Friday, May 14, 2010

Drummondis

Esta semana, precisei escrever um texto sobre o poeta Carlos Drummond de Andrade. De certo modo, a prosa drummondiana ficou presa em minha cabeça desde então. Felizmente, a arte do poeta sobreviveu ao tempo.

Por meio de seus poemas, o trabalho de Carlos Drummond de Andrade representa momento ulterior do Modernismo na literatura pátria. Em seus textos, o poeta aprofundou e amadureceu as conquistas da geração de 1922.

No aspecto formal, os novos poetas modernistas – Drummond entre eles – continuavam a pesquisa estética iniciada na década anterior e demarcada pelo verso livre. De tal forma que relativa influência da obra de Mário de Andrade pode, inclusive, ser percebida em seus poemas. Hoje reconhecidos como elementos drummondianos, a poesia sintética e o verso curto foram elementos utilizados de forma profícua pela escola modernista original e, posteriormente, renovados pelos poetas da coorte pós-22.

Foi na temática, entretanto, que se percebeu a maior expressão dessa remoçada postura artística. Drummond, por exemplo, passou a questionar com maior vigor tanto a realidade quanto a si mesmo. O poema “Legado” é um exemplo dessa dualidade, no sentido de que o poeta pergunta-se acerca de merecer mais do que os outros ou não. Ato contínuo, o autor indaga acerca de seu eu e, por conseqüência, da herança deixada pelo artista na complexidade do mundo contemporâneo ao final da Guerra Fria: o titulo do poema é, assim, a síntese do argumento proposto pelo itabirano.

A partir de tais preceitos, a literatura de Drummond redundou mais construtiva e politizada, que não se podia afastar das imensas transformações ocorridas no período. Malgrado tenha sido época de incertezas, Carlos Drummond de Andrade utilizou-se de temáticas definidas e compromissadas a fim de aprofundar as relações do eu – humano - com o mundo, ainda que com a certeza da fragilidade do primeiro. De certa forma, a relação dialética entre as escolhas vocabulares efetuadas pelo escritor representa tal característica.

Essa consciência, longe de significar derrotismo, apresentou-se como perspectiva singular adotada pelo poeta a fim de enfrentar tempos assimétricos e, ainda, contribuiu para transformá-lo em um dos maiores escritores brasileiros. Suas conquistas acompanharam a evolução dos acontecimentos e registraram grande parte dos eventos no cotidiano humano, embora quase sempre sintetizados em universos fechados e despersonificados: como falei acima, o “legado” não deixado em nenhum canto radioso é exemplo maior desse distanciamento pessoal.

Dessa forma, Drummond, possuído de alguns momentos esperançosos, logo após tornava-se taciturno, isolado dos acontecimentos. Acima de tudo, porém, foi um poeta que negou todas as formas de fuga da realidade e manteve atenta percepção ao presente, voltada para o mundo e para os seus iguais. Porque, como muito bem o disse, não se pode sozinho dinamitar a ilha de Manhattan.

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