Sunday, August 17, 2008

Chariots of fire


Dento do espírito olímpico, segue vídeo com o nobre Eirc Mossoumbani na prova de 100 metros livres durante a Olimpíada de 2000, em Sydnei. O Sr. Moussambani foi um nadador que representou seu país, Guiné Equatorial, durante os jogos do início do século XXI e, conforme consta, transcendeu o ideal do Barão de Coubertin: depois de ver os opositores queimarem a largada - e serem desclassificados -, Eric nadou sozinho na piscina.

A classificação do “guiné-equatoriano” ocorreu por meio de um convite do comitê olímpico para incentivar países em desenvolvimento. Desnecessário dizer que o desempenho do nadador foi muito ruim: o rapaz, que treinava em uma piscina de hotel - com 22 metros - nunca havia visto uma raia de 50 metros. Ao longo do vídeo, a impressão que se tem é de que ele irá afogar-se.

Apesar de tudo, o moço segue em frente e termina a prova - ainda que aos trancos e barrancos. Seu esforço, entretanto, é visto pela dupla de comediantes australianos “Roy and HG” como algo digno de pena.

Os comentários e piadas dos dois apresentadores são emblemáticos do século XIX. “Go Eric, go, hahahahaha...”, é o que de mais sutil se escuta ao longo dos cerca de quatro minutos do vídeo. Pelo teor da apresentação, vigem as teorias do “fardo do homem branco”, do colonialismo e - sem exagero - do orientalismo. Lamentável.

Ainda em 1895, Kipling - um dos mais ativos poetas do colonialismo - escreveu: “há sessenta e nove modos de se compor odes tribais, e cada um deles é correto”. O escritor inglês não era, necessariamente, um crítico do modelo expansionista então em voga e, ainda assim, entendeu que a diferença existente entre os cidadãos do mundo era algo benéfico. Ao nadar como um bufão, Eric demonstrou estar além de eventuais preconceitos ultrapassados e à altura dos antepassados guerreiros da Guiné.

Seu desempenho gerou grande interesse sobre a outra competidora da Guiné Equatorial - Paula Barila Bolopa -, que competiu na prova dos 50 metros livres. Infelizmente, Barila nadou também muito mal, conseguindo somente o recorde histórico pelo tempo olímpico mais lento para a prova.

Moussambani, porém, incentivado por seu feito, voltou para casa e treinou forte. Após conseguir o índice olímpico para disputar os jogos de 2004, teve a entrada na Grécia negada devido a problemas burocráticos com o visto. Em meros quatro anos, Eric conseguiu diminuir seu tempo para menos de 57 segundos. Infelizmente, tolhido pelas circunstâncias, viveu um momento “dead on arrival” - em inglês mesmo, aos moldes do colonialismo.

>> Island in the sun; Weezer; Weezer (Green Album)

>> Viva o povo brasileiro; João Ubaldo Ribeiro; (...)

1 comment:

ncanani said...

Parabéns pelo texto, Renato!!! As Olimpíadas sã um espetáculo interessantíssimo não só pelos exemplos de superação, etc., etc., mas também pelo que mostram sobre as relações internacionais... Um grande abraço e continue com as excelentes postagens.