Nosso noticiário político tem colocado em pauta um dilema bastante interessante para a democracia. Principalmente após a liberação do dossiê “Dilma” e desde o episódio da Caixa Econômica (envolvendo o caseiro Francenildo e o Ministro Palloci), passou-se a questionar até que ponto a segurança nacional pode intervir nos direitos civis. Em uma democracia recém-emancipada, como a nossa, tal debate nunca é irrelevante.
Em ambos os casos, houve sempre um vazamento de dados ou elementos que deveriam pertencer unicamente ao governo. Levando a uma pergunta óbvia: como a imprensa descobriu informações que dizem respeito exclusivamente ao governo? De certa forma, é correto assumir que os jornais não vivem realizando operações secretas contra o governo. Portanto, algum indivíduo entregou as histórias à imprensa. Ou seja, alguém com um elevado certificado de segurança vazou segredos da União.
Atualmente, acostumados com o conceito de invasão de privacidade (revistas, paparazzis, internet), tornamo-nos tão anestesiados com tais vazamentos que praticamente não discutimos as reais implicações do que tem acontecido: o governo vem liberando - a critério próprio - informação que deveria ser secreta. Quaisquer que sejam os responsáveis por tais “leaks”, o que presenciamos é uma extraordinária ruptura por parte daqueles que deveriam justamente proteger esse tipo de material.
No caso mais recente (o dossiê Dilma-FHC), a razão principal para os ataques foi a pretensa candidatura da Ministra Roussef ao Planalto, em 2010. O soerguimento de Dilma trouxe intensas críticas tanto da oposição quanto de parte da própria base do governo, que acham a escolha da Ministra inapropriada. O vazamento das despesas do Presidente Fernando Henrique foi, obviamente, uma maneira de tentar abater essa indicação - o que deve funcionar. Porém, o que importa aqui não é o opróbrio de Dilma, mas o fato de que o governo perdeu o controle de uma parte de seu staff. No cerne do debate, está o argumento de que o vazamento não é tão interessante por si só, mas que o mais importante é ter o governo contribuído para a reunião de informações tão relevantes sem sequer ter-se perguntado se isso não representava um sério gravame à liberdade.
No âmbito da ameaça à liberdade, é impossível imaginar que devassas individuais como as que têm acontecido não ponham nossa democracia em perigo. Decerto, dada a própria ambigüidade do conceito de liberdade, um bom debatedor poderia argumentar para ambos os lados (segredos de estado ou liberdades civis). A despeito do que diz a lei, porém, o dicionário Aurélio registra liberdade como a “faculdade de praticar tudo quanto não é proibido por lei”. As recentes ações violam, portanto, tal conceito. O maior problema, nesses casos, é que se perde a previsibilidade sobre o que o governo fará com as informações que coleta.
A famosa afirmação dos inconfidentes mineiros, “liberdade ainda que tardia”, é uma premissa fundamental de nossa nação. Todavia, a complexidade do mundo moderno recomenda que a permuta entre liberdade e segurança seja debatida: vazamento de informações confidenciais é o sintoma de um perigoso câncer e o colapso de qualquer tipo de consenso é a metástase dessa doença. A busca de um sério equilíbrio dessas regras é que fundamentará, na verdade, nossa liberdade e nossa segurança.
>> Wake up call; Maroon 5; Fearless
>> The Economist
:: Atualização: o Pedro Dória levantou a pelota sobre a quebra da liberdade de expressão. Vale a olhada.
3 comments:
Caro,
A lukewarm article regarding "goats". http://www.economist.com/world/la/displaystory.cfm?story_id=10971049
"All work and no play makes Jack a dull boy."
Tempestades à vista.
Thanks for writing this.
Post a Comment