Acabei de ler o último fenômeno hype da literatura brasileira: “
Pornopopéia”. Malgrado tenha sido uma leitura muito divertida, o livro deixou-me uma sensação ambígua. Sinceramente, não sei dizer se o texto é bom ou ruim. Soa estranho, mas vou tentar explicar.
O autor, Reinaldo Moraes, utiliza-se da língua portuguesa com total desbunde e pouco respeito ao formalismo. De certa forma, ele introduz sujeira, humor, inteligência e falta de modos por meio de vocabulários e sintaxes ao mesmo tempo ricos e desregrados. E isso é a parte boa.
Parece, sem exageros, uma mistura de Guimarães Rosa com Jack Kerouac e William Burroughs, tudo mais ou menos representado no Grande Lebowski. Estranhamente, o livrão (quase 500 páginas) transcorre prazeroso, com uma leitura que me foi rápida - a despeito dos muitos palavrões e de alguma gratuidade em relação às passagens com sexo.
Ao longo do livro, o personagem principal, Zeca, envolve-se em todo tipo de porralouquice, enfurnando-se em altíssimas doses de álcool, drogas pesadas e pornografia grosseira. Apesar de tudo isso – e de o sujeito ser a antítese do herói -, o tal zequinha carrega grande empatia. Em alguns momentos é impossível não torcer para que suas loucuras dêem certo ou que ele consiga se livrar das furadas nas quais se mete constantemente.
Cineasta falido, viciado e frequentador contumaz da Rua Augusta, o cara é um beatnik pós-moderno: muito inteligente e culto, mas desvinculado de qualquer ética ou cordialidade. Sobretudo, o Sr. José Carlos é voltado puramente para seu “eu” pragmático e individualista (não é redundância, leia e entenda). Não à toa, lembrei-me imediatamente do início de Trainspotting, “
choose life”, citado dias atrás por aqui: Zeca limita-se a
choose his life.
A leitura é instigante, quase impossível de parar. O problema é que, em algumas passagens, o autor carrega demais nas tintas, tornando o resultado meio exagerado – o que não estraga as partes engraçadas e as boas sacadas textuais. Por exemplo, é um prazer procurar citações ocultas no livro: as loucuras vocabulares, unificando a cultura do personagem à literatura clássica, estão presentes em toda a obra.
Decerto, não é um livro que o Governo Federal possa distribuir às crianças do ensino médio paulista. Todavia, é estranho sentir prazer na leitura dessa fórmula ultraexagerada. Grosso modo, o autor extrapola tanto nas tintas que acaba quase por comprometer a segunda parte do livro, quando nosso zequinha chega em Porangatuba (praia fictícia). O segundo trecho é visivelmente mais fraco do que o primeiro. Daí o motivo de minhas duvidosas qualificações de “bom ou ruim”, conforme escrevi acima.
Estranho, pois é. Tudo tão esquisito que, acho, esse post também ficou assimétrico. Por favor, leiam as linhas iniciais do primeiro capítulo e digam o que acham. Para aqueles que gostarem, boa sorte no mundo pornopopéico: