário Luiz Guaraná defendera o descarte da ajuda espiritual, por considerar que a cidade deveria priorizar investimentos reais na conservação. Foi ignorado.
Não se trata aqui de criticar convicções religiosas de quem quer que seja, mas causa espanto a política da prefeitura. Sobre esse tema, Max Horkheimer disse certa vez: “muitas idéias, às vezes, querem dizer idéia nenhuma”. A meu ver, é esse o caso do Rio de Janeiro. Pobre Rio.
A tragédia, infelizmente, demonstrou mais uma vez nossas assimetrias. Ao longo dos anos, o Brasil arrasta o pecado das desigualdades. E é nas regiões mais pobres que as diferenças sociais se acentuam: talvez uma das marcas mais tristes deste nosso começo de século seja a falta de solidariedade/humanidade para com os pobres.
No Brasil, pouco se pretende conceder a essa parcela da população. Somente aos trancos, nosso “contrato social” aceita pender um pouco para o lado humilde do país. Não foi diferente na semana que passou: o descaso mostrou sua pior face, 232 mortos até o momento em que escrevo. Apesar da politicagem e das promessas de que tudo vai mudar, pouco coisa concreta foi feita no Rio de Janeiro.
Conforme resumiu Raymond Aron, a pobreza – brasileira, inclusive – pode ser medida pela diferença entre o que se quer e o que se tem. Faz-se necessário reconhecer que não basta remover as favelas e sanear a cidade. Por certo, essas são medidas importantes, mas que não comportam fins em si mesmas. Tese maior recomenda trabalhar em dois sentidos a fim de não repetirmos a tragédia da semana passada: educar o povo para a consciência de seus direitos e educar nossas elites para o patriotismo.
É necessário reduzir as desigualdades. Na frase de Tancredo Neves: “um país justo é aquele no qual o Estado contém a ganância dos ricos e eleva a renda dos pobres, de maneira a construir a mais ampla classe média possível”. Tivéssemos concretizado essas palavras, o morro do Bumba simplesmente não existiria.
Para além desse cenário, o mais grave desta nossa época estéril não é apenas a ausência de solidariedade, mas a falta de idéias. Não que faltem as absurdas, como, por exemplo, a contratação da Fundação Cacique Cobra Coral para “intervir” nas precipitações meteorológicas cariocas. Idéias há, portanto, mas invertebradas em sua maioria. Autorizar moradias em um lixão desativado e ainda urbanizar a área é uma delas; contratar uma entidade espírita para controlar os resultados desta imprevisão é outra.
Para quem não acredita, no dia da tragédia, o site da Fundação trazia o seguinte aviso: "Chuvas no Rio: A FCCC só foi Acionada pela Prefeitura as 23h51 do dia 05.04.10 quando a cidade ja estava atingida pelo temporal desde as 18h00... A FCCC é Inerte e só atua quando Solicitada, conf. convênio operacional”. Pior ainda, no ano passado, de acordo com o que escrevi aqui, o secretário Luiz Guaraná defendera o descarte da ajuda espiritual, por considerar que a cidade deveria priorizar investimentos reais na conservação. Foi ignorado.
Não se trata aqui de criticar convicções religiosas de quem quer que seja, mas causa espanto a política da prefeitura. Sobre esse tema, Max Horkheimer disse certa vez: “muitas idéias, às vezes, querem dizer idéia nenhuma”. A meu ver, é esse o caso do Rio de Janeiro. Pobre Rio.
>> Come Back to What You Know; Embrace; Álbum Desconhecido
>> Revista Piauí; Abril 2010
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