Sunday, August 31, 2008

il pleut


São 00:56, 31 de agosto de 2008. Há o que comemorar: chove em BSB. Mantenho meus estudos e tudo corre bem.

>> The Day We Caught the Train; Ocean Coulor Scene; Moseley Shoals
>> Manual de Direito Constitucional; Jorge Miranda; Coimbra Editora

Saturday, August 30, 2008

The Guns of August

.

Após observar brevemente os eventos no Cáucaso, creio que as lentes estarão voltadas para Washington ao longo desta semana. No meu entender, os Estados Unidos deixaram clara sua oposição às ações russas na Geórgia. Entretanto, entender o que os EUA pretendem não é tarefa muito simples – principalmente quando considerado o imbróglio em que se envolveu a região - com Irã, Rússia, EUA e muitos outros países enfrentando interesses mais do que conflitantes.

A meu ver, existem duas óbvias opções no que tange à Washington. A primeira seria inserir uma pequena unidade na Geórgia, talvez um batalhão, como símbolo de suporte ao presidente Mikhail Saakashvili. A outra seria levar uma esquadra para o Mar Negro. Por certo, ambas são idéias complicadíssimas: o batalhão criaria uma longa e desnecessária presença estadunidense na Geórgia – o que não é uma boa idéia; a esquadra, por seu turno, teria o efeito adicional de ajudar os ucranianos, mas seria efetiva apenas se a Casa Branca estiver preparada para usar a força em eventuais bloqueios ou ameaças – iniciativas perigosas e que certamente não teriam apoio da OTAN. Creio que, em algum momento, os Estados Unidos terão que repensar tais iniciativas e aceitar a real possibilidade de os russos venderem armas ao Irã (ou de os iranianos terem, finalmente, poder nuclear). Dessa forma, vale o aviso de “watch Washington”.

Vale, também, observar Moscou. O Kremlin continua a falar de modo agressivo, apontando para a dependência européia em relação ao gás russo (lembrem-se que o inverno europeu começa em breve e que o gás é fundamental no frio do norte). Decerto, não está muito claro o que pensam os russos. Na verdade, pode ser que eles mesmos não saibam o que dizem e estejam somente esperando para ver como vão reagir tanto Washington quanto a Europa. Entretanto, é evidente que está em curso um processo de tomada de decisões e que existe uma possibilidade de futuras ações políticas – ou militares, até – ao longo da periferia russa. Portanto, interessa acompanhar os movimentos de Vladmir Putin e sua trupe.

Na parte que cabe a nós, latinos, creio que há furtivas – porém sérias – implicações. Se houver uma escalada nos eventos, penso que Venezuela e Cuba podem receber algum tipo de “sobrevida” no tabuleiro mundial, principalmente se os dois países forem úteis ao Kremlin. Creio, entretanto, que esse “valor” não passaria da irritação à Washington. De qualquer forma, ambos os países passam por algum tipo de dificuldade e poderiam ganhar um adendo em seus regimes políticos por meio de pequenas ajudas russas. No caso de Moscou, tal ajuda poderia ser desejável se pensarmos na utilização da zona caribenha como base militar: ainda que os EUA detenham superioridade numérica, aviões vermelhos trariam toda sorte de incertezas ao Canal do Panamá, à Flórida e, indiretamente, à economia mundial.

Venezuelanos e cubanos provavelmente iriam aceitar os russos de bom grado – e podem até estar oferecendo essas mesmas bases no momento em que escrevo essas digressões. Será interessante – e algo assustador – ver qual a resposta russa.

>> Nega; Marcelo D2; Perfil
>> Os Limites da Revisão Constitucional; Gilmar Ferreira Mendes; Cadernos de Direito Constitucional

Wednesday, August 27, 2008

Personal Jesus

.


O Sr. Carneiro da Cunha: - Sr. Presidente: Não posso aprovar a emenda do Sr. Moniz Tavares na parte em que exige 40 anos de idade para ser Conselheiro de Provincia. Todos conhecem que temos falta de gente de luzes; e se desses poucos homens que ha capazes de taes empregos, ainda tirarmos os que não chegão áquella idade, ficaremos em algumas Provincias sem ninguem.
(...)
Sou pois do voto que todo o que tiver mais de 25 anos de idade possa ser eleito Conselheiro de Provincia."

O excerto acima - em redação original - faz parte de livro que comprei recentemente: “Diário da Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil – 1823”. A publicação traz todos os debates travados ao longo da malfadada Assembléia de 1823, encerrada de modo abrupto por D. Pedro I.

