Saturday, August 30, 2008

The Guns of August

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Após observar brevemente os eventos no Cáucaso, creio que as lentes estarão voltadas para Washington ao longo desta semana. No meu entender, os Estados Unidos deixaram clara sua oposição às ações russas na Geórgia. Entretanto, entender o que os EUA pretendem não é tarefa muito simples – principalmente quando considerado o imbróglio em que se envolveu a região - com Irã, Rússia, EUA e muitos outros países enfrentando interesses mais do que conflitantes.

A meu ver, existem duas óbvias opções no que tange à Washington. A primeira seria inserir uma pequena unidade na Geórgia, talvez um batalhão, como símbolo de suporte ao presidente Mikhail Saakashvili. A outra seria levar uma esquadra para o Mar Negro. Por certo, ambas são idéias complicadíssimas: o batalhão criaria uma longa e desnecessária presença estadunidense na Geórgia – o que não é uma boa idéia; a esquadra, por seu turno, teria o efeito adicional de ajudar os ucranianos, mas seria efetiva apenas se a Casa Branca estiver preparada para usar a força em eventuais bloqueios ou ameaças – iniciativas perigosas e que certamente não teriam apoio da OTAN. Creio que, em algum momento, os Estados Unidos terão que repensar tais iniciativas e aceitar a real possibilidade de os russos venderem armas ao Irã (ou de os iranianos terem, finalmente, poder nuclear). Dessa forma, vale o aviso de “watch Washington”.

Vale, também, observar Moscou. O Kremlin continua a falar de modo agressivo, apontando para a dependência européia em relação ao gás russo (lembrem-se que o inverno europeu começa em breve e que o gás é fundamental no frio do norte). Decerto, não está muito claro o que pensam os russos. Na verdade, pode ser que eles mesmos não saibam o que dizem e estejam somente esperando para ver como vão reagir tanto Washington quanto a Europa. Entretanto, é evidente que está em curso um processo de tomada de decisões e que existe uma possibilidade de futuras ações políticas – ou militares, até – ao longo da periferia russa. Portanto, interessa acompanhar os movimentos de Vladmir Putin e sua trupe.

Na parte que cabe a nós, latinos, creio que há furtivas – porém sérias – implicações. Se houver uma escalada nos eventos, penso que Venezuela e Cuba podem receber algum tipo de “sobrevida” no tabuleiro mundial, principalmente se os dois países forem úteis ao Kremlin. Creio, entretanto, que esse “valor” não passaria da irritação à Washington. De qualquer forma, ambos os países passam por algum tipo de dificuldade e poderiam ganhar um adendo em seus regimes políticos por meio de pequenas ajudas russas. No caso de Moscou, tal ajuda poderia ser desejável se pensarmos na utilização da zona caribenha como base militar: ainda que os EUA detenham superioridade numérica, aviões vermelhos trariam toda sorte de incertezas ao Canal do Panamá, à Flórida e, indiretamente, à economia mundial.

Venezuelanos e cubanos provavelmente iriam aceitar os russos de bom grado – e podem até estar oferecendo essas mesmas bases no momento em que escrevo essas digressões. Será interessante – e algo assustador – ver qual a resposta russa.

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