Monday, March 31, 2008

Os Outros: J. M. Coetzee

"Will this man, in the course of his travels, ever come to Bristol? He yearns to meet the fellow in the flesh, shake his hand, take a stroll with him along the quayside and hearken as he tells of his visit to the dark north of the island, or of his adventures in the writing business. But he fears there will be no meeting, not in this life. If he must settle on a likeness for the pair of them, his man and he, he would write that they are like two ships sailing in contrary directions, one west, the other east. Or better, that they are deckhands toiling in the rigging, the one on a ship sailing west, the other on a ship sailing east. Their ships pass close, close enough to hail. But the seas are rough, the weather is stormy: their eyes lashed by the spray, their hands burned by the cordage, they pass each other by, too busy even to wave."

O estranho discurso do prêmio Nobel de 2003, J. M. Coetzee.


>> Living Darfur; Mattafix; Living Darfur

>> Chasing the Flame - Sergio Vieira de Mello and the fight to save the world; Samantha Power; The Penguin Press

Friday, March 28, 2008

Stand By Me

Em reunião no dia 26 último, os Presidentes Lula e Hugo Chávez conversaram sobre a criação de um tipo de “Conselho de Segurança” sul-americano. De acordo com a imprensa, a proposta foi do nosso Ministro da Defesa, Nelson Jobim, e busca o entendimento entre os países sul-americanos para que seja possível alcançar uma mesma palavra sobre defesa e segurança na parte sul do continente.

Tais idéias sobre a “unificação” das forças continentais são recorrentes na história latino-americana e, exceto por uma ou outra iniciativa isolada - por exemplo, a Segunda Guerra Mundial -, fracassaram quase que em sua unanimidade. De certa forma, a região é complexa demais para abarcar um organismo centralizador dos exércitos. 

Tradicionalmente, o estado hegemônico em uma região mantém claros domínios econômicos, militares e políticos sobre o espaço que influencia. No caso do Brasil, o país tentar preencher esse papel desde a era colonial. No entanto, apesar de sua atual superioridade em muitas dessas áreas, a nação brasileira tem tido dificuldade para consolidar essa hegemonia. Assim, o maior problema da proposta de uma segurança hemisférica moldada sobre um conselho regional é saber se o Brasil tem poder suficiente nos domínios mencionados a fim de convencer os demais países a se juntarem ao projeto.

Como já afirmei por aqui, a economia brasileira vive um período próspero, com crescimento relativamente sustentado. Tanto a demanda doméstica quanto as exportações estão crescendo substancialmente. Além disso, apesar de empresas como a Petrobrás representarem uma poderosa força econômica, a economia nacional não é mais centrada apenas em commodities - como é o caso da Venezuela, por exemplo. O orçamento da União, por sua vez, também não é financiado somente no petróleo, como ocorre no México. Dessa forma, a recente desenvoltura nacional e o controle fiscal da economia deram ao Brasil uma ampla área de manobra.

O Brasil tem, igualmente, amplas reservas naturais que lhe garantem certa vantagem. Energias hidroelétrica, nuclear e de gás estão sendo desenvolvidas em favor da demanda nacional e da redução da dependência internacional. Adicionalmente, o país tem-se utilizado da Petrobras para adquirir influência sobre alguns vizinhos (a mesma tática foi usada com a energia hidroelétrica junto ao Paraguai). Adicione-se a isso a imensa potencialidade do etanol e tem-se um país muito bem preparado para o futuro.

Na área militar, o Brasil tem - apesar das deficiências - o melhor e mais bem posicionado exército da América do Sul. Apesar das recentes compras de armamento por parte da Venezuela e do apoio norte-americano à Colômbia, nenhum país sulino chega perto do poder militar brasileiro. No entanto, a maior vantagem militar brasileira continua sendo a geografia. Conforme analisei no texto citado acima, a densa floresta amazônica e a especial localização das cidades brasileira dão ampla proteção ao país.

