Cara Clarice,
Faz cinco anos que estamos aqui. 1826 dias respirando solidão no Planalto Central. Sei que você não aprovou a cidade. Chegaste a escrever que "a alma aqui não faz sombra no chão". Eu discordo, minha cara.
Calma, calma, não leve a mal. Já explico.
Gosto de Brasília, da mesma maneira que o Mario Sergio gosta. Gosto do monumentalismo de Niemeyer, dos carros que não buzinam e dos canteiros floridos do Roriz.
Gosto, também, da onipresença do sol e do horizonte sem fim. Gosto, até, do demodê estampado nos carpetes das repartições públicas e suas horrendas divisórias de madeira. O cafezinho às vezes é bom, inclusive.
Você pode dizer: como alguém atura algumas músicas produzidas por lá, poxa? Eu falo, tudo bem, a cidade tem seus pontos baixos. Falta praia, por exemplo - o Arruda está dizendo que vai fazer uma no Lago Norte, vamos ver.
De qualquer modo, gosto do ar seco e do céu azul-azul. Da imensidão de sotaques, dos calorosos tapas nas costas, dos segredos que todo mundo sabe, dos muitos - atuais - restaurantes, das águas tranquilas do Lago Sul (hoje, por coincidência, ele estava uma finura), da Esplanada e suas luzes. Gosto daqui.
Sabe, Clarice, escrevi certa vez que o Cerrado traz reminiscências. É fato... e assunto para outra carta. Fique bem.
>> Bra; Cymande; Ronca-Ronca
>> Eles Foram Para Petrópolis; Ivan Lessa & Mario Sergio Conti; Companhia das Letras
1 comment:
É meu caro, foste consquistado !!!! Abraços
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