O texto é registro fiel da inteligência cultural do país à época, reunida nacionalmente para fundar o parlamento pátrio. Creio não exagerar ao dizer que esses homens de 1823 seriam nossos “founding fathers”: convocado em 1822 pelo ainda regente Pedro, o Congresso acabou sendo um dos mais importantes elementos da independência brasileira. De certa forma, esse espírito independente foi tão alinhado aos interesses da nação que o governante não teve outra opção além de outorgar uma Carta diversa.

A meu ver, a citação que escolhi guarda estreito vínculo com os tempos atuais. Em especial, com a campanha eleitoral moderna. Ao dizer que eram poucos os iluminados com mais de 40 anos, o Sr. Carneiro da Cunha foi premonitório: ainda hoje a assertiva é profícua.

A propaganda eleitoral em 2008 é, para dizer o mínimo, anacrônica. Veiculamos, hoje, publicidade acerca de candidatos que sequer estariam aptos a concorrer aos “pleitos” do século XIX. Decerto, os puristas dirão ter sido restrita a participação eleitoral no passado e que o modelo atual reflete a sociedade brasileira com maior precisão. Entendo que nada poderia ser mais enganoso: cada um tem a elite que merece.

É verdade que o limitado tempo de exibição inibe a apresentação de qualquer tipo de proposta mais elaborada. Entretanto, os candidatos poderiam tentar não se comprometer. Aqui em Brasília - sem eleições - tenho assistido ao programa paulista e a decepção é imensa. Apesar de estarem no centro “esclarecido” do pais, o nível dos candidatos é infernal.

Sobre assuntos tenebrosos, na Divina Comédia, Dante relatou que sob a porta do Hades encontra-se a seguinte inscrição: “deixai, ó vós, que entrais aqui, toda esperança”. É dessa forma que me sinto ao sintonizar o programa eleitoral. Grosso modo, os candidatos limitam-se a dizer frases estilísticas como “conto com seu voto!”, associadas a sorrisos tétricos.

Não entendo como os partidos deixaram subverter-se dessa forma. Apesar das exceções, a maior parte dos pretensos “novos” candidatos aparenta estar muito distante do ideal libertador apregoado em 1823. Pobre Brasil.

>> Harder to breathe; Marroon Five; ...
>> Viva o Povo Brasileiro; João Ubaldo Ribeiro; Círculo do Livro

Thursday, August 21, 2008

Gonzo Kitchen: Pollo ao mel

"- Separe alguns pedaços de frango: coxas e sobrecoxas (recomendo Sadia);
- Não tempere*;
- Passe mel em cada pedaço - isso mesmo, mel (pode ser Karo, também fica bom);
- Deixe descansar por uma hora;
- Retire o excesso de mel;
- Agora, deixe um tempo no molho Shoyo (cerca de meia hora);
- Remova do Shoyo;
- Coloque em uma forma para assar;
- Fica no ponto quando a carne começar a "desgrudar" do osso;
- Arroz branco e salada caesar são boas companhias."

Frango gonzo, com mel e Shoyo. Barato, rápido e fácil de fazer. Experimente.

>> Version city; The Clash; Sandinista!
>> Viva o povo brasileiro; João Ubaldo Ribeiro; Círculo do livro

* a "receita" original manda não temperar. Eu, particularmente, creio que um pouco de alho nunca fará mal. Sal, a meu ver, pode ser dispensado: o Shoyo assume, sem desaforos, o lugar do velho cloreto de sódio.

Tuesday, August 19, 2008

Rumo ao Bronze

No Brasil, bronze é ouro. Bronzeadamente hilário!!

>> Contrastes; Luiz Melodia; Estação Melodia
>> Viva o povo brasileiro; João Ubaldo Ribeiro; Círculo do Livro

Sunday, August 17, 2008

Chariots of fire


Dento do espírito olímpico, segue vídeo com o nobre Eirc Mossoumbani na prova de 100 metros livres durante a Olimpíada de 2000, em Sydnei. O Sr. Moussambani foi um nadador que representou seu país, Guiné Equatorial, durante os jogos do início do século XXI e, conforme consta, transcendeu o ideal do Barão de Coubertin: depois de ver os opositores queimarem a largada - e serem desclassificados -, Eric nadou sozinho na piscina.

A classificação do “guiné-equatoriano” ocorreu por meio de um convite do comitê olímpico para incentivar países em desenvolvimento. Desnecessário dizer que o desempenho do nadador foi muito ruim: o rapaz, que treinava em uma piscina de hotel - com 22 metros - nunca havia visto uma raia de 50 metros. Ao longo do vídeo, a impressão que se tem é de que ele irá afogar-se.

