“- Nós não nos perdemos! – garanti-lhe, com uma pose tranquila e confiante, como se estivesse a ensaiar para um filme.
- Não? E porquê?
- Porque somos portugueses: há quinhentos anos que andamos por toda parte e conseguimos sempre voltar a casa”.
Acabei de ler o novo livro do Miguel Souza Tavares, “No Teu Deserto”. Pela terceira vez, o autor lusitano correspondeu minhas expectativas. O livro é tão enxuto – e bem escrito – que comprei-o à noite de ontem e virei a última página duas horas depois. Por sorte, a Companhia das Letras manteve o português em sua original versão.
Talvez, na língua pátria, Souza Tavares seja um dos melhores escritores da atualidade. Seus livros anteriores, “Equador” e “Rio das Flores” são também muito bons - “Rio das Flores”, porém, talvez seja o mais fraco dos três que li. Junto com Mia Couto, Pepetela e outros autores, a nova safra de escritores lusófonos está revigorando o romance da língua de Camões.
Estranhamente, todavia, entre os melhores escritores em língua portuguesa atuais, não consigo incluir nenhum brasileiro. No grupo dos melhores, as nacionalidades derivam entre Angola, Portugal e Moçambique, sobretudo. Não por acaso, recentemente elegemos Paulo Coelho para a Academia de Letras - nada a comentar, enfim.
No caso de Souza Tavares, o fato de ser filho da poetisa Sophia de Mello Breyner deve ter ajudado muito. Além disso, Tavares é declarado amante do Alentejo e, como os prezados sabem, quem não se rende de forma absoluta ao Alentejo, não merece saber que o rio existe. Para um escritor português, essa característica é fundamental – Fernando Pessoa, de alguma forma, também sabia disso.
Talvez, na língua pátria, Souza Tavares seja um dos melhores escritores da atualidade. Seus livros anteriores, “Equador” e “Rio das Flores” são também muito bons - “Rio das Flores”, porém, talvez seja o mais fraco dos três que li. Junto com Mia Couto, Pepetela e outros autores, a nova safra de escritores lusófonos está revigorando o romance da língua de Camões.
Estranhamente, todavia, entre os melhores escritores em língua portuguesa atuais, não consigo incluir nenhum brasileiro. No grupo dos melhores, as nacionalidades derivam entre Angola, Portugal e Moçambique, sobretudo. Não por acaso, recentemente elegemos Paulo Coelho para a Academia de Letras - nada a comentar, enfim.
No caso de Souza Tavares, o fato de ser filho da poetisa Sophia de Mello Breyner deve ter ajudado muito. Além disso, Tavares é declarado amante do Alentejo e, como os prezados sabem, quem não se rende de forma absoluta ao Alentejo, não merece saber que o rio existe. Para um escritor português, essa característica é fundamental – Fernando Pessoa, de alguma forma, também sabia disso.
“- Estava a pensar se há viagens sem regresso. E que nunca mais vou voltar desta viagem. Nunca mais vou regressar do deserto.”
O livro, em si, é relativamente simples: um “road-book” sobre a viagem inesperada de um casal desconhecido ao deserto argelino. Tudo a bordo de um velho jipe UMM, cheio de enlatados, garrafas de whisky e muita aventura.
De forma despropositada, o livro põe o leitor dentro da história. Um conto/romance que dói e faz rir ao mesmo tempo. É um livro de viagem que o leva dentro da viagem: deixa o leitor com areia nos olhos, com fome e frio. Deixa-nos vazios, como o deserto: a olhar estrelas. E, depois, com a estranha sensação de que tudo acabou muito depressa.
"No teu deserto" é uma carta a quatro mãos. Acima de tudo, uma carta sobre o que não se disse numa viagem de 40 dias ao deserto, realizada em 1987.
Vinte anos depois, ao tentar “reviver” a viagem, o protagonista descobre morta sua companheira (isso não estraga o livro, ela morre na primeira linha da história). Como 20 anos é muito tempo, as cartas chegaram tarde demais. É um livro sobre desencontros.
Como dizia Machado de Assis, escrever é mera questão de colocar acentos. Miguel Souza Tavares parece ter aprendida a lição: “No Teu Deserto” é simples como só, tão simples que dificilmente poderia ser melhor.
De forma despropositada, o livro põe o leitor dentro da história. Um conto/romance que dói e faz rir ao mesmo tempo. É um livro de viagem que o leva dentro da viagem: deixa o leitor com areia nos olhos, com fome e frio. Deixa-nos vazios, como o deserto: a olhar estrelas. E, depois, com a estranha sensação de que tudo acabou muito depressa.
"No teu deserto" é uma carta a quatro mãos. Acima de tudo, uma carta sobre o que não se disse numa viagem de 40 dias ao deserto, realizada em 1987.
Vinte anos depois, ao tentar “reviver” a viagem, o protagonista descobre morta sua companheira (isso não estraga o livro, ela morre na primeira linha da história). Como 20 anos é muito tempo, as cartas chegaram tarde demais. É um livro sobre desencontros.
Como dizia Machado de Assis, escrever é mera questão de colocar acentos. Miguel Souza Tavares parece ter aprendida a lição: “No Teu Deserto” é simples como só, tão simples que dificilmente poderia ser melhor.
“As coisas mudaram muito, Cláudia! Todos têm terror do silêncio e da solidão e vivem a bombardear-se de telefonemas, mensagens escritas, mails e contactos no Facebook e nas redes sociais da Net, onde se oferecem como amigos a quem nunca viram na vida. Em vez do silêncio, falam sem cessar; em vez de se encontrarem, contactam-se, para não perder tempo; em vez de se descobrirem, expõem-se logo por inteiro: fotografias deles e dos filhos, das férias na neve e das festas de amigos em casa, a biografia de suas vidas, com amores antigos e actuais. E todos são bonitos, jovens, divertidos, “leves”, disponíveis, sensíveis e interessantes. E por isso é que vivem esta estranha vida: porque, muito embora julguem poder ter o mundo aos pés, não aguentam um dia de solidão. Eis porque já não há ninguém para atravessar o deserto. Ninguém capaz de enfrentar toda aquela solidão.”
>> Matamoros Banks; Devils & Dust; Bruce Springsteen
>> No Teu Deserto; Miguel Souza Tavares; Companhia das Letras
2 comments:
Aécio, como é bom ler um texto limpo e bem escrito!!!
Seu blog deveria ser mais divulgado.
Daqui a pouco, uma capa da Veja BSB te aguarda!
Beijos e continue nos enebriando com seus belos textos.
Beijos.
Muito bom.
Temos de lê-lo, pois.
Grande dica e, por isso, obrigado.
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