"A idéia de que a nova ortografia constitui um passo para a constituição de um dicionário único do idioma português falado no mundo inteiro não se sustenta. Ela é utópica e, se fosse realizável, seria indesejável. Isso porque o idioma português, diferentemente de outros idiomas, se caracteriza pela extrema receptividade em relação a neologismos. No castelhano, por exemplo, a utilização de uma palavra não existente no dicionário da Real Academia de Madri é considerada erro, de acordo com a norma culta vigente na Espanha e em todos os países da Hispano-América. Já no português, a facilidade com que se criam palavras novas constitui uma das riquezas do nosso idioma. No século XVIII, quando foi publicada na Espanha a primeira versão do dicionário da Real Academia de Madri, o rei de Portugal encarregou a Real Academia de Lisboa de fazer um dicionário português, para não ficarem nossos patrícios atrás dos vizinhos espanhóis. Os filólogos portugueses penaram durante muitos anos e, afinal, publicaram apenas o primeiro volume do dicionário, referente à letra A, desistindo do empreendimento porque, quando concluíram a redação, deram-se conta de que já haviam surgido muitas palavras novas iniciadas coma letra A, durante os muitos anos de seu intenso labor.O diretor do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Armando Alexandre dos Santos, criticando a recente reforma ortográfica. De minha parte, fui inicialmente favorável às alterações feitas em nossa língua. Hoje, entretanto, tendo a pensar o contrário.
Esse fato cômico serviu a Alexandre Herculano para, em “Lendas e Narrativas”, referir-se a certo jumento que se pôs a azurrar, dizendo que ele “começou por onde, às vezes, academias acabam”. Aludia assim ao último verbete do dicionário inacabado, que era AZURRAR, sinônimo de zurrar..."
>> Modern Love; Marie Mazziotti; This Time from the Heart
>> Mercosul: Estudos em Homenagem a Fernando H. Cardoso; Maristela Basso (org.); Ed. Atlas
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