No entanto, a proposta do Conselho de Segurança regional tem obstáculos a superar. Existem poderosos sentimentos nacionalistas entre os países latino-americanos. Assim, não tem sido fácil a tarefa de convencer os líderes de que a cooperação é necessária ou mesmo possível. O próprio Presidente Chávez já começou a formar uma pretensa aliança de esquerda que pode atrapalhar o projeto de união regional. A despeito de sua grande amizade com o Presidente Lula, Chávez pode não ter interesse de submeter-se a eventuais pressões políticas no contexto de um conselho nos moldes propostos.

Mesmo se desconsiderados todos os obstáculos, o Brasil ainda precisa de uma plataforma política que agrade ao continente e permita a ação brasileira como líder regional. Nas palavras do professor Joseph Nye, é preciso criar um “soft power” tupiniquim: uma proposta em defesa do multiculturalismo latino-americano, por exemplo. Outra opção é a formação de um conjunto de regras que autorizem o futuro conselho a agir em favor de missões de paz, contra o crime organizado ou na condução de exercícios militares coletivos. De modo genérico, poder-se-ia ampliar a cláusula democrática do Mercosul a todo o continente. Atualmente, ao contrário do que afirmou Maquiavel, o mais importante para um príncipe é ser amado e não temido. Sendo a maior nação sul-americana, o Brasil pode promover a aliança latino-americana como um dever, um destino comum que provavelmente ressoaria muito bem entre todos.


>> Blues by five; George Otsuka Trio; Shibuya jazz classics

>> Chasing the flame - Sergio Vieira de Mello and the fight to save the world; Samantha Power; The Penguin Press

Wednesday, March 26, 2008

Na Praia: Viatura

Carbras*Mar, Elite 520. Equipada, inclusive, com uma pitoresca senzala flutuante.


>> Jazzmanmp3; Blog; Aqui

>> Red Cat; Peter Spiegelman; Random House

Tuesday, March 25, 2008

Os Outros: Sir Charles Darwin

"It is interesting to contemplate an entangled bank, clothed with many plants of many kinds, with birds singing on the bushes, with various insects flitting about, and with worms crawling through the damp earth, and to reflect that these elaborately constructed forms, so different from each other, and dependent on each other in so complex a manner, have all been produced by laws acting around us. These laws, taken in the largest sense, being Growth with Reproduction; inheritance which is almost implied by reproduction; Variability from the indirect and direct action of the external conditions of life, and from use and disuse; a Ratio of Increase so high as to lead to a Struggle for Life, and as a consequence to Natural Selection, entailing Divergence of Character and the Extinction of less-improved forms. Thus, from the war of nature, from famine and death, the most exalted object which we are capable of conceiving, namely, the production of the higher animals, directly follows. There is grandeur in this view of life, with its several powers, having been originally breathed into a few forms or into one; and that, whilst this planet has gone cycling on according to the fixed law of gravity, from so simple a beginning endless forms most beautiful and most wonderful have been, and are being, evolved."

A conclusão de "On the origin of species", leitura que deveria ser obrigatória nos dias que correm.

>> Over The Rainbow/What A Wonderful World; Israel Kamakawiwo'ole; Facing Future

>> Red Cat; Peter Spiegelman; Random House

Sunday, March 23, 2008

Христос воскрес!

"Jesus answered and said unto them: Destroy this temple, and in three days I will raise it up."
King James Bible; John 2, 19

>> Rádio Eldorado; Ao vivo; Aqui

>> Red Cat; Peter Spiegelman; Random House

Saturday, March 22, 2008

O "Ópio" Chinês

   A The Economist da semana passada trouxe extensa matéria sobre um novo tipo de colonialismo praticado pela China em sua busca por recursos. Entre muitas outras afirmações, a revista atesta que o Império do Meio vem tentando obter algum tipo de controle na Ásia Central. Atualmente, a Rússia detém a maioria das prerrogativas no que tange a esse tema, mas os chineses estão rapidamente se movendo no sentido de prover a Ásia com outras opções geoestratégicas - sobretudo, uma opção que deixe a Rússia com poucas alternativas na região.

   Nos dias atuais, a maior parte das estradas, ferrovias e oleodutos existentes conectam-se quase que exclusivamente à Rússia. Os países da Ásia Central tentaram, ao longo do tempo, diminuir essa influência, mas, em sua maior parte, a região permanece muito unida à Federação Russa.