Apesar de tudo, o moço segue em frente e termina a prova - ainda que aos trancos e barrancos. Seu esforço, entretanto, é visto pela dupla de comediantes australianos “Roy and HG” como algo digno de pena.

Os comentários e piadas dos dois apresentadores são emblemáticos do século XIX. “Go Eric, go, hahahahaha...”, é o que de mais sutil se escuta ao longo dos cerca de quatro minutos do vídeo. Pelo teor da apresentação, vigem as teorias do “fardo do homem branco”, do colonialismo e - sem exagero - do orientalismo. Lamentável.

Ainda em 1895, Kipling - um dos mais ativos poetas do colonialismo - escreveu: “há sessenta e nove modos de se compor odes tribais, e cada um deles é correto”. O escritor inglês não era, necessariamente, um crítico do modelo expansionista então em voga e, ainda assim, entendeu que a diferença existente entre os cidadãos do mundo era algo benéfico. Ao nadar como um bufão, Eric demonstrou estar além de eventuais preconceitos ultrapassados e à altura dos antepassados guerreiros da Guiné.

Seu desempenho gerou grande interesse sobre a outra competidora da Guiné Equatorial - Paula Barila Bolopa -, que competiu na prova dos 50 metros livres. Infelizmente, Barila nadou também muito mal, conseguindo somente o recorde histórico pelo tempo olímpico mais lento para a prova.

Moussambani, porém, incentivado por seu feito, voltou para casa e treinou forte. Após conseguir o índice olímpico para disputar os jogos de 2004, teve a entrada na Grécia negada devido a problemas burocráticos com o visto. Em meros quatro anos, Eric conseguiu diminuir seu tempo para menos de 57 segundos. Infelizmente, tolhido pelas circunstâncias, viveu um momento “dead on arrival” - em inglês mesmo, aos moldes do colonialismo.

>> Island in the sun; Weezer; Weezer (Green Album)

>> Viva o povo brasileiro; João Ubaldo Ribeiro; (...)

Thursday, August 14, 2008

Knocking on Heaven's Door

Caros, em momento algo inspirado, escrevi o texto abaixo. Faz algum tempo: cerca de dois ou três anos, em período de grandes mudanças na vida deste "redator".

O trabalho é de pena própria e redigido como mensagem de Natal aos amigos do Rio de Janeiro. Portanto, perdoem inperfeições, eventuais amadorismos e a evidente ausência de modéstia:

"Os amigos desculpem-me, ando relapso. Explico a ausência: os estudos a que me propus - cerca de ano e meio atrás - são extenuantes e, de quebra, houve a estréia num trabalho pelas bandas do planalto central. Trabalho demais noutras paragens, a falta de comunicação é indesculpável por cá.

Vergonhoso. Não há de repetir-se, espero.

De minha parte, houve ainda um procedimento a firmar: não foi tarefa simples abandonar a cidade de São Sebastião e estabelecer-se na muy bela e heróica cidade de Brasília, ao centro do país.

Os prezados sabiam que o Cerrado traz reminiscências? Ora pois, é fato.

Imaginem aqueles senhores, cansados da má sorte, aventureiros à procura de fortuna no planalto central, recém-chegados ao inferno seco. Imaginem-se vestindo as roupas que os costumes obrigam.

Então, imaginem um dia clássico de primavera. Céu azul-azul, calor fulminante para quem veste terno, um convite excessivo à praia ou à mata, à sombra, uma esperança de chuva que pode vir lavar a alma no fim de tarde. É setembro na Chapada. E já que estamos nessa, imaginem voismicês, “estrangeiros” recém-chegados, família a tiracolo, um dia destes no alto do prédio do Congresso, o Memorial JK ao longe, o calor e as roupas quentes – então, um devaneio leva em direção ao Leblon, onde está, desaguando na praia, o Atlântico salgado.

Não importa a que hora, estão lá as meninas, por vezes muitas e lindas, mergulhando com gosto porque o trabalho do dia já se foi. Não há culpa, há sorrisos, e você de paletós e casacas neste paraíso tropical.

