Monday, June 30, 2008

Os Outros: Mia Couto

"Seguindo o voo do fumo, o olhar do médico é suficientemente reprovador para dispensar a habitual reprimenda.
- Não sou eu que fumo, Doutor Sidonho. O cigarro é que me está fumando a mim.
- Nisso estamos de acordo. O senhor não devia tocar mais em cigarro.
- O senhor me desculpe, mas o senhor não entende o fumar.
- Não entendo como?
- Não é o tabaco que a gente consome. A gente fuma é a tristeza."

Mia Couto, escritor moçambicano, em um dos ótimos momentos de seu recente livro: "Venenos de Deus, remédios do Diabo". Diria eu que o senhor Couto é, hoje, um dos maiores escritores na língua portuguesa.

Reparem que mantive a ortografia original, adotada em Moçambique. A propósito, o livro foi lançado simultaneamente em Portugal, Moçambique e aqui no Brasil. Penso que iniciativas como essa revelam o grande filão do mercado lusófono nos tempos porvir.

Graças aos esforços da CPLP, tem sido possível integrar o idioma e, a partir daí, lançar estratégias de mercado conjuntas em todos (ou alguns) países que usam a "flor do lácio" como idioma. A despeito dos gramáticos tupiniquins - que continuam teimando com o uso de tremas, hiféns e que tais -, a integração tem avançado muito, sem perda de identidade para os países da comunidade de língua portuguesa.

Para os que ainda são contra a integração linguística, basta lembrar que o espanhol ganhou espaço mundial justamente após os enormes esforços da Real Academia Espanhola em integralizar o idioma - razão pela qual a Alfaguarra é, atualmente, uma das maiores editoras do planeta. E não foi sem propósito que a mesma Alfaguarra comprou parte da Editora Planeta: exatamente pensando no grande potencial de um mercado luso-parlante integrado em uma só base linguística.

>> Venenos de Deus, Remédios do Diabo; Mia Couto; Companhia das Letras
>> Planeta Sonho; 14 Bis; 14 Bis ao Vivo


Sunday, June 22, 2008

Os Outros: The Hours

"- Tell me a story.

- What about?

- Tell me a story from your day.

- I... I got up...and...I went out...and went to buy flowers...like Mrs. Dalloway in the book, you know.... and it was a beautiful morning...

- Like a...like a morning on a beach?

- Oh, yes.

 

-Like that?

- Yes.

- Like that morning...when you walked out of that old house and you were eighteen...and maybe I was nineteen.

- Yes.

- I was nineteen years old...and I'd never seen anything so beautiful. You, coming out of the glass-door in the early morning still sleepy.

- Isn't it strange?

- The most ordinary morning in anybody's life... I'm afraid I can't make it to the party, Clarissa.

- The party...doesn't matter.

- You've been so good to me, Mrs. Dalloway... I love you. I don't think two people could've been happier than we've been."

Esse, pois, é um dos diálogos ao final do belíssimo "The Hours", com Nicole Kidman em atuação impagável.


>> Turn you inside-out; REM; Green

>> Juventude; J. M. Coetzee; Companhia das Letras

Friday, June 20, 2008

Back 4 More


Mês passado, a marinha norte-americana anunciou que tem planos concretos de re-engajar a 4a Frota. Baseados na Flórida, os navios – que patrulham as Américas Central e do Sul, além do Caribe - devem estar ativos a partir de 1o de julho desse ano. Dada sua imensa importância, penso que o tema merece algumas considerações.


A 4a frota foi criada, em 1943, para ajudar na segurança regional – principalmente no contexto da II Guerra Mundial. À época, o isolamento e a paz regional eram elementos chave para a política internacional norte-americana. Após o fim da Guerra, a cena geopolítica alterou-se drasticamente e não havia mais necessidade de presença tão ostensiva na America Latina. Grosso modo, os interesses dos EUA migraram para a contenção do comunismo e da influência soviética: dado que havia mínima competição pela hegemonia militar no sul, os armamentos foram desviados para outras localidades (o Mar Mediterrâneo, por exemplo).


Atualmente, entretanto, tal tendência parece estar se revertendo. Apesar de a re-implantação da frota não representar um inicial aumento no número de combatentes, haverá, por agora, um crescimento no staff da região. Rumores dão conta, também, de que a base na Flórida irá abrigar um Porta-Aviões nuclear. Portanto, leia-se: em um primeiro momento haverá crescimento da atividade de inteligência relativa à região.


