A The Economist da semana passada trouxe extensa matéria sobre um novo tipo de colonialismo praticado pela China em sua busca por recursos. Entre muitas outras afirmações, a revista atesta que o Império do Meio vem tentando obter algum tipo de controle na Ásia Central. Atualmente, a Rússia detém a maioria das prerrogativas no que tange a esse tema, mas os chineses estão rapidamente se movendo no sentido de prover a Ásia com outras opções geoestratégicas - sobretudo, uma opção que deixe a Rússia com poucas alternativas na região.
Nos dias atuais, a maior parte das estradas, ferrovias e oleodutos existentes conectam-se quase que exclusivamente à Rússia. Os países da Ásia Central tentaram, ao longo do tempo, diminuir essa influência, mas, em sua maior parte, a região permanece muito unida à Federação Russa.
No processo de alteração dessa tendência, Pequim vem construindo uma série de oleodutos que irão desviar o petróleo centro-asiático para a China ao invés de enviá-lo para a Rússia. Como complemento desse esforço, a China está, também, no meio de uma agressiva mobilização para “controlar” e incrementar a rede regional de ferrovias. Decerto, oleodutos são importantes para orientar a geopolítica de um país, mas ferrovias permitem um tipo de integração de mão-dupla e uma ampla penetração econômica que não existem no transporte de petróleo e gás por tubos. Conforme o próprio mestre Hobsbawn afirma, ferrovias - para além dos dutos - são os verdadeiros laços que conectam a economia.
Entre os cinco Estados centro-asiáticos, apenas duas ferrovias não são diretamente conectadas à Rússia - a primeira conecta o Turcomenistão ao Irã e a segunda liga o Kazaquistão à China. Esse fato corriqueiro deixou a região firmemente atrelada à órbita econômica russa, apesar de a União Soviética ter-se dissolvido quase vinte anos atrás. De certa forma, é correto pensar que os países da Ásia Central não desejam conectar-se à Rússia per se, mas que não tinham escolha melhor. Assim, a força dos vínculos russos têm sido alterada recentemente - e de forma bastante rápida.
No decorrer dos últimos meses, a China tem agido em dois projetos que a conectarão ao centro da Ásia por meio de ferrovias. Além da positiva integração ferroviária, ambas as rotas antecipam a logística para futuras estradas e conexões petrolíferas. Esses novos links tenderão a inverter as relações econômicas que definem a região.
O mercado interno chinês é cerca de três vezes mais valioso do que o russo e os robustos portos chineses são muito mais próximos de várias cidades centro-asiáticas do que são os envelhecidos portos russos no Mar Russo e Báltico. Apenas como exemplo, o volume de cargas enviadas pela conexão ferroviária entre o Kazaquistão e a China aumentou sessenta por cento em 2007 (em relação ao ano anterior).
A meu ver, a Rússia tem somente duas opções se desejar abortar os planos chineses. A primeira - e mais sensata - é fazer com que o mercado russo torne-se mais atrativo por meio de investimentos em infra-estrutura e de garantia de acesso preferencial a alguns bens exportados pelos asiáticos. Entretanto, esse não é o estilo tradicional soviético. Mais provável é a segunda opção: ameaçar os líderes centro-asiáticos que se atrevam a aproximar-se de Pequim. A inteligência russa pode não ser mais tão poderosa como foi durante a guerra fira, mas há ainda algo a se temer para aqueles que vivem na “vizinhança” moscovita. O tempo dirá quem deve levar a melhor.
>> Lumiar; Beto Guedes; Bis - Beto Guedes
>> Red Cat; Peter Spiegelman; Random House
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