   No processo de alteração dessa tendência, Pequim vem construindo uma série de oleodutos que irão desviar o petróleo centro-asiático para a China ao invés de enviá-lo para a Rússia. Como complemento desse esforço, a China está, também, no meio de uma agressiva mobilização para “controlar” e incrementar a rede regional de ferrovias. Decerto, oleodutos são importantes para orientar a geopolítica de um país, mas ferrovias permitem um tipo de integração de mão-dupla e uma ampla penetração econômica que não existem no transporte de petróleo e gás por tubos. Conforme o próprio mestre Hobsbawn afirma, ferrovias - para além dos dutos - são os verdadeiros laços que conectam a economia. 

   Entre os cinco Estados centro-asiáticos, apenas duas ferrovias não são diretamente conectadas à Rússia - a primeira conecta o Turcomenistão ao Irã e a segunda liga o Kazaquistão à China. Esse fato corriqueiro deixou a região firmemente atrelada à órbita econômica russa, apesar de a União Soviética ter-se dissolvido quase vinte anos atrás. De certa forma, é correto pensar que os países da Ásia Central não desejam conectar-se à Rússia per se, mas que não tinham escolha melhor. Assim, a força dos vínculos russos têm sido alterada recentemente - e de forma bastante rápida.

   No decorrer dos últimos meses, a China tem agido em dois projetos que a conectarão ao centro da Ásia por meio de ferrovias. Além da positiva integração ferroviária, ambas as rotas antecipam a logística para futuras estradas e conexões petrolíferas. Esses novos links tenderão a inverter as relações econômicas que definem a região.

   O mercado interno chinês é cerca de três vezes mais valioso do que o russo e os robustos portos chineses são muito mais próximos de várias cidades centro-asiáticas do que são os envelhecidos portos russos no Mar Russo e Báltico. Apenas como exemplo, o volume de cargas enviadas pela conexão ferroviária entre o Kazaquistão e a China aumentou sessenta por cento em 2007 (em relação ao ano anterior).

   A meu ver, a Rússia tem somente duas opções se desejar abortar os planos chineses. A primeira - e mais sensata - é fazer com que o mercado russo torne-se mais atrativo por meio de investimentos em infra-estrutura e de garantia de acesso preferencial a alguns bens exportados pelos asiáticos. Entretanto, esse não é o estilo tradicional soviético. Mais provável é a segunda opção: ameaçar os líderes centro-asiáticos que se atrevam a aproximar-se de Pequim. A inteligência russa pode não ser mais tão poderosa como foi durante a guerra fira, mas há ainda algo a se temer para aqueles que vivem na “vizinhança” moscovita. O tempo dirá quem deve levar a melhor.


>> Lumiar; Beto Guedes; Bis - Beto Guedes

>> Red Cat; Peter Spiegelman; Random House

Wednesday, March 19, 2008

FreakAngels


O mundo acabou e sobraram apenas eles.

>> Daniel; Tortoise & Bonnie "Prince" Billy; The Brave and the Bold

>> Adeus, Hemingway; Leonardo Padura Fuentes; Cia das Letras

Monday, March 17, 2008

La Garantía Soy Yo


No contexto dos recentes problemas migratórios com a Espanha, o Jornal Nacional de 11 de março apresentou uma reportagem sobre as mudanças feitas pela Polícia Federal em relação a quem cruza as fronteiras com Paraguai e Argentina. A partir de agora, passou-se a exigir a apresentação do documento de identificação de todas as pessoas que entram ou saem do país, exigência que também vale para carros, motos ou ônibus. Ao assistir a reportagem, lembrei-me do eterno problema que o Brasil enfrenta em relação ao contrabando paraguaio.

Basicamente, a alta informalidade da economia paraguaia advém da ausência de estruturação de interesses privados na nação guarani. Certo tipo de organização estrutural economico-privada já existia em países como o Brasil e a Argentina desde os anos 40, mas não ocorre no Paraguai até os dias de hoje. Malgrado algumas críticas, tanto o modelo varguista, no Brasil, quanto a proposta da “Generación del Ochenta” (nascida desde o século XIX), na Argentina, aglutinaram ambas as sociedades em favor de modelos de crescimento que trouxeram soberania e independência a essas duas nações.