O carioca entende. É o caminho para o trabalho passando pela Vieira Souto, aquelas meninas todas de biquíni em Ipanema, aquela praia convidando à cerveja e ao mergulho salgado. Ô cidade, Deus do céu. Chegou época de o Rio ser um pouco mais Rio, de céu azul e tempestade, de cheiro de terra e maresia – e aquela mata no caminho de todo dia está um pouco mais verde. E, quando o Vento Sudoeste chega violento vindo do morro Dois Irmãos, um prazer de toque, o mesmo prazer de ver como fica morena a moça ao lado. De manhã escureço, de dia tardo, de tarde anoiteço, de noite ardo.

É, estou de volta - ainda que por parcos quinze dias - mas de volta, desejando Feliz Natal e Ano Bom, junto ao costumeiro abraço."

O texto foi escrito em momento de retorno ao Rio de Janeiro. Férias dezembrinas. Revisitação aos amigos cariocas e à parte do passado. Daí a emoção.

Infelizmente, descreve um Rio de Janeiro que não existe mais. Uma pena.

>> A flor e o espinho; Nelson Cavaquinho; Unknown
>> 1602; Neil Gaiman; Pannini Books

Sunday, August 10, 2008

Война

Lá no Blog do PD, o melhor relato que vi sobre os eventos na Ossétia. A despeito de análises geopolíticas, diplomáticas ou militares, o que mais se perde em uma guerra é a simplicidade da vida:

Um jornalista brasileiro, meu amigo do peito, esteve na Ossétia anos atrás. A situação estava tensa, com o Exército Russo dando proteção aos compatriotas e ossetianos amigos.

Junto com um colega europeu, acompanhando tropas russas que patrulhavam a área, ele se aventurou pelos campos a procura de aldeias e notícias. Loucos, esses jornalistas. Enfim, lá pelas tantas os dois entraram em uma espécie de paraíso na terra, segundo suas palavras:

Um bosque de macieiras brilhando na paz absoluta de uma tardinha agradável. No meio das macieiras, uma casa. Uma casinha, modesta. Dentro, o horror silencioso de um tipo de guerra que não sai nos jornais.

A casa estava vazia. Seus habitantes haviam fugido dos milicianos georgianos, deixando para trás suas terras, suas colheitas - e o avô. O ancião estava deitado no quarto, olhando para o teto, em profunda solidão.

No único móvel do quarto, uma cesta de frutas. Grande, generosa.

Como se os que partiram - e não levaram o velho, sabe Deus o motivo - estivessem pedindo : tratem bem dele, as frutas são prova de paz. Pelo menos, foi assim que meu amigo e o outro jornalista interpretaram tão insólito quadro.

Um pouco depois, tropas russas chegaram ao local e socorreram o idoso deixado para trás. Não havia sangue, gente estripada, queimada por bombas, ou outras barbaridades de uma guerra ”normal”. Mas doía da mesma maneira.

(...)

O oficial russo explicou que, na maior parte das vezes, a população daquela região tinha que abandonar suas casas às pressas, com a roupa do corpo - tendo que escolher entre levar uma criança ou deixar um velho doente para trás.

Fugiam andando. No máximo, uma carroça. Se não fossem rápidos, seriam fuzilados sem dó nem piedade. Guerra.

Imagine o que está acontecendo em campos iguais àquele atualmente. As maçãs vão apodrecer nas árvores"

>> Maps and Legends; R.E.M.; Reconstruction Of The Fables
>> 1602; Neil Gaiman; Pannini Books

Saturday, August 09, 2008

Gonzo Kitchen

"Ingredientes:
-mulher;

-bacalhau;

-espinafre;

-azeite;

-alho;

-cebola;

-batatas;

-sal;

-cerveja.

Modo de preparo:
Ponha a mulher na cozinha, com os ingredientes, e feche a porta. Tome cerveja durante duas horas e depois peça para ser servido. Complexidade mínima."

Bacalhau gonzo, à moda tupinambá,pois é.

>> Tarde em Itapuã; Gilberto Gil e Toquinho; Duetos
>> Eu fui Vermeer; Frank Wynne; Companhia das Letras

Sunday, August 03, 2008

21 Gramas

Prezados, acompanhem o valor do petróleo ao longo dessa semana: uma queda nos preços do óleo negro parece ser um dos elementos mais importantes no futuro próximo.

Conforme a cotação do óleo aproximou-se de $150.00, muito se discutiu acerca de como movimentos inflacionários iriam redefinir a economia global. Muito foi dito, também, sobre como os sauditas não desejam que tal perspectiva seja concretizada - uma grande recessão global não é do interesse da Casa de Saud. Dessa forma, espera-se que os sauditas pressionem os números para baixo.