Apesar de os EUA manterem uma constante presença naval no Sul, tal movimento aparenta ser um relevante indicador da natureza bélica estadunidense. Sobretudo, o ressurgimento da frota parece indicar a maneira pela qual o país pretende interagir com a região no futuro próximo.


Decerto, pouca coisa alterou-se no teatro geopolítico da área de responsabilidade da frota: os EUA ainda detém completa hegemonia naval na região - e no mundo. Desde o final da Guerra Fria, entretanto, um crescente número de países vem expandindo sua influência naval.


Nesse caso específico, o Brasil tem envidado esforços consideráveis no sentido de expandir seu poder marítimo regional – nosso projeto de submarino nuclear é bom exemplo do que falo. Parece-me que, com uma renovada presença na região, os Estados Unidos desejam engajar o Brasil em favor da manutenção da tradicional cooperação bi-lateral logo no “início do jogo”. Assim, a volta da 4a frota pode ser percebida como o desejo de manter a aliança com o Brasil, lidar com a crescente atividade militar na região e manter a segurança marítima em um contexto de desenvolvimento do hemisfério oriental.


Penso que outra mudança importante a influenciar a iniciativa estadunidense é o desenvolvimento do comércio internacional, especialmente no quesito energético. As recentes descobertas petrolíferas em águas brasileiras sugerem expressivo crescimento do peso geopolítico do Brasil e da região Latina. Com o aumento do trânsito regional e global esperado para os anos futuros, os EUA podem estar preparando um suave desembarque geoestratégico, conforme a importância da região seja adensada.


O renovado foco de Washington parece representar uma adaptação às rápidas mudanças da cena geopolítica mundial. Nesse cenário, as Cassandras poderiam dizer que a política dos EUA remete ao período pré 2a Guerra Mundial. Grosseiramente, algo como: “vamos preservar os nossos porque o futuro, nunca se sabe...”. Entretanto, como diria Chesterton: se há algo que sabemos da história, é que essa não nos ensina nada. O futuro dirá o que a mudança representa.


>> Xamego; Luiz Gonzaga e Fagner; Luiz Gonzaga

>> Juventude; J. M. Coetzee; Companhia das Letras

Monday, June 16, 2008

Os Outros: Adolfo García Ortega

“Auschwitz está demasiado cerca.

Hurbinek, por ejemplo, de haber sobrevivido tendría hoy cincuenta y nueve años. No sería muy mayor, a decir verdad, y tal vez gozara de buena memoria, de una torturante buena memoria que le traería esas terribles pesadillas, frecuentes en quienes han pasado por los campos nazis, en las que una y otra vez sólo les devora el hambre, el hambre y el hambre. Sus nietos, seguramente, serían pequeños aún, a lo sumo adolescentes que lo respetarían. Tendría un buen trabajo, adecuado a sus características físicas, en Polonia o en Hungría, o quizás en alguna ciudad rusa, y sería pronto para él oír hablar de la jubilación. No, Auschwitz todavía no está demasiado cerca. No es tan irreal como lo pueden ser en los libros de texto Trafalgar, la Revolución francesa o Waterloo. Hay supervivientes. Aunque Hurbinek no sea uno de ellos.”

Esse é o primeiro parágrafo de "El Comprador de Aniversarios", livro que ora leio. Escrito por Adolfo García Ortega, a obra simula a vida de um garoto judeu, de nome Hurbinek, que morreu em Auschwitz com três anos. 

Mencionado em "A Trégua", de Primo Levi, como alguém de quem não se sabe nada em absoluto, o pequeno Hurbinek tem sua vida fantasiada nesse interessante livro do Sr. Ortega. Fica, portanto, a recomendação.


>> Death and all his friends; Coldplay; Viva La Vida (cd excelente)

>> El Comprador de Aniversarios; Adolfo García Ortega; Booklet

Friday, June 13, 2008

Gonzo Kitchen

Receita inusitada de pizza de aspargus com, lógico, aspargus e laranja. O segredo é torrar a massa, no forno, até que ela fique quase pronta. Daí, adicione os ingredientes e deixe tostar por cerca de dois minutos. Dessa forma, o queijo de cabra não irá secar.

