Thursday, August 14, 2008

Knocking on Heaven's Door

Caros, em momento algo inspirado, escrevi o texto abaixo. Faz algum tempo: cerca de dois ou três anos, em período de grandes mudanças na vida deste "redator".

O trabalho é de pena própria e redigido como mensagem de Natal aos amigos do Rio de Janeiro. Portanto, perdoem inperfeições, eventuais amadorismos e a evidente ausência de modéstia:

"Os amigos desculpem-me, ando relapso. Explico a ausência: os estudos a que me propus - cerca de ano e meio atrás - são extenuantes e, de quebra, houve a estréia num trabalho pelas bandas do planalto central. Trabalho demais noutras paragens, a falta de comunicação é indesculpável por cá.

Vergonhoso. Não há de repetir-se, espero.

De minha parte, houve ainda um procedimento a firmar: não foi tarefa simples abandonar a cidade de São Sebastião e estabelecer-se na muy bela e heróica cidade de Brasília, ao centro do país.

Os prezados sabiam que o Cerrado traz reminiscências? Ora pois, é fato.

Imaginem aqueles senhores, cansados da má sorte, aventureiros à procura de fortuna no planalto central, recém-chegados ao inferno seco. Imaginem-se vestindo as roupas que os costumes obrigam.

Então, imaginem um dia clássico de primavera. Céu azul-azul, calor fulminante para quem veste terno, um convite excessivo à praia ou à mata, à sombra, uma esperança de chuva que pode vir lavar a alma no fim de tarde. É setembro na Chapada. E já que estamos nessa, imaginem voismicês, “estrangeiros” recém-chegados, família a tiracolo, um dia destes no alto do prédio do Congresso, o Memorial JK ao longe, o calor e as roupas quentes – então, um devaneio leva em direção ao Leblon, onde está, desaguando na praia, o Atlântico salgado.

Não importa a que hora, estão lá as meninas, por vezes muitas e lindas, mergulhando com gosto porque o trabalho do dia já se foi. Não há culpa, há sorrisos, e você de paletós e casacas neste paraíso tropical.

O carioca entende. É o caminho para o trabalho passando pela Vieira Souto, aquelas meninas todas de biquíni em Ipanema, aquela praia convidando à cerveja e ao mergulho salgado. Ô cidade, Deus do céu. Chegou época de o Rio ser um pouco mais Rio, de céu azul e tempestade, de cheiro de terra e maresia – e aquela mata no caminho de todo dia está um pouco mais verde. E, quando o Vento Sudoeste chega violento vindo do morro Dois Irmãos, um prazer de toque, o mesmo prazer de ver como fica morena a moça ao lado. De manhã escureço, de dia tardo, de tarde anoiteço, de noite ardo.

É, estou de volta - ainda que por parcos quinze dias - mas de volta, desejando Feliz Natal e Ano Bom, junto ao costumeiro abraço."

O texto foi escrito em momento de retorno ao Rio de Janeiro. Férias dezembrinas. Revisitação aos amigos cariocas e à parte do passado. Daí a emoção.

Infelizmente, descreve um Rio de Janeiro que não existe mais. Uma pena.

>> A flor e o espinho; Nelson Cavaquinho; Unknown
>> 1602; Neil Gaiman; Pannini Books

1 comment:

Ariete Nasulicz said...

Questão de perspectiva:
Para um carioca em Brasília se veste roupa demais;
Para um curitibano se veste roupa de menos.
... e o Rio de Janeiro continua sendo o Éden...