Wednesday, August 27, 2008

Personal Jesus

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O Sr. Carneiro da Cunha: - Sr. Presidente: Não posso aprovar a emenda do Sr. Moniz Tavares na parte em que exige 40 anos de idade para ser Conselheiro de Provincia. Todos conhecem que temos falta de gente de luzes; e se desses poucos homens que ha capazes de taes empregos, ainda tirarmos os que não chegão áquella idade, ficaremos em algumas Provincias sem ninguem.
(...)
Sou pois do voto que todo o que tiver mais de 25 anos de idade possa ser eleito Conselheiro de Provincia."

O excerto acima - em redação original - faz parte de livro que comprei recentemente: “Diário da Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil – 1823”. A publicação traz todos os debates travados ao longo da malfadada Assembléia de 1823, encerrada de modo abrupto por D. Pedro I.

O texto é registro fiel da inteligência cultural do país à época, reunida nacionalmente para fundar o parlamento pátrio. Creio não exagerar ao dizer que esses homens de 1823 seriam nossos “founding fathers”: convocado em 1822 pelo ainda regente Pedro, o Congresso acabou sendo um dos mais importantes elementos da independência brasileira. De certa forma, esse espírito independente foi tão alinhado aos interesses da nação que o governante não teve outra opção além de outorgar uma Carta diversa.

A meu ver, a citação que escolhi guarda estreito vínculo com os tempos atuais. Em especial, com a campanha eleitoral moderna. Ao dizer que eram poucos os iluminados com mais de 40 anos, o Sr. Carneiro da Cunha foi premonitório: ainda hoje a assertiva é profícua.

A propaganda eleitoral em 2008 é, para dizer o mínimo, anacrônica. Veiculamos, hoje, publicidade acerca de candidatos que sequer estariam aptos a concorrer aos “pleitos” do século XIX. Decerto, os puristas dirão ter sido restrita a participação eleitoral no passado e que o modelo atual reflete a sociedade brasileira com maior precisão. Entendo que nada poderia ser mais enganoso: cada um tem a elite que merece.

É verdade que o limitado tempo de exibição inibe a apresentação de qualquer tipo de proposta mais elaborada. Entretanto, os candidatos poderiam tentar não se comprometer. Aqui em Brasília - sem eleições - tenho assistido ao programa paulista e a decepção é imensa. Apesar de estarem no centro “esclarecido” do pais, o nível dos candidatos é infernal.

Sobre assuntos tenebrosos, na Divina Comédia, Dante relatou que sob a porta do Hades encontra-se a seguinte inscrição: “deixai, ó vós, que entrais aqui, toda esperança”. É dessa forma que me sinto ao sintonizar o programa eleitoral. Grosso modo, os candidatos limitam-se a dizer frases estilísticas como “conto com seu voto!”, associadas a sorrisos tétricos.

Não entendo como os partidos deixaram subverter-se dessa forma. Apesar das exceções, a maior parte dos pretensos “novos” candidatos aparenta estar muito distante do ideal libertador apregoado em 1823. Pobre Brasil.

>> Harder to breathe; Marroon Five; ...
>> Viva o Povo Brasileiro; João Ubaldo Ribeiro; Círculo do Livro

1 comment:

Sumac said...

The book seems interesting, and from what I gather, you've picked up on something of a trend in Brazilian politics. Brilliant account.
Cheers...