"Asparagus, Goat Cheese and Orange Pizza
makes 2 pizzas

1 lb. asparagus, washed, trimmed into 2-inch pieces
6 ounces goat cheese
Milk
1 tablespoon orange zest
1/4 cup hazelnuts, toasted and chopped
1 batch of Homemade Thin Crust Pizza (or 1 package of prepared dough)
olive oil
walnut oil (optional)
salt
Trader Joe's Orange Muscat Champagne vinegar, for drizzling


Pre-heat oven to 500. Bake dough alone, removing before the final 2-3 minutes of baking.

Meanwhile, heat a grill pan over medium-high heat. Toss asparagus with a little olive oil and grill until slightly tender, about 5 minutes. Remove from heat and set aside.

Place goat cheese in a small bowl and add a splash of milk. Mix until combined, adding a little more milk as necessary – just enough to make it spreadable. Add orange zest and a dash of salt.

Spread goat cheese mixture onto par-baked crusts and top with asparagus and hazelnuts. Brush crust with walnut oil, if desired. Bake for another 2-3 minutes. Drizzle with Orange Muscat Vinegar before serving."

>> Death and all his friends; Coldplay; Viva la vida
>> Direito Constitucional; Pedro Lenza; Editora Saraiva

Tuesday, June 10, 2008

Yes!!

>> Ronca Ronca; Ao vivo; Oi FM

>> Juventude; J. M. Coetzee; Companhia das Letras

Monday, June 02, 2008

Página 201

"Datada de Philadelphia, de 29 de julho, apparecia uma carta de Lardner Gibbon, explorador do Madeira, ao Sr. Don Carlos Bridoux, commerciante de Cochabamba na Bolívia, concessionário de vastas terras na base dos Andes bolivianos.
A carta vinha intitulada "Andes and Amazon Basin".
Desde o começo, prevenia Gibbon ao commerciante, curioso de conhecer as possibilidades de tráfico pelo Madeira que: "I hope my answer will prove satisfactory as a rational result of my observations, if not the most agreable to you as a merchant".
A carta é objectiva. Descrevia as riquezas da região andina e da amazonica junto as deficiências e as difficuldades.
A these do explorador oficial era que, em princípio, a melhor sahida commercial da Bolivia não era o Pacifico, mas o Atlantico, pelo Amazonas.
No dia em que os productos bolivianos sahissem por essa porta fluvial, o paiz começaria a contar no concerto das nações...."

A página 201 do livro "A Liberdade de Navegação do Amazonas", de Fernando Saboia de Medeiros. Editado em 1938, o texto evidencia que, desde o século XIX, a Amazônia era um sério problema.

>> Foi o mordomo; Cinema mudo; Paralamas do Sucesso

>> Meu nome é vermelho; Orhan Pamuk; Companhia das Letras  

Sunday, June 01, 2008

John Adams


Recentemente, assisti uma minissérie primorosa da HBO: John Adams. Na verdade, foi por acaso que descobri a produção. Porém, após os dois primeiros episódios, minha atenção estava totalmente tomada.

Apesar de o título centrar-se na vida do segundo Presidente dos EUA, a força do filme surge da própria narrativa da formação dos Estados Unidos. Foi impressionante ver George Washington, Thomas Jefferson, Alexander Hamilton e Benjamin Franklin praticamente redivivos na produção primorosa.

O mais interessante foi que o drama da improvável independência americana mostrou-se a partir da ótica de homens comuns, com suas individualidades e desafios familiares. São impagáveis os trechos nos quais “simplórios” colonos americanos vão às decadentes cortes européias: recebidos com desdém, esses mesmos homens fundaram o maior ideal de democracia da idade moderna. Outro ponto alto é a quietude demonstrada pelo ator que interpreta Thomas Jefferson, mais preocupado com as palavras no papel do que com as faladas ao público.

Dado o atual estado das coisas, deveria ser obrigatório gastar algum tempo para assistir a série. É refrescante ver que pessoas, mesmo imperfeitas, verdadeiramente preocuparam-se com o futuro da liberdade. 

>> Think I'm in love; Beck; The information

>> Meu Nome é Vermelho; Orhan Pamuk; Companhia das Letras

:: A foto acima é propriedade da HBO