Friday, November 26, 2010

Há 445 anos, ontem.


Em 1565, imbuída da missão de criar uma cidade e expulsar definitivamente os franceses remanescentes, a coroa portuguesa enviou ao Brasil o jovem Estácio de Sá. Comandante de uma flotilha de dezoito barcos, Estácio conquistou a Baía de Guanabara e fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em homenagem ao Rei de Portugal, Dom Sebastião.

A cerimônia de fundação ocorreu às pressas. Para cumprir a missão, em meio ao ataque de índios e franceses, mandou erguer uma muralha e nela colocou uma porta com fechadura. À guisa de porteiro, nomeou o patrício Franciso Dias Pinto, a quem entregou a chave para que a trancasse por dentro. Realizou, então, a cerimônia.

Após três leves batidas na porta, recebeu a indagação: “quem vem lá?”. “Estácio de Sá, governador do Rio de Janeiro, que pede para entrar”, respondeu o fundador. Sem grandes discursos ou pompas, apenas três batidas e o pedido para entrar, instituía-se a cidade(1).

O grupamento militar trazido pelo novo governante, além de garantir a criação do vilarejo, veio para retomar a posse da Guanabara, perdida para os franceses e para a Confederação dos Tamoios. Os índios, acastelados no litoral do atual estado do Rio - de Angra dos Reis a Cabo Frio - compunham-se de várias tribos, principalmente tupinambás, e atrapalhavam a consolidação da colônia de Piratininga, atual São Paulo.

O regimento de Estácio instituiu o que, à época, chamou-se de o Terço do Rio de Janeiro e, em 1567, teve sucesso na expulsão de índios e franceses. Esse pequeno grupo deu origem às forças de segurança do Estado e, ao longo da história, foi gradativamente mudando de nome até tomar a configuração atual. De algum modo, o regimento, ao longo dos anos, imbuído do espírito estaciano, viu a Revolta da Armada, presenciou a Revolta da Vacina, esteve lá quando Vargas amarrou os cavalos no Obelisco, atuou nos Dezoito do Forte, agiu contra a Intentona Comunista, entre muitos outros eventos. Até ontem.

Em 25 de novembro de 2010, desprovido de cerimônias ou gracejos, Estácio de Sá bateu novamente à porta do Rio de Janeiro. Desta feita, não viera expulsar franceses ou índios. Eram cariocas os inimigos da vez.

Ao longo do dia de ontem, as cenas de guerra e de fuga dos bandidos geraram espanto e esperança. Ao final, do alto, correndo desconexos, os traficantes mostraram o que são: um grupo em desordem. Apesar da dor de ver garotos tão jovens, desesperados e sem destino, pôde-se perceber alguma chance da vitória.

Em um dos momentos mais duros de sua história, o Rio de Janeiro parece ter reconquistado a vitalidade e a vontade de reagir. Felizmente, alguém no controle do Estado percebeu que a continuidade das políticas anteriores era insustentável. A jóia da coroa, a cidade maravilhosa, a terra de encantos mil, protestou na tarde da quinta-feira passada.

Por isso, como falei, Estácio esteve novamente à porta carioca no dia de ontem. Queira o bom Deus, as coisas comecem realmente a mudar. A opção era essa ou, então, contemplar de braços abertos o inaceitável.

De minha parte, penso que a cena estática dos anos anteriores, no que diz respeito à segurança, careceu de “grandes almas”, como afirmaria Stendhal. A desconfiança, o medo e a ausência de verdadeiro líder habitaram os espíritos e petrificaram o carioca. Exceto por algumas vozes roucas, poucos pareciam avaliar o que estava em jogo. Tropas descontroladas, políticos corruptos, coronéis impacientes, governadores circunpesctos, presidentes inaudíveis: nos anos de omissão, a sociedade carioca afastou-se de seu destino. Até ontem.

>> Song To The Siren; This Mortal Coil; It'll End in Tears
>> O Escandâlo Daniel Dantas - Duas Investigações; Raimundo Pereira; Manifesto Editora

1 No Mínimo - 2005
2 Algumas vozes, como a do ex-prefeito César Maia e do ex-governador Garotinho, levantam-se contra a operação de ontem. Alegam, em essência, que ações idênticas foram efetivadas em 2008 e, ainda assim, o bando não abandonou a favela. Parecem críticas vazias, pois, há época em que governaram a cidade, agiram de modo bastante diverso do atual.

Monday, November 22, 2010

Gonzo Kitchen: Gonzo Beer


Encontrei, ontem, no Sam's Club daqui de BSB, uma marca de cerveja chamada Flying Dog. Custa em torno de R$7,90 - garrafa long neck - e é muito boa.


Comprei uma Pale Ale, que achei excepcional, e uma chamada Gonzo Imperial Porter, feita em homenagem a Hunter Thompson (ainda não bebi). O visual das embalagens é bacana e, depois de ter bebido a Ale, eu recomendo.

O gonzo kitchen está de volta. Aguardem.

>> The Economist
>> You Are The Everything; R.E.M.; Green

Thursday, November 18, 2010

Lex América


"A população não percebeu as mudanças políticas no Cone Sul do continente americano quando, em uma fria manhã de maio de 2007, reuniu-se pela primeira vez o Parlamento do Mercosul. Em verde, amarelo, azul e vermelho, as bandeiras dos países pertencentes ao Bloco tremulavam diante do Palácio Legislativo uruguaio, em Montevidéu. Juntas, representavam a reunião de cinco nações no maior evento desse tipo já realizado na América do Sul e, a sua maneira, o primeiro e mais importante de todos. Malgrado o Uruguai tenha recebido muita chuva ao longo da semana — e o tempo estivesse ruim —, o dia era bom no relógio da história.

Conforme o texto da ata da primeira sessão, os trabalhos foram iniciados pelo Presidente da Assembleia Uruguaia, Rodolfo Nin Novoa, que ofereceu boas-vindas aos presentes e cedeu o uso das instalações para a realização da cerimônia ao Senhor Presidente do Parlamento do Mercosul, Senador Alfonso González Núñez. Após os agradecimentos de praxe, Nuñez oficializou a cerimônia e passou à Ordem do Dia a fim de aprovar o regimento da sessão e de prosseguir com a leitura do nome de todos os parlamentares designados pra integrar o Parlasul — tudo conforme o protocolo. Em seguida, deu-se início à eleição da Mesa Diretora e aos discursos das autoridades presentes. O clima era de alegria, embora fosse perceptível uma ligeira tensão no ar."
Eis o início de artigo que produzi: "Lex América - os Tratados e o Legislativo no Mercosul". O texto foi publicado pela revista de pós graduação da Câmara dos Deputados e está disponível aqui. Trata do processo de incorporação dos tratados no seio mercosulino e propõe haver um sistema legislativo - o qual nomeei de "Lex América" - próprio ao cone sul do continente.

>> I Am Ozzy; Ozzy Osbourne; Grand Central Publishing
>> Dona Cila; Maria Gadú; Maria Gadú

Thursday, November 04, 2010

A Arte de Dizer Nada

"Em resumo, vemos um cenário marcado pela reacomodação estratégica de um importante número de países que possuem certos atributos de poder e que gravitam em suas respectivas áreas geográficas."

É incrível a capacidade que alguns professores de relações internacionais possuem para escrever artigos inteiros e não dizer nada. Incrível.

>> I Am Ozzy; Ozzy Osbourne; Grand Central Publishing
>> Harvest Moon; Cassandra Wilson; New Moon Daughter