A ausência de modelos semelhantes na sociedade paraguaia gerou uma informalidade brutal em sua economia. Essa informalidade, ao contrário do que apregoa a mídia brasileira, é muito mais histórica do que farsesca (como faz parecer a figura do contrabandista paraguaio). De modo atípico, segundo a Cia World Factbook, a agricultura tem um percentual no PIB maior do que a indústria. Exceto por algumas poucas indústrias cimenteiras, as fábricas paraguaias estão muito sucateadas ou simplesmente não existem. Apenas como exemplo, vale lembrar que os raros trens que ainda rodam foram adquiridos por Solano López no século XIX (os vagões que trafegam são da década de 1850).

Grosso modo, a elevada informalidade no Paraguai foi “consolidada” pelo governo do general Strossner. Para sobreviver, o general percebeu que precisava da lealdade das Forças Armadas e do respeito ao processo informal da economia (já então disseminado). Durante sua presidência, Strossner loteou os diversos produtos que seu país poderia importar e revender como contrabando. Normalmente, um alto burocrata ou um oficial graduado - coronel ou general - era chamado a ser responsável por uma gama específica de produtos: perfumes para um, uísque para outro, sucessivamente.

Apesar de a democracia ter retornado ao Paraguai, o processo de estruturação por meio do ilícito foi mantido. Assim, ao longo de sua história, o país não criou uma base produtiva que diminuísse o grau de informalidade na economia e a conseqüente necessidade do contrabando perdurou. O que ocorre, portanto, é a importação de mercadorias com algum valor agregado (armas, perfumes, bebidas) e o repasse desses mesmos produtos por meio do contrabando. De certa forma, é correto afirmar que nada vai mudar enquanto não houver uma base produtiva no país e, cada vez mais, será necessário criar instrumentos como a vistoria dos documentos de identificação na fronteira. Uma pena para um país com a riqueza cultural do Paraguai.

>> The boy with the arab strap; Belle & Sebastian; The Boy With The Arab Strap

>> Caderno de Viagem; Jean-Baptiste Debret; Sextante

Saturday, March 15, 2008

Os Outros

"Uma língua histórica é uma língua sem adjetivos, que não podemos chamar nem de popular, nem de escrita ou padrão. É como um grande guarda-chuva lingüístico onde se abrigam tanto o grande quanto o médio escritor, o falante culto e o analfabeto. Esse guarda-chuva abriga tanto o "nós vamos" como o "nós vai". E ambos fazem parte do português, uma língua que varia pelo uso das pessoas. Você fala espontaneamente ou você fala de um jeito mais calculado. É como a roupa: você tem a de dormir, a de passear, a de trabalhar. Toda essa vestimenta está atrelada às ocasiões. A língua também. Durante muito tempo o professor nos ensinou que havia uma única língua padrão, a correta. Mas o necessário é ser um poliglota da língua."

O professor Evanildo Bechara em entrevista para o JB.

>> Catapult; REM; Murmur

>> Fun Home; Alison Bechdel; Conrad

Gonzo Kitchen


- Massa fina, fresca e de boa qualidade;
- Queijo Brie;
- Mel;
- Junte tudo e aperte as pontas com um garfo. Frite em óleo muito quente.
Parabéns, você faz pastéis.

>> Índios; Legião Urbana; Música para acampamentos

>> Fun Home; Alison Bechdel; Conrad

Thursday, March 13, 2008

Farewell


"Na noite em que faleceu Machado de Assis, quem penetrasse na vivenda do poeta, em Laranjeiras, não acreditaria que estivesse tão próximo o desenlace de sua enfermidade..."

"Era pelo menos desanimador tanto descaso – a cidade interira, sem a vibração de um abalo, derivando imperturbavelmente na normalidade sua existência complexa, quando faltavam poucos minutos para que se cerrassem quarenta anos de literatura gloriosa..."

