Friday, June 20, 2008

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Mês passado, a marinha norte-americana anunciou que tem planos concretos de re-engajar a 4a Frota. Baseados na Flórida, os navios – que patrulham as Américas Central e do Sul, além do Caribe - devem estar ativos a partir de 1o de julho desse ano. Dada sua imensa importância, penso que o tema merece algumas considerações.


A 4a frota foi criada, em 1943, para ajudar na segurança regional – principalmente no contexto da II Guerra Mundial. À época, o isolamento e a paz regional eram elementos chave para a política internacional norte-americana. Após o fim da Guerra, a cena geopolítica alterou-se drasticamente e não havia mais necessidade de presença tão ostensiva na America Latina. Grosso modo, os interesses dos EUA migraram para a contenção do comunismo e da influência soviética: dado que havia mínima competição pela hegemonia militar no sul, os armamentos foram desviados para outras localidades (o Mar Mediterrâneo, por exemplo).


Atualmente, entretanto, tal tendência parece estar se revertendo. Apesar de a re-implantação da frota não representar um inicial aumento no número de combatentes, haverá, por agora, um crescimento no staff da região. Rumores dão conta, também, de que a base na Flórida irá abrigar um Porta-Aviões nuclear. Portanto, leia-se: em um primeiro momento haverá crescimento da atividade de inteligência relativa à região.


Apesar de os EUA manterem uma constante presença naval no Sul, tal movimento aparenta ser um relevante indicador da natureza bélica estadunidense. Sobretudo, o ressurgimento da frota parece indicar a maneira pela qual o país pretende interagir com a região no futuro próximo.


Decerto, pouca coisa alterou-se no teatro geopolítico da área de responsabilidade da frota: os EUA ainda detém completa hegemonia naval na região - e no mundo. Desde o final da Guerra Fria, entretanto, um crescente número de países vem expandindo sua influência naval.


Nesse caso específico, o Brasil tem envidado esforços consideráveis no sentido de expandir seu poder marítimo regional – nosso projeto de submarino nuclear é bom exemplo do que falo. Parece-me que, com uma renovada presença na região, os Estados Unidos desejam engajar o Brasil em favor da manutenção da tradicional cooperação bi-lateral logo no “início do jogo”. Assim, a volta da 4a frota pode ser percebida como o desejo de manter a aliança com o Brasil, lidar com a crescente atividade militar na região e manter a segurança marítima em um contexto de desenvolvimento do hemisfério oriental.


Penso que outra mudança importante a influenciar a iniciativa estadunidense é o desenvolvimento do comércio internacional, especialmente no quesito energético. As recentes descobertas petrolíferas em águas brasileiras sugerem expressivo crescimento do peso geopolítico do Brasil e da região Latina. Com o aumento do trânsito regional e global esperado para os anos futuros, os EUA podem estar preparando um suave desembarque geoestratégico, conforme a importância da região seja adensada.


O renovado foco de Washington parece representar uma adaptação às rápidas mudanças da cena geopolítica mundial. Nesse cenário, as Cassandras poderiam dizer que a política dos EUA remete ao período pré 2a Guerra Mundial. Grosseiramente, algo como: “vamos preservar os nossos porque o futuro, nunca se sabe...”. Entretanto, como diria Chesterton: se há algo que sabemos da história, é que essa não nos ensina nada. O futuro dirá o que a mudança representa.


>> Xamego; Luiz Gonzaga e Fagner; Luiz Gonzaga

>> Juventude; J. M. Coetzee; Companhia das Letras

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