O Reino da Arábia Saudita é um investidor pesado no mercado internacional, além de ser grande depositário em instituições financeiras, hedge funds e bancos privados ao redor de todo o planeta. Atualmente, o Rei Abdallah é o maior investidor individual - e líquido - em cena, tendo, assim, interesses e meios para administrar o preço global que escolher para o petróleo. Apenas como lembrete, vale ressaltar que existem, hoje, muitas instituições financeiras que não são governadas pelas leis européias ou norte-americanas. Totalmente livres, portanto, para funcionar ao arrepio dos sistemas mundiais de controle criados no pós-Segunda Guerra.

Malgrado os motivos que pressionarão o preço do petróleo para abaixo da linha vermelha, o valor hoje vigente - perto de $120.00 o barril - parece estar perto da zona de desconforto para muitos agentes no mercado. Grosso modo, o sistema tende a preferir um valor mais elevado.

De qualquer forma, um ajuste fino sobre o preço do barril é algo imbricado. Decerto, os Sauditas aparentam preferir um valor ao redor dos números atuais. Porém, muitas forças estão em atividade: caso o preço caia abaixo de $120.00, estaremos de volta à faixa onde o petróleo não é crítico para a economia planetária; caso o valor aproxime-se - ou ultrapasse - $150.00, então a crise estará em atividade novamente. Dessa forma, senhores, verifiquem vossos estoques de anti-hipertensivos: medir a cotação da commoditie pode recomendar corações fortes.

>> Eu tive um sonho; Kid Abelha; Acústico MTV
>> Rio das Flores; Miguel Sousa Tavares; Companhia das Letras

Friday, August 01, 2008

Iluminados Pelo Fogo

A Argentina vive período de sensíveis dificuldades políticas e econômicas. Sobretudo, o país atravessa momento de especial tensão devido aos fracassados esforços da Presidente Cristina Kirchner em busca da aprovação de sua lei de taxas aduaneiras para produtos agricultáveis. Além disso, o país enfrenta pressões inflacionárias, crescente débito e uma crise no setor energético. Não fosse pouco, o governo da presidenta Kirchner ainda lida com delicadas fraturas em sua sustentação política. A meu ver, em face desse conjuntura controversa, um eventual colapso argentino – nos moldes do ocorrido no governo de Fernando de La Rúa – traria implicações profundas ao continente latino-americano.

Grosso modo, a Argentina vem perdendo grande parte da relativa paridade que sempre manteve com o Brasil ao longo da história. Dado que são os maiores e mais ricos países do continente sulino, ambas as nações têm um passado de “vigilância” mútua. Entretanto, a balança de poder parece estar lentamente tendendo para o Brasil - e uma completa instabilidade portenha ameaça tornar permanente tal movimento.

O crescimento brasileiro nos anos recentes tem sido invejável: petróleo e políticas fiscais viáveis são apenas alguns exemplos. Ademais, a influência regional brasileira mostra-se em contínua e positiva expansão, particularmente nas fronteiras próximas e em relação à Uruguai, Paraguai e Bolívia – países encarados como “buffer states” pela Argentina e pelo Brasil. De forma genérica, Brasília e Buenos Aires tentam manter essas três nações livres de influência externa. Com algum desgosto, a Casa Rosada tem falhado em suas iniciativas de aproximação aos três Estados e o que se percebe é um fortalecimento verde e amarelo.

Somado a esses fatos, o Brasil tornou-se o maior investidor único na Argentina ao longo do último ano. Assim, parece-me que se os pampas quedarem-se envoltos em uma crise financeira, o maior beneficiado será o Brasil. No sentido de que tornar-se-iam facilitadas as compras de falidas empresas argentinas por parte de companhias brasileiras.

Um insucesso argentino, no entanto, não se daria isolado: aparentemente, o líder venezuelano, Hugo Chavez, atou-se ao destino de Buenos Aires quando decidiu subsidiar parte substancial do débito portenho. Se a Argentina realmente enfrentar uma crise financeira, a hoje instável economia “bolivariana” também decairia à reboque – e vice-versa: uma quebra em Caracas ameaçaria a estabilidade do débito argentino. Nada mais latino-americano do que nunca.

Dessa vez, no entanto, a diferença é que o Brasil demonstra estar pronto para assumir uma eventual liderança continental – o que configura uma enorme diferença no tabuleiro geopolítico. Com o colapso no Prata e o crescimento no Planalto, a geopolítica sulina deverá ser totalmente remodelada.

>> Speed of sound; Coldplay; Rádio Câmara
>> Blog do Lampreia ; ao que parece, o honroso ex-chanceler tupinanbá mantém um bom site na rede.