"Neste momento, precisamente ao enunciar-se este juízo desalentado, ouviram-se umas tímidas pancadas na porta principal da entrada. Abriram-na. Apareceu um desconhecido: um adolescente, de 16 a 18 anos no máximo. Perguntaram-lhe o nome. Declarou ser desnecessário dizê-lo: ninguém ali o conhecia; não conhecia, por sua vez, ninguém; não conhecia o próprio dono da casa, a não ser pela leitura de seus livros, que o encantavam. Por isto ao ler nos jornais da tarde que o escritor se achava em estado gravíssimo tivera o pensamento de visitá-lo. Relutara contra essa idéia, não tendo quem o apresentasse: mas não lograra vencê-la. Que o desculpassem, portanto. Se não lhe era dado ver o enfermo, dessem-lhe ao menos notícias certas do seu estado.
E o anônimo juvenil – vindo da noite – foi conduzido ao quarto do doente.
Chegou. Não disse uma palavra. Ajoelhou-se. Tomou a mão do mestre; beijou-a num belo gesto de carinho filial. Aconchegou-o depois por algum tempo ao peito. Levantou-se e, sem dizer palavra, saiu.
À porta José Veríssimo perguntou-lhe o nome. Disse-lho.
Mas deve ficar anônimo. Qualquer que seja o destino dessa criança, ela nunca mais subirá tanto na vida. Naquele momento o seu coração bateu sozinho pela alma de uma nacionalidade. Naquele meio segundo – no meio segundo em que ele estreitou o peito moribundo de Machado de Assis – aquele menino foi o maior homem de sua Terra...."

O excerto acima é de um artigo escrito por Euclides da Cunha e publicado no Jornal do Comércio em 30 de setembro de 1908, um dia depois da morte de Machado de Assis. Combina perfeitamente com as lamentações dos dias recentes.

>> I Can't Get Started; Ella Fitzgerald; Sweet and hot

>> Machado de Assis: um gênio brasileiro; Daniel Piza; Editora

Na Praia: Aruba












>> I shot the sheriff; Bob Marley & The Wailers; Legend

>> O Fundamentalista Relutante; Moshin Hamid; Alfaguara

Monday, March 10, 2008

América do Sul, Determinismo Geográfico e "Paz"


A singularidade geográfica da América do Sul fez com que grande parte da teoria geopolítica simplesmente ignorasse essa região do planeta. Nenhum outro continente tem as facilidades apresentadas pela América sulina no que tange à delimitação de fronteiras. Em nosso continente, as barreiras geográficas efetivamente impedem o surgimento de conflitos entre as nações. Tanto os Andes como a floresta amazônica representam papel crucial nessa característica: ao longo dos séculos, as montanhas andinas e a densidade florestal da Amazônia impediram a interação econômica e militar entre as pessoas residentes na região, dividindo - aos moldes de um grande mar - o continente e suas cidades mais populosas.

De certa forma, é correto afirmar que conflitos em larga escala não ocorrem na região. Exceto pela Guerra das Malvinas (na verdade, um embate entre uma força estrangeira contra um país sulino), a América do Sul tem vivido em relativa paz por mais de cem anos. Mesmo no cenário atual - malgrado os recentes desencontros entre Bolívia, Equador e Venezuela -, seria incorreto pensar que um real conflito militar fosse levado a termo.

No entanto, os eventos ocorridos indicam que, ao longo do processo de intensificação das identidades nacionais e da busca pelo crescimento econômico, a região tende a enfrentar uma mudança geopolítica - fato que deve resultar em freqüentes e maiores desentendimentos entre os Estados. Assim, conflitos menores criarão a ilusão de que grandes embates estão próximos de se realizar. Entretanto, é sensato supor que a realidade geográfica continuará a impor-se, mantendo intactos o status quo e a integridade territorial da região ao longo dos próximos anos.

No caso sul-americano, o engajamento e a preparação para guerra mostram-se como verdadeiros exercícios logísticos. É extremante difícil mobilizar tropas ou largas porções da população ao longo de montanhas cobertas de neve (no caso dos Andes), vastos desertos, áreas pantanosas ou pela floresta tropical. Adicione-se a isso o fato de que a maior parte das nações sul-americanas tem uma histórica carência industrial/militar. Assim, o conflito entre estados tem sido relativamente limitado no continente, enquanto prevalecem os conflitos intra-estatais.

