Friday, March 12, 2010

Adiós, Glauquito


Silêncio, o artista sai de cena. Não há o que dizer.


Cresci rindo e me divertindo com as piadas, infâmias e ironias do Glauco. Somente os que leram as revistas sabem o sentimento daqueles de minha geração.

Passei a adolescência lendo as revista do Glauco, do Angeli e de todos os demais ilustradores da pós-redemocratização. Eram sempre piadas engraçadas, aliadas a traços originalíssimos e muita crítica social – elemento comum a um país sedento por democracia.

As histórias do Glauco agradavam a jovens e adultos. Alegravam, inclusive, meu pai: o Geraldão foi um dos primeiros quadrinhos que lemos juntos durante minha adolescência e por meio do qual trocamos algumas confidências.

Por isso, a odiosa morte do artista é, também, a perda de um dos mais originais expoentes do humor brasileiro dos anos 80. É um de “Los 3 Amigos” que se vai.

A perda – na circunstância em que ocorreu – é ainda pior, pois plenamente evitável. Diante da violência fica a sensação de impotência e indignação.

Todavia - e felizmente -, a arte do desenhista sobreviverá ao tempo. Sobre o assunto, vale ler excerto de um livro chamado “Tumbas”, escrito por Cees Nooteboom e belamente editado pela Actes Sud. A obra é um tanto soturna – traz fotos de 82 túmulos de escritores e filósofos famosos -, mas a beleza do texto merece citação:

A maioria dos mortos se cala. Eles não falam mais nada. Eles já disseram literalmente tudo o que tinham para dizer. Com os poetas é diferente. Os poetas continuam a falar. Eles têm a peculiaridade de se repetir. É o que acontece cada vez que um leitor lê ou recita um de seus poemas, pela segunda ou a centésima vez. Mas os poetas se dirigem da mesma forma aos que ainda não nasceram, às pessoas que ainda não viviam quando eles escreviam o que escreviam. (...) Esta pessoa ainda fala conosco, ainda nos diz algo, algo que ainda ecoa em nossos ouvidos, algo que guardamos e que talvez não esqueçamos nunca mais, algo que decoramos e que, de vez em quando, repetimos alto ou em voz baixa”

Dessa forma, o presente texto é minha tentativa de homenagear um sujeito que foi bacana durante minha juventude, alguém que fez a mim e aos meus amigos rirmos muito. Em momentos os mais simples, as tirinhas do Glauco foram impagáveis.

Bzzzzz.

>> La Vie en Rose; Louis Armstrong; Wall-E
>> Direito Agrário Brasileiro; Benedito Ferreira Marques; Atlas

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