"Seguindo o voo do fumo, o olhar do médico é suficientemente reprovador para dispensar a habitual reprimenda.- Não sou eu que fumo, Doutor Sidonho. O cigarro é que me está fumando a mim.- Nisso estamos de acordo. O senhor não devia tocar mais em cigarro.- O senhor me desculpe, mas o senhor não entende o fumar.- Não entendo como?- Não é o tabaco que a gente consome. A gente fuma é a tristeza."
Mia Couto, escritor moçambicano, em um dos ótimos momentos de seu recente livro: "Venenos de Deus, remédios do Diabo". Diria eu que o senhor Couto é, hoje, um dos maiores escritores na língua portuguesa.
Reparem que mantive a ortografia original, adotada em Moçambique. A propósito, o livro foi lançado simultaneamente em Portugal, Moçambique e aqui no Brasil. Penso que iniciativas como essa revelam o grande filão do mercado lusófono nos tempos porvir.
Graças aos esforços da CPLP, tem sido possível integrar o idioma e, a partir daí, lançar estratégias de mercado conjuntas em todos (ou alguns) países que usam a "flor do lácio" como idioma. A despeito dos gramáticos tupiniquins - que continuam teimando com o uso de tremas, hiféns e que tais -, a integração tem avançado muito, sem perda de identidade para os países da comunidade de língua portuguesa.
Para os que ainda são contra a integração linguística, basta lembrar que o espanhol ganhou espaço mundial justamente após os enormes esforços da Real Academia Espanhola em integralizar o idioma - razão pela qual a Alfaguarra é, atualmente, uma das maiores editoras do planeta. E não foi sem propósito que a mesma Alfaguarra comprou parte da Editora Planeta: exatamente pensando no grande potencial de um mercado luso-parlante integrado em uma só base linguística.
>> Venenos de Deus, Remédios do Diabo; Mia Couto; Companhia das Letras
>> Planeta Sonho; 14 Bis; 14 Bis ao Vivo
No comments:
Post a Comment