Muitas nações sul-americanas têm o passado marcado por conflitos internos, geralmente entre oligarquias políticas ou entre a população simples. Esse tipo de “introspecção”, aliado aos fatores geográficos, contribuiu para os poucos embates entre estados. Entretanto, a melhoria da infra-estrutura no continente, o crescimento populacional e o desenvolvimento econômico - acompanhados de inovação tecnológica - estão amaciando as rígidas barreiras geográficas que mantiveram as fronteiras sul-americanas estáveis. Até o presente momento, porém, mesmo toda essa integração não foi capaz de alterar as realidades geográficas que dão forma à política regional.

Se, por um lado, as recentes iniciativas colombianas através das fronteiras refletem os ganhos econômicos do país; por outro, pode-se perceber que países como o Brasil ainda conseguem manter a região relativamente equilibrada. Talvez a mais vibrante nação sul-americana da atualidade, o Brasil tem vivido uma fase de economia e governo estáveis quando comparados ao padrão sul-americano. A economia e a consolidação interna do Brasil estão avançando a taxas muito maiores do que a de seus vizinhos, particularmente Bolívia, Paraguai e Argentina. Ainda assim, o Brasil evita arroubos de supremacia (a constituição brasileira elenca, especificamente, a não-intervenção como um dos princípios do país). Ademais, países como Bolívia, Paraguai e Uruguai tradicionalmente suavizam eventuais tensões entre o Brasil e vizinhos maiores. Considerando-se que a fronteira brasileira com esses países é uma das poucas áreas sul-americanas onde há reduzida obstrução logística, é notável a quase inexistência de manobras militares brasileiras pela região (especialmente se considerada a facilidade com a qual o Brasil poderia realizar tais ações). É correto presumir, contudo, que o incremento infra-estrutural, industrial e de transporte ao longo da fronteira brasileira amplia a capacidade de o Brasil projetar seu poder.

Ainda assim, o desenvolvimento econômico e tecnológico sul-americano não ultrapassou as poderosas forças geográficas de modo a alterar fundamentalmente a dinâmica geopolítica do continente. Os centros populacionais tendem a manter-se separados por muito tempo e os custos de transporte - militares ou outros - permanecerão altos. Desse modo, a escalada de eventos em favor de uma guerra entre dois estados sul-americanos parece improvável, embora as tensões fronteiriças e seus desdobramentos tendam a crescer ao longo dos próximos anos, conforme se intensifique o crescimento econômico regional.

>> Home; Foo Fighters; Echoes, Silence, Patience and Grace

>> O Fundamentalista Relutante; Moshin Hamid; Alfaguara

Shine On You Crazy Diamond


Irritado, você deve estar pensando por que criei um blog? Mão nervosa, tremendo, o teclado mais estrangeiro do que nunca... você arranca os cabelos gritando: "Bom Deus, essa criatura acha que sabe escrever!?".

Tenha calma. A verdade é que tive uma visão do atasqueiro em que me meti: livros demais, tempo de menos. Corpo coberto de Doritos, Ruffles e café, livros por todo lado, arquivos digitais, jornais, anotações, cadernos, e sabe-se lá o que mais.

Então, bom - mesmo com toda essa obrigação estudantil -, o duro é que idéias para alguns posts engraçadinhos, “inesperáveis”, teimavam em aparecer. Assim, tentarei escrever neste espaço ao mesmo tempo em que estudo, trabalho e, pior ainda, saboreio tremoços ouvindo Yo-Yo Ma.

Por cá, você deparará assuntos vários: política internacional, cinema, traduções, vinhos e tudo mais que merecer algum tipo de comentário. De qualquer forma, mesmo que tudo falhe, não deixe de mandar seus e-mails. Às vezes, rolo no asfalto por algumas mensagens que recebo. Entretanto, não espere resposta, meu espírito bucaneiro impediria qualquer tipo de cordialidade.

Anyway, fique bem: mantenha a barriga para dentro e o peito para fora. Quando hesitante, leia Kipling, Drummond ou qualquer coisa que cure sua angústia. E pare de ouvir essas músicas horríveis que tocam por aí.

>> Imitation of life; R.E.M.; Reveal

>> Plenarium; Revista